Metade da população da Síria foi forçada a fugir para outras regiões do país e para o exterior; a situação para os refugiados é terrível, segundo brasileira
No dia 15 de março de 2011, o exército da Síria reprimiu violentamente um protesto pacífico contra a prisão de um grupo de adolescentes que escreveram uma mensagem contra o presidente Bashar Al-Assad na parede de uma escola.
Teve início ali um conflito que até hoje parece muito distante de qualquer solução. Uma guerra que, em sete anos, fez com que 11,5 milhões de pessoas, cerca de metade da população da Síria, abandonassem seus lares.
Êxodo sírio
O país tem aproximadamente 6 milhões de pessoas deslocadas dentro do próprio território, segundo dados da Acnur — a agência de refugiados da ONU. Outros 5,5 milhões decidiram buscar asilo e proteção em outros países.
Jordânia, Turquia, Líbano, Iraque e Egito, que fazem fronteira com a Síria, foram os países que mais receberam refugiados. A Turquia sozinha abriga 3 milhões de sírios. Já no Líbano, estima-se que 1 em cada 4 habitantes seja refugiado.
A mudança para outro país não é a pior dificuldade enfrentada pelos sírios. Quando eles saem de sua terra natal, levam muito pouco do que possuem o que significa que eles chegam nos outros países muito pobres.
Os dados da Acnur apontam que entre os refugiados que vivem na Jordânia, 80% vivem abaixo da linha da pobreza. No Líbano, o número de refugiados miseráveis é de 60%, ainda assim um número assombroso. Essas pessoas vivem com menos de R$ 9,36 por dia.
Por conta disso, em 2017, mais de 700 mil sírios deslocados dentro e fora do país decidiram retornar para suas casas. Essas casas no entanto, não são as mesmas que foram deixadas.
Com uma guerra tão intensa durando tanto tempo — a guerra da Síria já dura mais do que a Segunda Guerra Mundial — cidades inteiras foram destruídas e as que restaram não contam mais com serviços como água ou eletricidade. Em Aleppo, não existem mais hospitais, segundo a Unicef.
Outra preocupação dos pais que retornam é a educação de seus filhos, já que uma em cada quatro escolas do país foram danificadas. A situação já é grave entre as crianças menores porque menos da metade das que já possuem idade para frequentar a escola sequer então matriculadas.
Mas o maior agravante é a situação de jovens que deveriam frequentar o ensino médio ou a universidade e não têm nenhum acesso à educação
Desesperança e traumas
A psicóloga brasileira Ionara Rabelo é veterana em atendimento a populações afetadas pela guerra. Atuando pela organização Médicos Sem Fronteiras, ela esteve duas vezes na fronteira da Turquia com a Síria, atendendo refugiados sírios.
— Quando estive lá, atendi crianças que durante anos passavam os dias em cavernas por causa da guerra. Ficavam escondidas e à noite iam pra casa comer. Nunca foram para a escola, nunca tiveram tranquilidade. Elas brincavam com os armamentos e já sabiam identificar até as munições. São crianças que crescem sem contato com amor ou tranquilidade.
Segundo Ionara, um problema muito sério é que, além de tudo, as crianças tinham acesso fácil a notícias terríveis, via celular. Com isso, a violência não apenas era parte do cotidiano como ficava banalizada.
— Quando acontecia algo, as pessoas recebiam vídeos e mostravam para as crianças. ‘Olha, seu pai morreu, sua casa foi bombardeada’. São crianças que mesmo que estejam fora da Síria, a guerra nunca estará fora delas. Elas tremiam e ficavam petrificadas quando ouviam o barulho de um avião, pensavam em bombardeio.
Os refugiados da região norte da Síria, apesar de não verem ainda um possível fim para o conflito, querem voltar ao seu país, segundo a brasileira. Mesmo com todo o horror e a destruição.
— A maior parte das famílias gostaria de retornar. A população rural vive no mesmo lugar há séculos, muitas vezes na mesma casa, então tem uma identificação, um interesse em ficar. Poucos eram os que pensavam em imigrar, buscar refúgio em outros países. E mesmo os que querem ir embora não têm passaporte, não têm dinheiro para buscar uma saída. É uma situação terrível.
FONTE: R7.COM
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