Rafael Silva de Oliveira, de 24 anos, confessou ter matado Benedito Cardoso dos Santos, de 42 anos, após discussão sobre política. Os dois trabalhavam no corte de lenha em uma chácara.
No Centro-Oeste do Brasil, mais um crime motivado pela radicalização política. Depois do assassinato do tesoureiro do PT, em Foz do Iguaçu, no Paraná, desta vez a Polícia Civil de Mato Grosso prendeu em flagrante um trabalhador rural bolsonarista que matou a facadas um colega, apoiador do PT.
Rafael Silva de Oliveira, de 24 anos, confessou ter matado Benedito Cardoso dos Santos, de 42 anos, na noite de 7 de setembro. Os dois trabalhavam no corte de lenha em uma chácara na zona rural de Confresa, a mais de 1.000 km de Cuiabá. Rafael Oliveira disse à polícia que eles discutiram política e cada um defendia um candidato à Presidência.
“Ele diz, em seu termo de interrogatório, que a discussão se deu em razão dele ser defensor do candidato Bolsonaro e o outro ser defensor do candidato Lula”, afirma o delegado Higo Rafael Ferreira de Oliveira.
Segundo Rafael, autor do crime, Benedito deu um soco na cara dele e pegou uma faca. Rafael teria tomada a arma e esfaqueado Benedito 15 vezes. Depois, Benedito ainda teria xingado Rafael, que o golpeou no pescoço com um machado.
Rafael foi preso depois ter procurado atendimento médico no Hospital Municipal de Confresa. Incialmente, ele disse que foi vítima de uma tentativa de roubo, mas como a polícia já sabia que um homem havia sido morto, esfaqueado em uma chácara, os policiais ligaram os fatos e Rafael acabou confessando. Ele foi preso em flagrante por homicídio qualificado por motivo torpe, mas o delegado não registrou o caso como crime político.
“A gente não entende que tenha havido um crime político em razão de um ódio ou de algo que venha a caracterizar um crime político. Houve um homicídio por motivo fútil e com a qualificadora do meio cruel, em razão de uma discussão sobre política. Que poderia ser uma discussão sobre futebol, que poderia ser uma discussão sobre religião, que poderia ser uma discussão sobre qualquer coisa”, diz o delegado.
A Justiça converteu em prisão preventiva a prisão em flagrante de Rafael. Na decisão, o juiz Carlos de Menezes afirmou que:
“Em um Estado democrático de direito, de que o pluralismo político é um princípio fundamental, torna-se ainda mais reprovável a conduta do suspeito. A intolerância não deve e não será admitida, sob pena de regredirmos aos tempos de barbárie e que a liberdade de manifestação do pensamento, seja ela político-partidária, religiosa ou outra, é uma garantia fundamental irrenunciável”.
Benedito trabalhava na chácara há menos de um mês. O corpo dele foi sepultado na manhã desta sexta (9) na cidade de Santana do Araguaia, no Pará.
“Chega nesse ponto aí de um querer saber mais que o outro e nenhum sabe de nada. Aí vai ao extremo e acontece esse tipo de coisa. Falta de uma consciência crítica, né? De ser mais humano, cidadão”, lamenta o irmão da vítima, Paulo dos Santos.
A diretora das Américas da Organização Internacional de Direitos Humanos Human Rights Watch, Juanita Estrada, disse que os candidatos deveriam insistir com seus apoiadores que respeitem as posições de seus adversários políticos e nunca recorram à violência.
Candidatos à Presidência da República repudiaram o crime e fizeram um apelo pela pacificação na política.
Lula, candidato do PT: “Qual é a orientação nossa? Terminou os comícios, vamos para casa. Vamos para casa abraçar a mulher, abraçar os filhos e esperar para o dia seguinte começar o nosso trabalho. Nós não temos a cultura da violência, a cultura da ignorância política, a cultura da antidemocracia. O que nos interessa é que no dia 2, às 19h, a gente tenha o resultado da eleição. É isso que nos interessa.”
Ciro Gomes, candidato do PDT: “Muita tristeza e muita preocupação. Tristeza porque mais uma pessoa, provavelmente inocente, incitada por essa polarização absolutamente odienta, despolitizada, morreu. Uma família ficou enlutada, amigos perderam seu amigo. É hora de paz, é preciso que a gente tenha serenidade. A política é ocasião de discutir os problemas e resolver as soluções para que, ao cabo dela, a gente possa se reconciliar.”
Simone Tebet, candidata do MDB: “O Brasil é um país de paz. Quer paz, quer união, especialmente na área da política. A política não é isso. Política é a arte de realizar sonhos das pessoas. Nenhum pai, nenhum filho pode mais dormir sem o seu pai, por uma briga por questões políticas. Nós vamos, com amor e com coragem, reconstruir o Brasil em outras bases.”
O candidato à reeleição pelo PL, Jair Bolsonaro, não se manifestou sobre o crime.
FONTE: JORNAL NACIONAL
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