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Militares afirmam que tomaram o poder em Burkina Faso

Conflitos começaram neste domingo (23/01) com amotinação em quartéis e trocas de tiros. Descontentamento de militares e também da população ocorre principalmente por falha em combate à violência de grupos extremistas.

Depois de conflitos armados que começaram neste domingo (23/01), militares amotinados afirmaram que derrubaram o presidente Roch Marc Kaboré e tomaram o poder ao dissolverem o parlamento e a constituição de Burkina Faso, no oeste da África, nesta segunda-feira (24/01).

Em um anúncio feito em meio a outros militares em um canal estatal de televisão, o capitão Sidsore Kaber Ouedraogo disse que o Movimento Patriótico de Salvaguarda e Restauração “decidiu assumir suas responsabilidades perante a história”. E que pretende trabalhar para estabelecer um calendário “aceitável para todos” para a realização de novas eleições

As fronteiras de Burkina Faso foram fechadas, e os militares impuseram um toque de recolher que vai das 21h às 5h.

Com o golpe, os soldados puseram um fim à presidência de Kaboré, que foi eleito pela primeira vez em 2015 e reeleito em 2020 com a promessa de lutar contra terroristas que atuam no país.

Criticado por uma população cada vez mais atormentada pela violência de grupos extremistas islâmicos e pela incapacidade das forças oficiais de responderem à insegurança, ele teria sido deposto e preso pelos rebeldes.

Não se sabe ao certo o que ocorreu com Kaboré até o momento. Enquanto os rebeldes dizem que ele foi deposto e preso “sem qualquer violência física e que está detido em segurança, com respeito e dignidade”, o presidente publicou a seguinte mensagem no Twitter:

“Nossa nação está passando por momentos difíceis. Devemos salvaguardar a democracia. Convido aqueles que pegaram em armas a depô-las, no superior interesse da nação. É através do diálogo e do ouvir que devemos resolver as nossas contradições”, disse Kaboré em sua conta na rede social.

O partido do presidente denunciou uma tentativa de assassinato. Mais cedo, uma fonte havia afirmado à agência de notícias AFP que “o Presidente Kaboré, o chefe do parlamento (Alassane Bala Sakandé) e vários ministros estão nas mãos de soldados” no quartel de Sangoule Lamizana, em Uagadugu, capital do país.

Depois do anúncio feito na televisão, boa parte da população tomou as ruas de Uagadugu em celebração ao golpe.

ONU, África Ocidental e Estados Unidos condenam militares

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, por meio do porta-voz Stéphane Dujarric, pediu que os rebeldes deponham as armas. E pediu “total compromisso à preservação da ordem constitucional, a fim de encontrar soluções aos diversos desafios que o país enfrenta”.

A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Ecowas) também condenou o golpe. Em um comunicado, a entidade disse que tem observado os eventos com “extrema preocupação”. Devido a golpes militares, o bloco já suspendeu a participação de outros países, como Mali e Guiné.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos pediu a libertação imediata de Kaboré e outros funcionários do governo, além do respeito à constituição: “Queremos que todos os lados permaneçam calmos e busquem o diálogo como a melhor forma de resolver os problemas”, afirmou o porta-voz do departamento, Ned Price.

Militares amotinados em quartéis em Burkina Faso
Com soldados amotinados em quartéis, violência foi visível também nas ruas da capital Uagadugu

Um novo golpe quase oito anos depois

Ainda que fosse considerado um país estável politicamente entre as décadas de 1990 e 2000, Burkina Faso tem sofrido golpes de estado de tempos em tempos.

O atual presidente Roch Marc Kaboré foi eleito democraticamente em 2015 e empossado em 29 de dezembro do mesmo ano, pouco mais de um ano depois de o presidente anterior, Blaise Campaoré, ter sido deposto. Camporé, por sua vez, chegou ao poder por meio de um golpe militar em 1987.

Uma das premissas de Kaboré era lutar contra grupos extremistas islâmicos e jihadistas que assolam a região. Ataques ligados à rede terrorista Al Qaeda e ao Estado Islâmico mataram milhares de pessoas – e deslocaram em torno de 1,5 milhão.

Desde que a violência começou, em 2016, dezenas de militares também foram mortos. Apenas em dezembro, mais de 50 morreram em ataques de extremistas. Com isso, cresceu o descontentamento dentro dos quartéis – que foram tomados por rebeldes neste domingo – e também da população.

FONTE: AFP, REUTERS E ASSOCIATED PRESS

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Gomes

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