Política e Economia

Golpe de 1964 é relembrado por ministros após veto de Lula a atos

Ao menos 8 dos 38 ministros fizeram referências ao tema em redes sociais, assim como Dilma Rousseff

Após o veto imposto pelo presidente Lula (PT) a eventos relativos ao aniversário do golpe militar, a data foi mencionada por ministros do governo e lideranças petistas nas redes sociais neste domingo (31).

Ao menos 8 dos 38 ministros fizeram referências ao tema em suas contas pessoais, assim como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Nesta semana são completados 60 anos do golpe de 1964, que deu início à ditadura militar marcada por reduções de liberdade, censura, torturas e assassinatos.

No início do mês, o governo Lula orientou ministérios a não realizar atos em memória da efeméride em meio a um esforço para distensionar as relações com as Forças Armadas e diante da polarização persistente no país. A orientação foi criticada por especialistas, historiadores, familiares de vítimas da ditadura e militantes dos direitos humanos.

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, se manifestou no início da tarde, quando escreveu longa mensagem a partir da pergunta: “Por que ditadura nunca mais?”.

No X, ele escreveu: “Porque queremos um país social e economicamente desenvolvido, e não um ‘Brasil interrompido’; Porque queremos um país soberano, que não se curve a interesses opostos aos do povo brasileiro; Porque queremos um país institucional e culturalmente democrático; Porque queremos um país em que a verdade e a justiça prevaleçam sobre a mentira e a violência”.

“É preciso ter ódio e nojo da ditadura, como disse Ulysses Guimarães”, completou, em referência ao discurso histórico do constituinte.

ministério comandado por Almeida havia planejado pedido de desculpas a vítimas da ditadura e ações para marcar a data, sob o slogan “sem memória não há futuro”.

Desde que se tornou ministro, Almeida já se referiu à ditadura militar como “essa página nefasta de nossas histórias [que] não deve ser esquecida para que nunca mais se repita”.

Paulo Pimenta (da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) fez uma publicação logo pela manhã com menção à ditadura e em defesa da democracia.

“Ditadura Nunca Mais! A esperança e a coragem derrotaram o ódio, a intolerância e o autoritarismo. Defender a democracia é um desafio que se renova todos os dias”, publicou ele no X (antigo Twitter).

Camilo Santana (Educação) também se manifestou. “Lembramos e repudiamos a ditadura militar, para que ela nunca mais se repita. A mancha deixada por toda dor causada jamais se apagará. Viva a democracia, que tem para nós um valor inestimável”, escreveu no X.

Sonia Guajajara (Povos Indígenas) afirmou que o período militar promoveu um genocídio dos povos originários. “Sabemos que a luta sempre foi uma constante para os povos indígenas, mas há 60 anos o golpe dava início a um dos períodos mais duros do nosso país. A ditadura promoveu um genocídio dos nossos povos e também de nossa cultura”, escreveu no início da tarde.

Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) lembrou nomes de vítimas do período. “Minha homenagem a todos que perderam a vida e a liberdade, em razão da ruptura da democracia no dia 31 de março de 1964, que levou o país a um período de trevas. Minha homenagem a Rubens Paiva, Wladimir Herzog e Manoel Fiel Filho, que lutaram pela democracia no Brasil”, escreveu ele no X.

Cida Golçalves (Mulheres) defendeu que o período jamais seja esquecido. “Neste 31 de março de 2024 faço minha homenagem a todas as pessoas presas, torturadas ou que tiveram seus filhos desaparecidos e mortos na ditadura militar. Que o golpe instalado há exatos 60 anos nunca mais volte a acontecer e não seja jamais esquecido”, afirmou no X.

Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) postou mensagens com referências à data. Ele não falou em ditadura, mas em sua mensagem, publicada no início da tarde, homenageou Dilma Rousseff, presa e torturada pelo regime militar. “Que a Luz da Democracia prevaleça, SEMPRE. Essa é a causa que nos move”, completou.

A ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) falou sobre a importância de lembrar a data e também fez uma homenagem a Dilma Rousseff. “Tenho um imenso orgulho de caminhar ao lado de uma mulher que enfrentou a ditadura. Temos um compromisso com mulheres como Dilma, Lélia González, Beatriz Nascimento e tantas outras mulheres que se colocaram a frente da luta pela democracia do nosso povo”.

A própria Dilma também se manifestou e disse que a história quase se repetiu no ano passado. “Manter a memória e a verdade histórica sobre o golpe militar que ocorreu no Brasil há 60 anos, em 31 de março de 1964, é crucial para assegurar que essa tragédia não se repita, como quase ocorreu recentemente, em 8 de janeiro de 2023”, disse no X.

“No passado, como agora, a História não apaga os sinais de traição à democracia e nem limpa da consciência nacional os atos de perversidade daqueles que exilaram e mancharam de sangue, tortura e morte a vida brasileira durante 21 anos”, afirmou.

As mensagens publicadas na internet contrastam com o posicionamento adotado por Lula diante da efeméride e explicitado em entrevista concedida ao jornalista Kennedy Alencar há cerca de um mês.

“Eu tinha 17 anos de idade, estava dentro da metalúrgica Independência, quando aconteceu o golpe de 64. Isso já faz parte da história. Já causou o sofrimento que causou. O povo já conquistou o direito de democratizar esse país. Os generais que estão hoje no poder eram crianças naquele tempo. Alguns acho que não tinham nem nascido”, disse.

“O que eu não posso é não saber tocar a história para frente, ficar remoendo sempre, remoendo sempre, ou seja, é uma parte da história do Brasil que a gente ainda não tem todas as informações, porque tem gente desaparecida ainda, porque tem gente que pode se apurar. Mas eu, sinceramente, eu não vou ficar remoendo e eu vou tentar tocar esse país pra frente”, afirmou Lula, acrescentando que “isso faz parte da gente construir o futuro do Brasil e não ficar apenas discutindo o passado”.

Márcio França (Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte), Luiz Marinho (Trabalho), Margareth Menezes (Cultura) e André Fufuca (Esportes) só fizeram publicações sobre a Páscoa.

O perfil oficial do PT fez publicações em que condena a ditadura, além de republicar perfis de parlamentares do partido que se posicionaram.

A presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann (PR), fez postagens relacionadas à Páscoa e uma homenagem a Lula e ao ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica durante a manhã do dia 31. Mais tarde no mesmo dia, ela fez postagens contra a ditadura e em defesa da democracia.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou ser “crucial honrar a memória daqueles que sofreram e resistiram durante esse período”. “A busca por justiça e verdade ainda é uma jornada contínua, renovando nosso compromisso em construir um futuro mais justo e democrático”, escreveu o deputado.

Já o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entusiasta confesso da ditadura que já se referiu ao aniversário do golpe como “dia de liberdade”, manteve o silêncio sobre o tema por enquanto. Nas redes sociais, ele postou uma mensagem sobre o domingo de Páscoa.

Bolsonaro já declarou apoio ao torturador da época Carlos Brilhante Ustra, a quem considera um herói nacional. Além de frases golpistas ditas ao longo de sua carreira como político, o ex-presidente é investigado por suposta participação em uma trama golpista para impedir a última posse do presidente Lula.

O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), general da reserva que foi vice de Bolsonaro, foi às redes sociais para elogiar o golpe. “A história não se apaga e nem se reescreve, em 31 de março de 1964 a Nação se salvou a si mesma!”, publicou no X.

Segundo pesquisa Datafolha, a maioria dos brasileiros quer que a data que marcou o início de 21 anos de ditadura militar no país seja desprezada. Pensam assim, de acordo com a pesquisa, 63% dos ouvidos em 19 e 20 de março. Veem motivo para celebração 28%, e 9% não souberam responder.

FONTE: FOLHA.COM –  FOLHA DE SÃO PAULO

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