Relatos à PF apontam que esposa de amigo de Temer pagou em dinheiro vivo reforma da casa da filha do presidente
Depoimentos divulgados pela imprensa brasileira nesta sexta-feira (08/06) indicam que dinheiro vivo foi usado no pagamento da reforma da casa de Maristela Temer , filha de Michel Temer , e reforçam uma possível ligação do coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho , amigo de Temer, com a obra.
Um depoimento de um fornecedor da reforma à Polícia Federal (PF) e um extrato bancário ligam um depósito em dinheiro, no valor de R$ 56.500, a um contrato assinado pela filha de Temer, aponta a Folha de S.Paulo , que teve acesso ao material.
Segundo a Folha , o mesmo depoimento – de Antonio Carlos Pinto Júnior, dono da empresa Qualifac – indica que o pagamento em espécie foi efetuado a pedido da arquiteta Maria Rita Fratezi , mulher do coronel Lima, suspeito de intermediar propinas para o presidente.
A esposa do ex-militar teria insistido para p
agar em dinheiro vivo na loja. Pinto Júnior não aceitou a proposta, e foi feito, então, um depósito na conta corrente da Qualifac, que teria vendido esquadrilhas de PVC para a obra.
A reforma é alvo de uma investigação da PF por suspeita de que tenha sido financiada com dinheiro de propinas da JBS . Temer é suspeito de lavar o dinheiro com reformas de imóveis da família e em transações imobiliárias para tentar ocultar bens. O presidente nega as acusações.
Outros fornecedores da obra na casa de Maristela também declararam terem recebido em dinheiro vivo de Maria Rita, mas o extrato obtido pela Folha é o primeiro documento vinculando a prática de pagamento ao caso da filha do presidente.
Em outro depoimento citado pela imprensa nesta sexta-feira, o fornecedor Luiz Eduardo Visani declarou à PF que recebeu um total 950 mil reais em espécie na sede da Argeplan, empresa do coronel Lima.
Segundo Visani, engenheiro dono da construtora Visani Engenharia, os recibos e contratos foram feitos em nome da filha do presidente, a pedido da esposa do coronel Lima. Foi a primeira vez que um fornecedor da obra confirmou a investigadores detalhes sobre o envolvimento da Argeplan na reforma, destacou o portal G1 .
Visani afirmou que Maria Rita fez recomendações sobre cuidados durante a obra, incluindo a de que a casa fosse mantida limpa. O fornecedor afirmou nunca ter conversado com Maristela sobre o orçamento ou sobre a execução do contrato, citou o jornal O Estado de S. Paulo .
De acordo com informações obtidas pela PF, a obra na casa de Maristela custou 1,2 milhão de reais. Visani, por sua vez, estimou um valor de 1,5 milhão de reais. O depoimento e contratos e recibos apresentado pelo fornecedor contradizem a versão da filha de Temer, segundo a qual a reforma teria custado cerca de 700 mil reais.
O inquérito e o argumento de Maristela
As suspeitas relativas à reforma fazem parte do inquérito que investiga se houve fraude num decreto sobre o setor portuário. As autoridades investigam se o documento aprovado por Temer, que alterou as regras do setor dos portos, beneficiou a empresa Rodrimar em troca de propinas pagas ao partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB), liderado pelo presidente.
A PF investiga se o coronel Lima foi intermediário das propinas. Investigadores acreditam que o dinheiro provenha da JBS e de uma empresa contratada pela Engevix .
O inquérito foi aberto no ano passado com base nas declarações às autoridades de Joesley Batista , um dos donos do grupo JBS, entre outros executivos da empresa que assinaram acordos de delação premiada com a Justiça brasileira.
No início de março, o Supremo Tribunal Federal autorizou o levantamento do sigilo bancário de Temer. Foi a primeira vez que a Justiça brasileira determinou o levantamento do sigilo bancário de um presidente da República em exercício.
Ao depor à PF no início de maio, Maristela disse que Temer indicou o coronel para auxiliá-la na reforma da casa – no bairro Alto de Pinheiros, em São Paulo -, mas que a fez por conta própria. Ela disse ter recebido apoio financeiro da mãe e ter feito um empréstimo bancário.
Segundo a filha do presidente, a mulher de Lima a ajudou sem receber nada em troca. Maristela afirmou que a Argeplan, de Lima, não participou da reforma. O coronel já foi alvo de duas operações da Polícia Federal, tendo ficado preso por alguns dias após a última delas, em março.
FONTE: Deutsche Welle
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