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Marinha argentina revolta parentes de desaparecidos

Relatives of the 44 crew members of the missing at sea ARA San Juan submarine react at an Argentine naval base in Mar del Plata, Argentina November 23, 2017. REUTERS/Marcos Brindicci ORG XMIT: MBH29

Familiares de militares afirmam que submarino estava mal conservado

tatí Leguizamón “se sentia como numa roleta russa” cada vez que seu marido entrava no ARA San Juan. Quando Germán Suárez precisou partir, despediu-se dele como se fosse a última vez.

Suárez é um dos 44 tripulantes do submarino que desapareceu há oito dias e que, segundo a Marinha argentina anunciou nesta quinta-feira (23), estava na mesma região em que uma explosão foi detectada.

“Não nos disseram que morreram, mas falaram que houve uma explosão e que estão a 3.000 metros”, afirmou Leguizamón. “Cada um tira suas conclusões. Eu não tenho mais esperanças.”

O sentimento de “roleta russa”, ela explica, é pelo mau estado de conservação e pela falta de manutenção das embarcações argentinas.

“Isso [a explosão do San Juan] é produto de 15 anos de abandono”, afirma.

“[O ARA San Juan] Não estava em condições de navegabilidade. Mandaram uma merda navegar”, disse. “Inauguraram um submarino pintado por fora em 2014, e nada mais.”

A culpa, diz ela, “é compartilhada entre o governo anterior e o atual”.

Leguizamón afirmou que, em 2014, a embarcação apresentou problemas para emergir, incidente contornado pela própria tripulação, segundo relato do marido dela. O caso não chegou a ser noticiado na época.

Advogada, ela disse que vai processar a Marinha argentina. “Não vão esquecer isso nunca.”

Logo após serem informados sobre a explosão, os familiares impediram que o resto do comunicado fosse lido pelo porta-voz da Marinha e começaram a quebrar a sala onde estavam.

Muitos parentes deixaram o local chorando. Alguns foram contidos por militares, enquanto uma mulher se jogou no chão. Ambulâncias foram enviadas para atender os familiares.

“Mataram o meu irmão, filhos da puta. Mataram o meu irmão porque o fizeram navegar numa lata velha”, gritou, sem se identificar, um parente que saía do local. “Mataram-no, mataram meu filho”, gritava ao lado o pai de um dos tripulantes.

Todos os familiares ouvidos pela reportagem criticaram o manejo das informações pela Marinha argentina. Eles acreditam que as autoridades já sabiam do ocorrido com o submarino muito antes do que informaram à imprensa e às famílias.

“Já sabiam da explosão há uma semana. E agora tudo o que levo daqui é uma foto do meu irmão”, disse sobre o tripulante Víctor Enríquez um homem que não quis dar o nome.

Muito emocionada, Jesica Gopar, mulher do tripulante Fernando Santilli, disse que tinha um “mau pressentimento que foi confirmado hoje”.

DESAPARECIMENTO

O submarino argentino ARA San Juan, com 44 tripulantes, está desaparecido desde o último dia 15. A embarcação estava em um exercício de vigilânciazona econômica exclusiva marítima argentina, cerca de 400 km a leste de Puerto Madryn, na Patagônia (sul do país). Ele regressava a sua base, em Mar del Plata, ao norte, quando as comunicações foram interrompidas.

O San Juan, de propulsão que combina motores a diesel (para uso na superfície) e elétrico (quando submerso), é uma arma de patrulha e ataque com torpedos.

Ele é um dos três submarinos à disposição de Buenos Aires. Integra a classe TR-1700, construída pela Alemanha a pedido da Argentina. Dois dos seis barcos desse modelo foram entregues, mas o programa não foi adiante. A embarcação irmã do San Juan, o Santa Cruz, está em atividade.

O San Juan foi completado em 1985, e passou por uma longa revisão para lhe dar mais 30 anos de vida útil que acabou em 2013. A Marinha argentina, como suas Forças Armadas de forma geral, passa por um processo de degradação acelerada há muitos anos. Possui 11 navios principais de superfície, 3 submarinos e 16 embarcações de patrulha costeira, entre outros.

A circunstância evoca uma tragédia ocorrida no ano 2000, quando o submarino nuclear russo Kursk sofreu uma explosão no seu compartimento de armas e afundou no mar de Barents —os 118 tripulantes morreram, muitos por asfixia.

“Devido à falta de informações, já esperava o pior”, afirmou.

Ela disse que havia falado com o marido pelo última vez antes de zarpar, em Ushuaia. “Falamos que nos veríamos logo e comemoraríamos o aniversário do nosso filho.” Estéfano vai fazer um ano de idade.

“Isso não vai ficar assim, tem de haver justiça. Eles saíram em uma navegação normal, como muitas que fizeram, e não vão voltar nunca mais”, disse Gopar, aos prantos.

 

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Gomes Oliveira

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