Defensor de uma saída da UE mesmo sem acordo de transição, ex-prefeito de Londres confirma favoritismo no Partido Conservador para a sucessão de Theresa May
Confirmando o favoritismo, o ex-prefeito de Londres, ex-chanceler e ardoroso partidário de um Brexit a qualquer custo Boris Johnson foi eleito novo líder do Partido Conservadorbritânico e, consequentemente, sucessor de Theresa May comoprimeiro-ministro do Reino Unido. Com 92.153 dos 160 mil votos dos filiados do partido, Johnson derrotou o chanceler Jeremy Hunt na disputa interna e tomará posse amanhã, após audiência com a rainha Elizabeth II.
Com 66,3% dos votos, Johnson herda um partido governante e um país divididos, em uma crise em parte provocada por ele próprio, ao liderar uma ala dos conservadores que se opôs a qualquer acordo de transição para a saída da União Europeia que mantivesse vínculos entre o Reino Unido e o bloco.
O fracasso de May , que renunciou após falhar três vezes em aprovar no Parlamento o acordo que negociou com a UE, aprofundou essas divisões. A tendência é que elas se acentuem ainda mais conforme se aproxima do dia 31 de outubro, prazo que o Reino Unido tem para deixar a União Europeia, na qual ingressou em 1973.
Em um breve discurso logo após o anúncio oficial de sua vitória feito pelo presidente do Partido Conservador, Brandon Lewis, Johnson afirmou que pretende “energizar o país e garantir o Brexit no dia 31 de outubro”. Ele reforçou sua oposição a Jeremy Corbyn, líder da oposição trabalhista, que se posicionou em favor de um novo referendo sobre a saída do bloco europeu.
— Nós vamos entregar o Brexit e derrotar o trabalhista Jeremy Corbyn — disse Johnson.
Ele agradeceu a sua antecessora Theresa May, que sempre criticou, reconheceu que haverá questionamentos sobre sua eleição, mas afirmou que os britânicos “não estão assustados” com o Brexit, que foi decidido em um referendo em 2016, por 52% a 48% dos votos.
— Vocês parecem assustados? Vocês se sentem assustados? Eu não acho que vocês pareçam assustados — disse ele a integrantes do partido reunidos no Centro de Conferências Rainha Elizabeth.
Amanhã, após ser empossado pela rainha, Johnson se dirigirá a residência oficial do primeiro-ministro, no número 10 da Downing Street, onde começará a montar seu gabinete.
Sua escolha, entretanto, é tão polarizadora que diversos ministros do Gabinete de May,como Philip Hammond, da pasta das Finanças, declararam que pretendiam renunciar ou se demitir caso sua vitória fosse confirmada, juntando-se a um crescente exército de rebeldes que estão determinados a lutar para impedir um Brexit não negociado . Opositores no Partido Conservador não descartam nem aderir a uma moção de censura para derrubar Johnson.
O primeiro sinal claro de insatisfação com o governo que ainda nem se formou veio na quinta-feira, quando mais de 30 conservadores desafiaram as ordens do partido e ajudaram a aprovar uma medida destinada a impedir que o próximo líder forçasse uma saída da União Europeia sem acordo com o bloco e sem a aprovação do Parlamento.
Essa hipótese vinha sendo considerada publicamente por Johnson. Na semana passada, o Escritório de Responsabilidade Fiscal do Reino Unido divulgou uma estimativa que prevê uma dívida de 30 bilhões de libras esterlinas caso a saída sem acordo seja confirmada.
Incômodo com escolha indireta
A eleição de Johnson também não é bem vista por boa parte da população britânica, visto que apenas 160 mil membros do Partido Conservadorvotaram para elegê-lo — algo correspondente a menos de 1% dos britânicos. Isto porque, pelo regime parlamentarista, o primeiro-ministro é escolhido diretamente pelo partido do governo. A última eleição geral no Reino Unido, que deu origem ao Parlamento atual, ocorreu em 2017.
Boa parte dos outros 99% da população, entretanto, se sentem excluídos de um processo tão crítico que determinará o futuro do Reino Unido, gerando um amplo questionamento sobre os próprios fundamentos da democracia no país.
A disputa que elegeu Johnson resultou numa maior conscientização sobre a falta de representatividade da Câmara dos Comuns . A parcela de assentos de cada partido não corresponde à parcela de votos que recebe, o que resultou em mais pessoas — incluindo membros do Partido Conservador — pedindo uma revisão do sistema distrital simples, em que vence o candidato que obtém a maioria simples dos votos em cada distrito eleitoral. Os críticos dizem que ele favorece os partidos já estabelecidos, que têm uma base geográfica maior.
FONTE: O GLOBO
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