Renda de trabalhador recua pela primeira vez após dez anos de ganhos
RIO – A taxa de desemprego medida pelo IBGE nas seis maiores regiões metropolitanas do país (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre) terminou o ano passado em 6,8%, no maior nível desde 2009, logo após a crise financeira internacional. Em 2014, ela havia sido de 4,8%, a mais baixa de toda a série histórica, iniciada em 2002. A taxa de dezembro ficou em 6,9%, frente aos 7,5% registrados no mês anterior e os 4,3% de dezembro de 2014. Esta é a maior taxa para o mês desde 2007. Os dados captados pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) refletem os efeitos do baixo crescimento da economia no mercado de trabalho.
A crise atingiu em cheio a renda do trabalhador brasileiro. Após dez anos de ganhos sucessivos, o rendimento médio caiu 3,7% em relação a 2014, para R$ 2.265,09. A última queda tinha sido em 2004. Todas as regiões tiveram perda, com destaque para Belo Horizonte (-4,6%), Rio (-4%) e São Paulo (-4%). A média anual da massa de rendimento mensal habitual para 2015 foi estimada em R$ 53,6 bilhões, apresentando a primeira retração anual da série (-5,3%).
– A queda pela primeira vez em dez a anos no rendimento médio real pode ser explicada pela forte demissão ocorrida na indústria, que tem os mais altos salários, puxando a média para baixo – explica Adriana Araújo Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Já o aumento de dois pontos percentuais na taxa média de desemprego do ano, de 4,8% em 2014 para 6,8% em 2015, é o maior de toda a série anual da pesquisa, iniciada em 2002, e interrompeu a trajetória de queda que ocorria desde 2010. Ao mesmo tempo, o desemprego manteve a tendência de redução na passagem entre novembro e dezembro, por causa da menor procura por emprego durante as festas de fim de ano.
– Nas duas últimas semanas de dezembro, temos queda acentuada na procura por emprego, fazendo com que o mês seja caracterizado por redução acentuada da população desocupada. Em razão das festas de fim de ano. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, temos o mesmo movimento do restante do ano, que é de queda na ocupação e aumento na desocupação. E também nas duas comparações temos crescimento da inatividade, o que contribuiu para a taxa de dezembro não ser mais alta – explica Adriana.
O anúncio da alta do desemprego sai no mesmo dia em que a Fundação Getúlio Vargas divulgou que a inflação medida pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) acelerou em janeiro para 1,14%, após alta de 0,49% em dezembro.
Em 2015, a média anual da população desocupada foi estimada em 1,7 milhão, contingente 42,5% superior à média de 2014, que foi de 1,2 milhão de pessoas, o que representa o maior crescimento desse grupo na série histórica. Por outro lado, a população ocupada teve uma redução de 400 mil pessoas, ficando em 23,3 milhões, recuando 1,6% em relação a 2014, quando haviam 23,7 milhões de pessoas empregadas. Este é o segundo ano seguido de queda da população ocupada em toda a série.
– Saímos de uma queda de mais de 11% da população desocupada entre 2014 e 2013 e passamos para um crescimento de mais de 42% no ano passado. Isso pode ser explicado pela combinação de dois fatores: a queda na renda levou mais gente que não estava no mercado a procurar trabalho e também as demissões – analisa Adriana.
MENOS TRABALHADORES FORMAIS
Caiu também o número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado. Eram 12,1 milhões em 2014 e passaram para 11,7 milhões no ano passado, recuo de 2,7% ou menos 329 mil pessoas trabalhando protegidas pelas leis trabalhistas. Esta é a primeira queda anual de toda a série histórica.
O nível de ocupação – proporção entre a população ocupada e a população em idade ativa – alcançou média de 51,9% em 2015, caindo 1,4 ponto percentual em relação a 2014 (53,3%). Essa foi a maior queda anual do indicador, que pode ser explicada pela redução da ocupação em 2015. O nível de ocupação das mulheres (44,3%) continua inferior ao dos homens (61%). Em relação ao nível de ocupação dos jovens de 18 a 24 anos, a proporção passou de 57,3% em 2014 para 53,8% em 2015 – queda de 3,5 ponto, levando o nível de ocupação desse grupo ao mesmo patamar de 2003.
Quando se olha a renda, houve retração em todas as formas de inserção no mercado de trabalho: empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado tiveram perda de 3,3%, empregados sem carteira no setor privado (-5,1%), militares ou funcionários públicos estatutários (-1,8%), trabalhadores por conta própria (-4,1%) e empregadores (-6,2%).
O movimento de queda também foi generalizado quando se observava a desagregação por grupamentos de atividade. A construção (-5,2%), o comércio, reparação de veículos automotores e de objetos pessoais e domésticos e comércio a varejo de combustíveis (-5,6%), os serviçosprestados às empresas (-5,1%) e a indústria (-4,2%) tiveram as principais quedas em 2015. Contudo, frente a 2003, prevaleceram os ganhos reais em todos os grupamentos, sobretudo naqueles com os menores rendimentos: construção (51,1%) e serviços domésticos (67,9%).
A pesquisa apontou disparidades entre os rendimentos de homens e mulheres e, também, entre brancos e pretos ou pardos. Em 2015, em média, as mulheres ganhavam em torno de 75,4% do rendimento recebido pelos homens, o que representou uma expansão de 1,2 p.p. frente a 2014(74,2%). A menor proporção foi registrada em 2007 (70,5%).
O rendimento dos trabalhadores de cor preta ou parda, de 2003 para 2015, cresceu 52,6%, enquanto o rendimento dos trabalhadores de cor branca cresceu 25,0%. Contudo, mesmo com esse expressivo crescimento em 13 anos, os ocupados de cor preta ou parda ganhavam, em média, em 2015, 59,2% do rendimento recebido pelos trabalhadores de cor branca. Destaca-se que, em 2003 essa proporção não chegava à metade (48,4%).
NÚMERO DE EMPREGADAS SOBE APÓS CINCO ANOS
De 2014 para 2015 a atividade de serviços domésticos teve aumento de 1,5% no contingente de ocupados, revertendo a trajetória de redução iniciada em 2010. Os demais grupos tiveram redução, sendo as principais quedas na indústria, -5,5%, e na construção, de -3,6%. A distribuição da população ocupada pelos diversos grupamentos não apresentou grandes alterações, sendo que as principais atividades eram comércio, reparação de veículos automotores e de objetos pessoais e domésticos e comércio a varejo de combustíveis (de 18,6% para 18,8%), serviços prestados às empresas (de 16,4% para 16,5%), educação, saúde, serviços sociais e administração pública (de 17,0% para 17,2%) e outros serviços (18,5% para 18,7%).
Segundo a técnica do IBGE, o aumento de empregados domésticos pode estar ligado às demissões em outros setores:
– O aumento da população ocupada de domésticos pode estar relacionado às dispensas que ocorreram no comércio e nos outros serviços. São pessoas que estavam empregadas nessas áreas e, ao ser dispensadas, podem ter recorrido ao trabalho doméstico – explica explica Adriana Araújo Beringuy.
A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, levantamento mais abrangente do IBGE, que contém informações de todas os estados brasileiros e do Distrito Federal, também mostra deterioração no mercado de trabalho. A taxa ficou em 9% no trimestre encerrado em outubro. Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, foi a décima vez seguida que a taxa de desemprego cresceu. O resultado é o mais alto da série, iniciada em 2012. No mesmo período de 2014, o desemprego estava em 6,6%. Já o rendimento real ficou em R$ 1.895, 0,7% a menos do que no trimestre encerrado em julho.
Fonte: oglobo
Add Comment