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Delegado da Polícia Federal é suspeito de fraude no caso ‘Hélio Negão’

Investigação da Polícia Federal identificou o delegado Leonardo Tavares, lotado na Delegacia de Repressão a Crimes Previdenciários (Deleprev) no Rio de Janeiro, como o principal suspeito de tentar direcionar uma apuração de crime previdenciário para um alvo chamado “Hélio Negão”, o mesmo apelido usado pelo deputado Hélio Fernando Barbosa Lopes (PSL-RJ), amigo do presidente Jair Bolsonaro.

A possibilidade de inclusão indevida do nome em um inquérito foi o que motivou o ministro da Justiça, Sérgio Moro, a determinar uma apuração sobre o caso na segunda-feira, 9. Ainda não está claro para a Polícia Federal, porém, se o alvo da investigação era o próprio deputado ou um homônimo.

Nos bastidores da PF, as suspeitas são de que a inclusão indevida do nome em um inquérito teria como objetivo a queda do superintendente do órgão no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, como forma de fragilizar o diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo, indicado do ministro.

No despacho que autoriza a investigação, Moro citou “aparente inclusão fraudulenta do nome do deputado federal Hélio Negão em inquérito que tramita perante a Polícia Federal do Rio de Janeiro e que teria por objeto condutas de pessoa com o mesmo apelido”. Determinou, então, a “imediata apuração dos fatos no âmbito administrativo e criminal, com a identificação dos responsáveis”. O ministro ainda pediu para ser “mantido informado sobre os desdobramentos”.

O delegado Leonardo Tavares já respondeu a procedimentos disciplinares em razão de sua conduta na Polícia Federal. Em um deles, chegou a ser suspenso por ofender e “faltar com urbanidade” em relação a uma colega delegada.

Ele também já se envolveu em uma discussão dentro do gabinete de Saadi com outros funcionários. O episódio é alvo de uma apuração interna.

Segundo mapeamento feito pela PF, Tavares é ligado a um grupo do qual faz parte o delegado Victor Poubel, que tem longa trajetória na superintendência fluminense e, segundo colegas, almeja comandar a unidade regional da corporação.

O grupo também contaria com o delegado Hélio Khristian Almeida, que foi alvo de busca e apreensão por suspeita de atuar para despistar as investigações do caso Marielle Franco. A PF investiga se houve obstrução da Justiça neste episódio.

Valeixo, porém, indicou para a vaga na unidade do Rio o delegado Carlos Henrique Oliveira, atual superintendente da Polícia Federal em Pernambuco. Até agora, no entanto, ele não assumiu.

Um outro grupo que tenta assumir a Superintendência do Rio de Janeiro tem como candidato o delegado federal Alexandre Saraiva, atual chefe no Amazonas. O delegado teve uma aproximação com Bolsonaro no fim do ano e quase foi indicado para o Ministério do Meio Ambiente.

Procurados ontem por meio da assessoria de imprensa da Polícia Federal, os delegados Tavares, Poubel e Almeida não haviam se manifestado até a conclusão desta reportagem.

‘Rede de intrigas’

Dentro da PF, a posição de Moro de mandar investigar a inclusão indevida de Hélio Negão num inquérito foi vista como uma defesa das gestões de Saadi – já exonerado – e de Valeixo, que também deve deixar o cargo.

Para o grupo que está atualmente no comando da PF, a apuração do caso Hélio Negão será uma oportunidade de identificar de onde saíram “ruídos” que levaram a uma insatisfação do presidente com a atuação do órgão.

Conforme mostrou o Estado, Moro já disse a Bolsonaro que existe uma “rede de intrigas” que age para desgastar a relação dos dois. A “gota d’água” para o ministro foi a suspeita de que o nome de Hélio Negão foi incluído com este intuito, o que motivou sua primeira medida concreta.

Moro tem evitado comentar publicamente declarações do presidente sobre troca no comando da PF e trabalha nos bastidores para manter Valeixo.

A PF também já fez menção a “intrigas” em nota pública para negar interferências políticas do presidente no órgão. O tom diverge do adotado quando, também em nota, contradisse a declaração do presidente de que a saída de Saadi era por “questão de produtividade”. Na ocasião, disse que a troca já estava prevista e negou que estivesse relacionada ao trabalho do delegado à frente da superintendência. Segundo o Estado apurou, a nota irritou Bolsonaro.

O presidente também tem demonstrado incômodo com interpretações de que mudanças na PF têm como motivação possíveis investigações envolvendo sua família. Em declarações públicas sobre o assunto, ele já disse ser preciso “arejar” a PF.

Direção da PF não tem nome definido

saída de Valeixo é dada como certa na PF. No entanto, ainda não há uma data nem um nome definido para a sua sucessão.

Além da cúpula atual, dois grupos tentam conquistar o posto. O primeiro é liderado pelo delegado Anderson Torres, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, e conta com Alessandro Moretti, seu secretário adjunto no DF, e o superintendente regional da PF no Distrito Federal, Márcio Nunes. Esse grupo tem o apoio do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, e a simpatia do ex-deputado federal Fernando Francischini (PSL-PR).

O outro grupo é encabeçado por Alexandre Ramagem, atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que chefiou a equipe de segurança de Bolsonaro após a facada sofrida por ele durante a campanha eleitoral.

Ramagem também é próximo de Alexandre Saraiva, o nome defendido pelo presidente para assumir a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro no lugar de Saadi.

Correções
12/09/2019 | 10h16

Diferentemente do que constava no texto, a Abin é a sigla de Agência Brasileira de Inteligência, e não Associação.

FONTE: ESTADÃO CONTEÚDO

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