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Empresas seguram demissões em meio à crise, mas pior pode estar por vir

Taxa de desemprego é o último indicador a reagir após uma crise. Foi assim em 2016 e deve se repetir com impacto da pandemia no mercado de trabalho

O mercado de trabalho formal segue reagindo em meio à crise do coronavírus, após registrar expressiva queda no saldo de vagas em abril e uma modesta recuperação em maio, como mostrou o Caged nesta terça-feira, 28. Essa tendência positiva, no entanto, pode ser revertida com o fim do programa de auxílio à folha de pagamento das empresas, estendido até setembro.

O resultado das demissões e contratações em junho superou as expectativas para o mês, com um saldo negativo de cerca de 10 mil vagas ante uma perda líquida da ordem de 300 mil no mês anterior e de mais de 900 mil em abril, pior mês da crise do coronavírus.

A reação positiva no mercado de trabalho, segundo o secretário Bruno Bianco pode significar que uma recuperação em “V” (mais rápida) é possível, como tem dito o ministro da Economia, Paulo Guedes. Para economistas, porém, essa expectativa pode ruir ainda neste ano:

“Com o fim do auxilio, teremos continuidade das falências, recuperações judiciais, inadimplência, que vão estar a toda no segundo semestre”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Essa deterioração do cenário, segundo ele ainda vai culminar num aumento importante do desemprego do atuais 13% para 17% em dezembro.

Diferentemente do Caged, a taxa de desemprego medida pelo IBGE a partir da Pnad Continua leva em conta trabalhadores informais e também quem está fora da força de trabalho.  “O desemprego ainda não apareceu, porque as pessoas pararam de procurar trabalho, ou seja,  saíram da força de trabalho, o que deixa a taxa mais baixa”, diz Vale.

A equipe econômica diz que acompanha o cenário “com lupa” e que pode lançar outros programas assim que necessário. Além disso, Guedes espera controlar grande parte da incerteza que haverá após o fim da ajuda federal com a desoneração da folha que deverá propor na próxima fase da reforma tributária, prevista para ser divulgada em agosto.

Segundo os economistas do governo, há ainda “medidas importantes para o incremento dos empregos” que podem ser divulgadas em breve e que beneficiariam o mercado de trabalho no longo prazo.

Desonerar a folha não basta
“Medidas do governo que ajudem a desonerar a folha e que incentivem o mercado formal sempre são interessantes, mas as medidas de curto prazo que a gente precisaria ter são medidas de crescimento, que melhorem a produtividade, ou seja, as reformas microeconômicas”, diz Vale.

O economista explica que o governo está gastando o que pode e o que não pode na politica fiscal e na monetária para tentar estimular a atividade, mas olhando num horizonte mais longo, a economia precisa de outros elementos para fazer crescimento acontecer.

Segundo Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), sinais de que a economia pode estar reagindo melhor do que o esperado à crise não significam que uma recuperação em “V”, como menciona o secretário do governo, mas, sim, que as previsões mais pessimistas, como a do FMI, que viu queda de 9% para o PIB brasileiro neste ano, não devem se concretizar.

Uma onda de revisões para o PIB deste ano pode ser vista também no Boletim Focus, que tem revisado para baixo a queda do PIB há quatro semanas seguidas, indo para 5,77% na última segunda-feira. “O próprio Ibre revisou de -6,4% para -5,5% sua expectativa para a retração da atividade. Mas, ainda assim, não devemos esquecer que é queda prevista para este ano é acentuada e terá consequências para o mercado de trabalho”, diz Balassiano.

Os empregos, sobretudo do mercado formal, reagem muito fortemente a mudanças na economia, ressalta o economista, e quando começar a haver melhoria, será pela informalidade, diz ele, como vinha acontecendo nos últimos anos, após o mercado de trabalho sofrer com a recessão de 2015 e 2016.

“O desemprego é a última variável a sair da crise. Prova disso é que, entre 2016 e 2019, período em que tivemos reformas, mas também muita instabilidade politica, a taxa caiu de 13% para 11,5% em fevereiro deste ano. Foi muto devagar e acho que vamos passar de novo por essa queda muito lenta nos próximos anos”, completa Vale.

FONTE: REUTERS

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