Brasil

Dispara a quantidade de brasileiros que desistem de viver no Brasil

Número de registros de saída definitiva do país cresceu 165% em um período de sete anos

A quantidade de pessoas que decidiram deixar o Brasil para viver em outro país cresceu 165% em um período de sete anos. Em 2011, 8,1 mil declarações de saída definitiva foram entregues à Receita Federal; em 2017, contudo, esse número mais que dobrou, e 21,7 mil brasileiros deixaram o país até 13 de dezembro (dados mais recentes).

O salto mais expressivo na debandada coincide com o auge da crise econômica no Brasil, de 2015 para 2016, quando o número de declarações entregues subiu mais de 40%. No ano anterior, o aumento tinha sido de 19% e, de 2013 para 2014, de 24%. Os números englobam tanto as saídas de brasileiros quanto de estrangeiros que residiam no país “Havia a expectativa de que a economia ia começar a melhorar e também um movimento xenófobo [no mundo], que poderia desacelerar esse processo [de saída do Brasil]. Mas as perspectivas para a política no ano que vem desanimam”, afirma Jorge Botrel, sócio da JBJ Partners, empresa especializada em empreendedorismo e expatriação para os Estados Unidos, lembrando que 2018 é ano de eleições no Brasil.

No escritório de Botrel, a demanda por assessoria para deixar o Brasil está aquecida. Em 2016, ele atendeu cerca de 60 clientes, dos quais 15 já foram embora do país. Em 2017, continua ele, já foram 120 atendimentos, e 25 desses clientes já embarcaram.

“Estamos falando de pessoas qualificadas. O perfil do imigrante não é mais aquele que vem com uma mão na frente e outra atrás. São altos executivos, que estão abandonando suas carreiras para abrir um negócio, pessoas com PhD. É um movimento triste, porque o Brasil está perdendo recursos”, destaca.

Botrel afirma que aqueles que procuram seus serviços são, normalmente, pessoas na faixa dos 30 aos 55 anos de idade, que se mudam com a família. “São casais com filhos pequenos que querem dar um futuro melhor para eles, muitos empresários”, conta.

Esse é exatamente o perfil do paraquedista Ronaldo Tkotz, de 36 anos. Depois de muito ir e vir, ele fincou o pé nos Estados Unidos em maio. E levou a esposa e os dois filhos: um menino de 4 anos e uma menina de 2 anos.

Outra brasileira que ganhou um empurrãozinho da crise para dar adeus definitivo ao país foi a executiva de vendas Bruna Lousada, de 30 anos.

Ela trabalhava em uma empresa que vendia equipamentos farmacêuticos importados no Brasil e sofreu pesado com a oscilação do dólar nos últimos anos. Diante desse cenário (e do término de um longo relacionamento), resolveu colocar em prática um plano antigo: procurar emprego no exterior, na sua área.

Bruna se mudou para a Inglaterra em julho de 2015 e, hoje, mora na cidade de Cambridge. Cidadã portuguesa, ela não precisou de visto – mas o investimento para conseguir a dupla nacionalidade foi de cerca de R$ 8 mil.

“No Brasil, trabalhei cinco anos na mesma empresa, sendo três deles na mesma função. Aqui, em um ano e meio já fui promovida três vezes”, emenda.
Imóveis no exterior

Os investimentos de brasileiros em imóveis no exterior quase dobraram de 2011 para 2016: de US$ 3,6 bilhões para US$ 6,1 bilhões, segundo dados do Banco Central.

Os Estados Unidos são o país preferido, onde foram aportados US$ 2,3 bilhões em imóveis no ano passado. Portugal vem em segundo lugar, com US$ 725 milhões, seguido de França, com US$ 589 milhões, e Itália, com US$ 290 milhões.

Matias Alem, fundador da Beyond Realty Group (BRG), que comercializa imóveis de luxo em Miami, no estado da Flórida (EUA), diz que a procura de brasileiros por apartamentos no tradicional destino de compras aumentou nos últimos dois anos.

“A gente mostra muito apartamento para brasileiros e vê profissionais qualificados se mudando para cá. Quem tem negócio grande no Brasil e não pode deixar o país também compra como segunda residência”, diz.

Os imóveis que ele vende custam, em média, US$ 5 milhões (cerca de R$ 16,5 milhões).

Tkotz ainda não tem casa própria nos EUA, mas está trabalhando no relacionamento com os bancos para conseguir crédito.

O engenheiro de formação, por outro lado, já aplicou uma boa quantia em um negócio próprio no país. O dinheiro que ganhou com a venda da empresa de autopeças da sua família, em 2014, foi usado para abrir uma escola de paraquedismo na cidade de Hollister, no estado da Califórnia. Segundo ele, a nova vida é difícil, mas recompensadora.

Os investimentos na empresa foram de US$ 450 mil, e cerca de US$ 100 mil foram usados para conseguir os vistos (grande parte dos vistos que dão direito a permanecer nos EUA exige aportes significativos para movimentar a economia do país).

Todo o processo para se mudar, facilitado porque Tkotz tem passaporte alemão, levou cerca de um ano.

“Cheguei a fazer sete planos de negócios para coisas diferentes no Brasil [de táxi aéreo a franquia de fast food], mas não tive coragem de investir. Aqui, me sinto como em uma pista de patinação: é só você dar um impulso que vai longe. Lá, me sentia com lama até a cintura, é uma dificuldade enorme para se mover de um lugar para outro. Não penso em voltar de forma alguma. Se tiver que sair daqui um dia, vou para a Europa”, afirma.

Bruna Lousada, formada em turismo e com MBA em marketing, diz que está juntando dinheiro para também montar seu próprio negócio.

Noiva de um português, ela pretende deixar a Inglaterra para abrir uma pousada com foco em atividades voltadas para qualidade de vida em Portugal, em 2019. Voltar para o Brasil não está nos seus planos. Pelo contrário: ela quer levar toda a família para viver na Europa – o irmão já foi, agora falta convencer os pais.

FONTE: G1.COM

 

 

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