A síndrome de Haff, também conhecida como doença da urina preta, que apresenta sintomas após a ingestão de peixe ou crustáceo inadequados para o consumo, já foi identificada em pelo menos dois estados brasileiros da região Norte e sua incidência assusta os moradores de localidades vizinhas, como Rondônia. Atendo à situação, na quarta-feira (22), o Governo do Estado, por meio da Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa), emitiu um documento explicando os principais sintomas, como a síndrome se manifesta, e enfatizou que não há registros da doença da urina preta no Estado.
Eduardo Honda, coordenador do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), esclarece que as equipes, diariamente, mantêm contato com os municípios sobre possíveis relatos, além de estarem atentas às notícias que circulam no Estado relacionadas à doença. “Segunda-feira nos deparamos com um post de rede social de que havia uma pessoa internada em Porto Velho com a doença. Rapidamente identificamos que se tratava de fake news. O problema é que a população não tem conhecimento e fica preocupada”, disse.
O diretor-geral da Agevisa, Gilvander Gregório de Lima, ressalta que é importante que as pessoas observem com cuidado as notícias antes de compartilharem. “Tire um tempinho e analise a informação antes de enviar, para evitar pânico”, orienta. “Em relação à síndrome de Haff, temos a tranquilidade de reafirmar que não há casos registrados em Rondônia”, reforça.
De acordo com Maria Arlete Baldez, gerente epidemiológica da Agevisa, no ano de 2008 foram registrados surtos da doença envolvendo o consumo de peixes da Amazônia. No entanto, apesar do registro do problema de saúde relacionado ao consumo de pescado em municípios do Amazonas e Pará, em Rondônia não há nenhum caso confirmado ou em investigação da síndrome. “As vigilâncias epidemiológicas municipais estão acompanhando. As situações estão sendo monitoradas diariamente e tudo relacionado ao assunto é repassado ao Cievs Estadual”, afirma.
O secretário de Estado da Saúde, Fernando Máximo, lembra que até o momento não há nenhum caso registrado, nem suspeito da síndrome de Haff no estado de Rondônia. Entretanto, é importante ficar alerta para qualquer sintomatologia parecida. “Se a pessoa estiver com a urina escura, muitas dores musculares, dores abdominais ou tensão muscular muito intensa, tem que estar alerta. Apesar de não termos no estado de Rondônia, há casos nos estados vizinhos: temos casos confirmados no Pará, inclusive com óbito de paciente e também, no estado do Amazonas”, finalizou.
A DOENÇA
A síndrome de Haff é uma doença considerada rara, descrita pela primeira vez em 1924, por médicos da região de Kônigsberg Haff, na costa do mar Báltico, a partir da identificação de um surto da doença caracterizada por início súbito, grave rigidez muscular, frequentemente acompanhada de urina escura.
Causa – Relacionada a uma toxina ainda não identificada, associada à ingestão de certos peixes e crustáceos de água doce, geralmente cozido, sendo as principais espécies envolvidas: Lota lota, Anguilla anguilla, Esox sp., Mylossoma duriventre (pacu-manteiga) e outros. Também há relatos em aves marinhas e gatos mortos após ingerirem peixe. Não tem sabor ou odor incomum, é termoestável, não sendo destruída pelo processo de cocção.
Distribuição geográfica – Surtos fortes foram descritos na Suécia, antiga União Soviética, Estados Unidos, China, dentre outros. Em outubro de 2008 foi relatado um surto de 27 casos da doença, associada com o consumo de pacu-manteiga, colossoma macropomum (tambaqui) e Piaractus brachypomus (pirapitinga), peixes consumidos na região Amazônica.
Sintomatologia – Caracterizada por sintomas de rabdomiólise (necrose muscular), de início súbito, cerca de duas horas após a ingestão de peixe, com dor abdominal geralmente intensa, polimialgia progressiva (principalmente em membros inferiores), dor torácica, dificuldade para respirar, dormência, perda de força em todo o corpo, astenia, fraqueza muscular e urina cor de café. A doença causa dores musculares, lembrando a dengue, porém sem febre. Os sintomas costumam aparecer entre 2 e 24 horas após o consumo dos peixes ou crustáceos.
Diagnóstico – Baseia-se na suspeita clínica, história epidemiológica (ingestão de peixe de água doce nas 24 horas precedentes ao evento), e níveis elevados de marcadores de necrose muscular, particularmente mioglobina e creatinofosfoquinase.
Estudos e pesquisas – São necessários outros estudos para identificar a toxina envolvida e o mecanismo que induz à sua expressão, já que as espécies de peixes de água doce e crustáceos citados em todos os relatos são diariamente ingeridos por pessoas em todos os países em que foram descritos surtos, sem que ocorra o desenvolvimento da doença.
Notificação – Todos os casos devem ser notificados (doença inusitada/surto), com coleta de sangue e amostras do alimento ingerido (envio para referência).
Tratamento – A hidratação é fundamental nas horas seguintes ao aparecimento dos sintomas, para diminuir a concentração de toxina no sangue, o que favorece a eliminação através da urina. Nos casos graves pode ser necessário hemodiálise.
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