Ex-presidente explicará triplex em Guarujá, e militantes cogitam “queimar tudo” em Curitiba
O clima é de Fla-Flu, o maior clássico das arquibancadas do Rio de Janeiro. Mas o que promete ser o principal acontecimento desta quarta-feira (10) em nada tem a ver com futebol ou qualquer outro esporte.
Trata-se do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato na primeira instância. O interrogatório está marcado para às 14h em Curitiba (PR).
No encontro, o primeiro em que os dois ficarão frente a frente, Lula dará explicações a Moro sobre o suposto recebimento de propina da empreiteira OAS, por meio da compra de um tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo.
O armazenamento de bens do ex-presidente pela OAS, entre 2011 e 2016, também faz parte deste processo.
Do lado de fora, militantes do PT e grupos favoráveis ao ex-presidente esperam reunir 10 mil militantes para apoiar o ex-presidente. Entre eles, Dilma Rousseff, que deve desembarcar em Curitiba às 10h30 vinda de Porto Alegre (RS).
Já existe um grande acampamento montado na região central de Curitiba, com cerca de 5.000 pessoas. Organizado, o local tem uma grande cozinha, chuveiros dentro de contêineres e banheiros químicos, mas disputa espaço com composições de trem.
Por outro outro lado, os críticos de Lula e apoiadores de Moro também deverão se manifestar na capital paranaense, embora em menor número.
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De um lado ou de outro, porém, será difícil se aproximar da sede da Justiça Federal em Curitiba. Isso porque a PM (Polícia Militar) isolou a área e só vai permitir que moradores e jornalistas acessem o local.
Tocaia
Um grupo de 36 membros do Sindicato dos Metalúrgicos de Recife embarcou com a reportagem do R7 no voo de São Paulo à Curitiba. Esses membros saíram da capital pernambucana por volta das 15h em um voo até São Paulo e, de lá, embarcaram rumo ao Paraná.
Eles fazem parte de um grupo maior, de cerca de 500 pessoas, que deixaram a capital pernambucana rumo a Curitiba para protestar contra as acusações que recaem contra Lula.
Com faixas enroladas e bonés da CUT (Central Única dos Trabalhadores), o grupo aguardava um transporte para um hotel da cidade quando foi abordada pela reportagem. Um dos integrantes, que não quis se identificar, afirmou que inicialmente a ideia é seguir a programação pacífica desta quarta-feira.
Questionado, porém, se acreditava na possibilidade de o juiz federal mandar prender Lula, foi enfático: “Isso seria uma tocaia, uma emboscada. Se mandar prender, vai faltar gasolina nos postos de Curitiba, porque nós vamos queimar tudo”.
Adiamento
Previsto inicialmente para acontecer no dia 3, o encontro entre os dois nomes que, no momento, polarizam a opinião pública, está marcado para as 14h desta quarta-feira (10) no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em Curitiba. A defesa de Lula tentou adiar o depoimento, mas o pedido foi negado pelo juiz Moro.
O depoimento está cercado de polêmicas e expectativas. Primeiro, Moro pediu, em vídeo no Facebook, para que os apoiadores da Lava Jato não fossem até a porta do TRF-4. Houve ainda, a pedido da prefeitura de Curitiba, a proibição de acampamentos na cidade — o que não impediu a montagem de barracas em um terreno da União próximo à rodoferroviária da cidade. A Justiça, no entanto, autorizou a instalação de uma cerca entre o local onde os manifestantes acamparam e o pátio de manobras dos trens.
O acesso aos arredores do TRF-4 será exclusivo para moradores previamente cadastrados, jornalistas e pessoas credenciadas. Além disso, o atendimento ao público na sede da Justiça Federal foi suspenso nesta quarta.
Na noite de terça-feira (10), a defesa de Lula ainda recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pedindo o adiamento do depoimento e o impedimento de Moro.
Gravação
Os advogados de Lula pediram uma mudança na forma de gravação do depoimento. Eles queriam que a câmera não ficasse focada no ex-presidente — como é o normal nos depoimentos — e mostrasse também que o interrogasse. A defesa solicitou ainda fazer uma gravação própria do depoimento. Mas ambas as solicitações foram negadas por Moro.
“A câmara é focada no depoente, acusado ou testemunha, porque se trata do elemento probatório relevante e que será avaliado pelos julgadores das várias instâncias. […] Não há qualquer intenção de prejudicar o acusado ou sugerir a sua culpa com esse foco, tanto assim que o depoimento das testemunhas, que não sofrem qualquer acusação, é registrado da mesma forma”, disse o juiz em despacho.
Lula já falou ao juiz uma vez, em 30 de novembro. Na ocasião, que aconteceu por videoconferência, o clima entre os dois foi amistoso e cordial.
Sem disputa
Na segunda-feira (7), Moro disse que é o interrogatório de Lula é um ato natural dentro do processo penal e minimizou a expectativa de rivalidade entre os dois. “Não é um confronto. O processo não é uma guerra, o processo não é uma batalha, o processo não é uma arena”.
— Eu fico um pouco preocupado com toda essa expectativa em cima desse ato. É algo assim absolutamente normal dentro do processo. Por causa da Lava Jato, parece que eu sou juiz há três anos. Mas estou na carreira desde 1996, então já peguei vários processos, talvez não tão rumorosos, mas vários processos difíceis e igualmente interessantes.
Fonte: R7
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