A atual situação política e econômica do Brasil virou assunto principal em qualquer botequim de bairro. O cidadão tem uma percepção clara que os governantes não conseguem ver, a de que caminhamos para o fundo de um poço que pode nos levar a uma situação análoga a de nossos hermanos argentinos. Mas enquanto vamos rolando ladeira abaixo, o Senado Federal protagoniza uma das mais lamentáveis cenas, o bate-boca entre dois de seus membros por interesses mesquinhos, os cargos na Mesa Diretora, que nada mais servem que um cabide de emprego para apaniguados ou para barganhas nas comissões. Aécio Neves, do alto de seus 51 milhões de votos, perdeu seu tempo, e parte do prestígio obtido durante a campanha presidencial, batendo boca com um dos mais sujos integrantes daquela Casa, Renan Calheiros. Se vivêssemos em um país minimamente sério, ele sairia do Senado arrastado, com as mãos algemadas e jogado em uma cela.
O Brasil está atingindo, aos poucos, um nível de maturidade, despertando do sono letárgico imposto principalmente pela falta de investimentos em educação que transformou o povo em um rebanho. Alguns garrotes começam a se rebelar, mas ainda estamos longe da independência e da real democracia. Precisamos nos livrar desse coronelismo, do voto do cabresto, dos Lulas, Dilmas, Renans e Sarneys que assombram e fustigam a alma dos brasileiros. Acordamos nesta quinta-feira com a notícia da 9ª fase da Operação Lava-Jato, que investiga a roubalheira na Petrobrás, operação esta que ainda não chegou ao Congresso. Já é esperado que quando isso acontecer, teremos um imenso acordo para salvar algumas dessas almas, enroladas até o pescoço em negociatas. Campanhas eleitorais custam caro, assim como apartamentos de luxo, carros, jóias e outros mimos.
O país precisa ser passado a limpo, não sei se o juiz Sérgio Moro será nosso Falcone, mas ele está fazendo sua parte. Não precisamos de instituições políticas, precisamos de instituições técnicas, independentes e que cumpram seu papel. Historicamente o Brasil enlameia seus heróis, por aqui tudo se nivela por baixo, essa é a máxima do Congresso Nacional, ninguém pode jogar pedras. Em passado recente, os então senadores Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho se engalfinharam em uma disputa pela presidência do Senado. Passaram a distribuir dossiês. Foi graças a isso que vieram à tona a fraude nas votações eletrônicas do Senado, o ranário da esposa de Barbalho e outras lambanças. A disputa pela Mesa Diretora, ao que tudo indica, nos levará a isso também. Antes do PT chegar ao poder, acreditava-se que tínhamos ali uma reserva moral, nos enganamos redondamente. Nos últimos anos ninguém realmente sério, preparado e comprometido com a sociedade ingressou na política. Estamos órfãos de líderes.
Ao mesmo tempo percebemos que velhos hábitos ainda fazem parte da vida do brasileiro médio, aquele que cobra honestidade da classe política, mas vende seu voto em ano de eleição, fura a fila, não devolve aquele troco que veio errado e se acha esperto. Para o Brasil mudar é preciso que as pessoas mudem. Estamos às vésperas do carnaval, daqui a pouco começam os campeonatos de futebol e todos ficam cegos. Por aqui, tudo acaba em samba, ou agora, em memes de Facebook. Todos riem, todos se revoltam, mas só na frente do computador. Ir para a rua, acompanhar as sessões das câmaras de vereadores, das assembleias legislativas ou do Congresso ninguém quer. Enquanto isso, nossa classe política continua lutando, mas só por seus interesses.
Vale lembrar só um pequeno detalhe, como diria Bertold Brecht, “o pior analfabeto é o analfabeto político”, com o aumento insano no preço dos combustíveis, tudo vai aumentar, inclusive a comida que vai para sua mesa. A matemática governista que aumenta o preço de um produto que está em queda em todo o mundo é voltada para atender os interesses de meia dúzia de produtores de álcool e tapar o rombo criado pelo próprio governo. O brasileiro trabalha quase o ano todo para pagar impostos, e você paga tudo duas vezes, planos de saúde quando tem o SUS, segurança privada quando deveria ser função do Estado, aposentadoria privada enquanto tem o INSS, educação quando tem a escola pública, pedágios quando tem IPVA. Por aqui está tudo errado, e só quem pode consertar isso é você.
Fonte: Alan Alex, jornalista e editor de Painel Político
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