Conferência marca dez anos do pacto climático global e expõe o impasse entre países sobre metas, mercado de carbono e exploração de combustíveis fósseis
A 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP30) começou nesta segunda-feira (10), em Belém, com um misto de expectativa e frustração. Pela primeira vez realizada no Brasil, a conferência carrega um incômodo: muitas das promessas firmadas na última década voltam a ser repetidas, com poucos avanços concretos desde o Acordo de Paris, assinado em 2015.
Na COP21, 195 países concordaram em limitar o aquecimento global a menos de 2 °C, em relação aos níveis pré-industriais. Dez anos depois, o planeta segue no rumo de um aumento entre 2,3°C e 2,5°C, segundo projeções da ONU. A organização também alerta que 2025 deve ser o segundo ou terceiro ano mais quente já registrado.
As divergências entre grandes potências continuam emperrando o progresso. China e Índia sustentam que Estados Unidos e União Europeia devem assumir a maior parte do ônus financeiro e histórico pela poluição, devido à industrialização precoce. Já os países desenvolvidos cobram das economias emergentes compromissos mais rígidos, diante do volume atual de emissões.
A União Europeia pressiona por metas mais ambiciosas e imediatas nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e acusa a China de adotar objetivos “decepcionantes”. Nos Estados Unidos, a volta de Donald Trump à Casa Branca trouxe incerteza: o republicano retirou novamente o país do Acordo de Paris e mantém uma postura cética em relação ao aquecimento global e à transição energética.
O Brasil promete zerar o desmatamento ilegal até 2030. Entre agosto de 2024 e julho de 2025, foram desmatados 5.796 km² na Amazônia — queda de 11%, mas ainda equivalente a quatro vezes a área da cidade de São Paulo.
Outro impasse vem desde Paris: a regulamentação do mercado internacional de carbono. Faltam regras claras de auditoria e transparência, o que divide países entre os que pedem rigor e os que defendem flexibilidade.
O Brasil tem potencial para ser grande exportador de créditos de carbono, mas a ausência de um marco regulatório e de um órgão gestor para o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) bloqueia o avanço do setor e sua inserção internacional.
Promessa de “phase-out” emperra com avanço do petróleo
Enquanto se multiplicam discursos pela eliminação dos combustíveis fósseis (“phase-out”), o que vemos de realidade é o contrário. Países do Golfo expandem megaprojetos de petróleo e gás; EUA e Canadá aumentaram a produção; e o Brasil discute a exploração na Margem Equatorial.
No mês passado, o Ibama autorizou a Petrobras a realizar estudos e simulações na Bacia da Foz do Amazonas — etapa que antecede a possível exploração da região. O tema deve gerar confronto direto em Belém entre países defensores da eliminação total de combustíveis fósseis e os que alegam necessidade econômica.
Tratado Global do Plástico segue sem acordo
Outro tema que chega à COP30 sem consenso é o Tratado Global do Plástico, em negociação desde 2023. O acordo propõe medidas obrigatórias para reduzir a produção e incentivar a reutilização e reciclagem do material, combatendo a poluição em todo o ciclo de vida — especialmente nos oceanos.
Previsto para ser concluído em 2024, o tratado foi adiado após impasses entre grandes produtores de plástico e países que defendem metas mais rigorosas.
FONTE: SBT NEWS


























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