Reunião com John Bolton na casa do presidente eleito teve danoninho e apelo por ‘aproximação’
O Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton , chegou à casa do presidente eleito brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL), às 6h55 da manhã desta quinta-feira para uma visita sobre o futuro das relações com o Brasil . O americano estava numa megacomitiva de segurança com três carros pretos e outro prata, enquanto helicópteros da Polícia Federal sobrevoavam a área. Várias motos do Batalhão de Choque da Polícia Militar reforçaram o esquema.
elo Twitter, depois do encontro, Bolton destacou que ele, Bolsonaro e a equipe de Segurança Nacional do Brasil tiveram uma discussão “ampla e muito produtiva”. O assessor da Casa Branca informou que, em nome do presidente americano Donald Trump, convidou o brasileiro para visitar os Estados Unidos.
“Estendi o convite do presidente Trump para Jair Bolsonaro visitar os EUA. Nós esperamos uma parceira dinâmica com o Brasil”, escreveu Bolton na rede social.
Ao contrário do que era esperado, Bolton não disse se Trump comparecerá à posse de Bolsonaro em Brasília.
Também no Twitter, Bolsonaro classificou a reunião como “muito producente e grata”.
A equipe de segurança de Bolton começara a chegar ao condomínio Vivendas da Barra, onde mora Bolsonaro, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, às 6h13. Às 6h46, o deputado estadual Flavio Bolsonaro, eleito senador pelo Rio, também entrou no local. O futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o atual chanceler, Aloysio Nunes (PSDB), também participaram do encontro.
Bolsonaro recebeu Bolton em clima amigável e bateu continência ao ver o assessor da Casa Branca descer do carro. O conselheiro dos EUA disse que era um prazer encontrar o presidente eleito. Em seguida, Bolsonaro levou Bolton a uma informal mesa de café da manhã, sem toalha, na qual havia pães, queijos na bandeja de isopor, bolo, água de coco de industrializada e potinhos de iogurte danoninho.
Bolsonaro apresentou-lhe o general Fernando Azevedo e Silva, futuro ministro da Defesa, que também estava no encontro. Por sua vez, Bolton deu parabéns a Flavio Bolsonaro pela “reeleição”. O deputado estadual do Rio assume em 2019 cadeira no Senado.
O general Augusto Heleno, escolhido por Bolsonaro para comandar o Gabinete de Segurança Institucional, também estava presente. Ele se sentou ao lado do presidente eleito na mesa em que ocorreu a reunião com a delegação americana e disse a Bolton e seus assessores que Brasil e EUA devem reforçar seus laços bilaterais devido às proximidades “geográficas e geopolíticas” entre os dois países.
—Temos que nos aproximar. Isso parece muito importante — disse o general Heleno.
Bolton veio ao Rio numa escala da sua viagem a Buenos Aires, onde participará da cúpula do G-20. A delegação americana era composta pelo diretor de imprensa Garrett Marquis, o diretor do conselho para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Mauricio Claver-Carone, o diretor para o Brasil, David Schnier, e o encarregado de negócios no Brasil Bill Popp (funcionário responsável por chefiar missão diplomática na ausência do embaixador). Às 8h, Bolton e sua comitiva saíram do condomínio de Bolsonaro. O encontro durou exatamente uma hora.
Embora rápida e discreta, a visita de Bolton provocou certo tumulto adicional na vida dos vizinhos de Bolsonaro. Moradores precisaram atravessar o reforçado esquema de segurança para levar os filhos à escola, começar um dia de trabalho ou dar um passeio na praia.
Bolsonaro deixou o condomínio às 8h30 e seguiu rumo a um evento na Vila Militar do Rio de Janeiro, para acompanhar a formatura na Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais.
Visita-chave para relações Brasil-EUA
Entre os prováveis temas mais quentes previstos para a reunião de Bolton e Bolsonaro estavam a crise humanitária na Venezuela; a expansão da presença chinesa na América Latina; e os planos do futuro governo de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv a Jerusalém, confirmados nesta semana pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em visita a Washington.
O breve encontro é crucial para o futuro das relações entre EUA e o novo governo brasileiro. A viagem pode dar o tom e confirmar se a proposta de “namoro” entre os dois governos pode prosperar. Bolsonaro — chamado por parte da imprensa internacional de “Trump dos trópicos” — nunca escondeu admiração pelo presidente americano. Por sua vez, a Casa Branca elogiou a eleição do brasileiro, considerada “uma boa notícia” para a região.
Bolsonaro tem indicado que pode seguir algumas das medidas mais polêmicas de Trump, como mudar a embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e abandonar o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas.
O debate sobre uma estratégia única para a crise humanitária venezuelana e a tentativa de ampliar o comércio entre os dois países são partes da agenda comum. Os americanos ainda querem tentar reduzir a crescente influência chinesa na América Latina, enquanto o futuro governo quer atrair investimentos para o Brasil.
Fontes da Casa Branca afirmam que, apesar do manifesto interesse mútuo entre os dois países de ampliar laços — motivados por identificação ideológica —, há um ceticismo no lado americano. Assim, a visita de Bolton terá um caráter exploratório e pode definir o futuro do relacionamento bilateral. O Brasil está longe de ser prioridade em Washington, mas fontes oficiais admitem que, pelo posicionamento ideológico, pela crise da Venezuela e pela guinada à esquerda do México com o novo presidente Andrés Manuel López Obrador, o Brasil pode ter uma importância maior.
FONTE: O GLOBO
Add Comment