Frente ao mesmo mês do ano anterior, queda de 12,4% é a maior em 12 anos
RIO – A produção industrial brasileira caiu 2,4% em novembro, frente a outubro, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE. Este foi o sexto mês seguido de queda e a maior baixa desde dezembro de 2013 (-2,8%). Na comparação com novembro de 2014, o recuo foi de 12,4% — 21ª taxa negativa seguida na comparação anual e a maior queda desde abril de 2009, quando foi de 14,1%. Já o resultado acumulado nos doze meses encerrados em novembro mostra um tombo de 7,7%. No ano, a retração é de 8,1%.
Quando se considera apenas os meses de novembro, a queda do ano passado foi a maior desde 2008, quando foi de 4,4%. Já o resultado acumulado do ano em onze meses é o pior desde 2009, quando foi de 9%. O desempenho em doze meses é o pior desde novembro de 2009, quando foi de 9,4%.
O resultado veio bem pior do que esperavam os analistas. A expectativa de economistas ouvidos pela Bloomberg News era de uma queda de 1% da produção frente a outubro e de 10,3% na comparação com novembro de 2014.
— Esse resultado completa seis meses seguidos de queda na produção, com perda acumulada de 8,3%. É uma novidade na série histórica da pesquisa, não se tinha visto ainda uma sequência tão grande de taxas negativas —afirma André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Macedo lembrou também que, no fim de 2008, uma sequência de três meses de queda — outubro, novembro e dezembro — gerou uma perda acumulada de 19,6%.
IMPACTO DE ACIDENTE E GREVE
O desempenho da indústria foi marcado por taxas negativas. Três das quatro categorias de uso ficaram em baixa, assim como 14 dos 24 setores pesquisados. O rompimento da barragem da Samarco em Mariana, em Minas Gerais, e a greve dos petroleiros influenciaram o resultado do mês de novembro, segundo o IBGE. A indústria extrativa caiu 10,9% frente a outubro e foi a principal influência para o resultado. Em seguida, veio o setor de produtos derivados de petróleo e biocombustíveis, com recuo de 7,8%. Houve impacto não apenas da extração, mas também do refino de petróleo.
O gerente do IBGE destacou o impacto do desastre de Mariana para o resultado de novembro. A indústria extrativa responde por 11% da indústria geral.
— O desastre ambiental de Mariana teve efeito importante para explicar a queda do setor extrativo, mas também houve influência da greve do setor petroleiro. O refino já vinha em desaceleração, até pela economia doméstica, mas a greve ocorrida aprofunda a queda — disse Macedo.
Cerca de um terço da indústria extrativa é a produção de minério de ferro pelotizado, outro um terço vem do minério de ferro em bruto e mais um terço é representado pelo petróleo.
Também tiveram influência no resultado de novembro as quedas de produtos alimentícios (-2,2%), produtos minerais não metálicos (-3,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-6%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-3,9%), produtos do fumo (-14,9%), outros produtos químicos (-4,4%) e outros equipamentos de transporte (-3,8%).
A produção de bens intermediários caiu 3,8% em novembro, frente a outubro, e foi a redução mais intensa entre as quatro categorias de uso. Desde fevereiro o segmento tem taxas negativas. Mas os bens de consumo duráveis também tiveram recuo forte, de 3,2%, a quarta taxa negativa. Nesse período, a perda acumulada é de 18,9%. Já a produção de bens de capital — um indicador de investimentos — recuou 1,6%: o ritmo menos intenso, mas a segunda queda seguida. Nos dois meses, perdeu 3,7%. O único segmento com alta foi de bens de consumo semi e não duráveis, de 0,4%, após queda de 1% no mês anterior.
PIOR RESULTADO DA SÉRIE
O tombo de 12,4% na comparação anual é o pior resultado para um mês de novembro da série histórica do IBGE, que nesse indicador começou em novembro de 2003. O perfil de queda é disseminado: todas as quatro categorias de uso, 24 dos 26 ramos, 68 dos 79 grupos e 76,4% dos 805 produtos pesquisados.
Nessa base de comparação, a maior influência veio da produção de veículos automotores, reboques e carrocerias, com queda de 35,3%. A pressão veio de automóveis, caminhões e outros veículos
Outros setores, no entanto, também tiveram forte impacto negativo, como coque, produtos derivados de petróleo e biocombustíveis (-12%), indústrias extrativas (-10,5%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-34,2%), entre outros.
Fábrica de motos da Honda, na Zona Franca de Manaus – Paulo Fridman/Bloomberg
Em um ano, a produção de bens de capital despencou 31,2%, acompanhada por um tombo de 29,1% dos bens de consumo duráveis. Já a produção de bens intermediários caiu 10,8% e a de bens de consumo semi e não duráveis, 4,8%.
A indústria sofre os efeitos do aumento da taxa de juros, que encarece o crédito e afeta setores como de automóveis e eletrodomésticos, que dependem mais fortemente de empréstimos. Além disso, as incertezas na economia inibem o consumo, que em última instância afeta a indústria.
Antes mesmo do período mais recente de crise da economia, no entanto, a indústria já não vivia uma fase áurea. O dólar baixo afetava a indústria tanto pela concorrência de produtos importados — que vinham mais baratos e acabavam conquistando a preferência dos consumidores e também da própria indústria, ao escolher seus insumos — e também pelo encarecimento das exportações. Com o real forte, os produtos brasileiros ficavam mais caros no mercado externo e perdiam espaço para itens de outros países, como os asiáticos.
Fonte: oglobo
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