Brasil

Indícios apontam 3 presidentes peruanos envolvidos na Lava Jato

Suspeitas de suborno recaem sobre Ollanta Humala, Alan Garcia e Alejandro Toledo

O presidente do Peru, Ollanta Humala, apontado pela Polícia Federal do Brasil como possível beneficiário de suborno pago pela construtora Odebretch, seria o terceiro presidente peruano mencionado na maior investigação de corrupção envolvendo construtoras brasileiras, políticos do país vizinho e o ex-ministro José Dirceu — aOperação Lava Jato.

As suspeitas de suborno envolvem não só o presidente Humala, mas também os ex-presidentes Alan Garcia e Alejandro Toledo, além do ex-ministro da Casa Civil do governo Lula no Brasil, José Dirceu, e pelo menos oito empreiteiras: Odebretch, Andrade Gutierrez, Engevix, Camargo Correa, Queiroz Galvão e Galvão Engenharia, OAS e UTC Engenharia.

Conexão Brasil — Peru

No dia 4 de agosto de 2015, a Polícia Federal cumpriu mandato judicial e apreendeu documentos, livros de contabilidade, telefones e computadorespromotor no apartamento 34-B da rua Amaral Gurgel 593, em São Paulo.

O imóvel pertence a empresária brasileira Zaida Sisson de Castro, funcionária do ex-ministro José Dirceu na empresa JD Consultoria, contratada com o objetivo de identificar oportunidades de negócios no mercado peruano, segundo declarações da própria Sisson, que recebia remuneração de US$ 5.000,00 mensais.

A empresária, nascida no Brasil, também possui cidadania peruana e é casada com Rodolfo Beltrán Bravo, ex-ministro da Casa Civil durante o governo de Alan Garcia. Beltrán também foi vice-presidente do Agrobanco e de uma estatal ligada a agricultura entre 2006 e 2011.

Os documentos apreendidos pela PF no imóvel trouxeram evidências de ações que beneficiariam as construtoras Galvão Engenharia e Engevix para obter importantes contratos com o governo peruano durante o segundo mandato de Alan Garcia. Sisson é apontada como elo entre José Dirceu, as construtoras e os governantes peruanos.

Primeiro presidente — Encontros Alan Garcia

Segundo “Manolo”, como é chamada a base de dados que registra as visitas realizadas ao gabinete da Presidência da República no Peru, a empresária Zaida Sisson, amiga da atual primeira-dama peruana Nadine Herédia, esteve pelo menos sete vezes no palácio de governo. José Dirceu esteve nove no Peru entre 2007 e 2011 e numa delas esteve no Palácio de Governo.

Das sete visitas, duas foram com Alan Garcia — nos dias 6 de outubro de 2006 e 23 de janeiro de 2007 — permanecendo nesta última por hora e 20 minutos no gabinete, entre às 18h50 e às 20h18

As outras cinco vezes foi recebida por Ricardo Pinedo Caldas, gerente de “Atividades do Despacho Presidencial” e por Mirtha Cunza Arana, secretaria do presidente.

Segundo presidente – Alejandro Toledo e a Lava Jato

Outros documentos apreendidos pela PF na construtora Camargo Correa durante a Operação Lava Jato, fazem referencia ao ex-presidente peruano Alejandro Toledo, suspeito de ter recebido suborno da construtora em troca da outorga do contrato das obras do “IV Trecho da Estrada Interoceánica”, que liga o Brasil ao Perú, durante seu governo (2001-2005). Toledo nega os fatos.

Segundo ele, o nome encontrado nos documentos seria o de um ex funcionário do MEF (Ministério de Economia e Finanças) e que está sendo processado na cidade de Ica, estado ao sul do Peru.

O ex-presidente Alejandro Toledo também é questionado por ter liberado mediante decreto as empresas Odebretch, Andrade & Gutiérrez, Camargo Correa e Queiroz Galvão dos quesitos obrigatórios do SNIP (Sistema de Investimentos Públicos) que rege as contratos entre o setor privado e a administração pública do Perú para executar os trechos 2,3 e 4 da estrada Interoceânica Sul, além de permitir que empresas com processos judiciais contra o Estado ganhem obras no país.

Terceiro Presidente – Ollanta Humala e a Operação Acarajé

Durante a execução de mandados de busca e apreensão na 23ª fase da Operação Lava Jato, chamada de Operação “Acarajé”, a polícia federal revelou ter achado uma planilha de pagos chamada de “Uso” arquivada desde 2012 no computador de Maria Lúcia Guimarães, funcionária da construtora Odebrecht na Bahia.

Nela foram encontrados os registros “Programa OH” e “três milhões de dólares” que, segundo a PF, seriam indícios de pagamento de suborno ao presidente peruano na época, Ollanta Humala.

No dia seguinte a esta divulgação, o governo peruano convocou o embaixador do Brasil em Lima Marcos Raposo “para expressar seu rechaço a essas afirmações”. Humala solicitou ao embaixador informações oficiais e negou qualquer envolvimento.

Mas a relação entre Humala e as empreiteiras brasileiras também passa pela rede de contatos da articuladora Zaida Sisson, que em 4 de agosto de 2015 teve documentos apreendidos no apartamento que mantém no centro de são Paulo.

Sissón, que em um primeiro momento negou conhecer Ollanta Humala, teve que admitir a relação de amizade após um jornal peruano publicar uma “selfie” na que a lobista aparece sorridente junto ao presidente.

Segundo a própria Sisson, ela a primeira vez que esteve reunida com Ollanta Humala e sua esposa Nadine Heredia foi “dois ou três dias antes das eleições de 2011”. Na reunião também esteve o brasileiro Marcos de Moura Wanderley, que na época representava no Perú a construtora Galvão Engenharia e mantinha uma relação afetiva com Rocío Calderón Vinatea, funcionaria do OSCE (Organismo Supervisor das Contratações do Estado) e ex-assessora da OAS. Já a selfie teria sido clicada a meados de 2014.

Na época do primeiro encontro e segundo a imprensa peruana, Humala era suspeito de ter recebido doações de campanha ilegais das construtoras brasileiras.

Fonte: R7

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