Uma série de ataques com ácido contra mulheres na cidade turística de Isfahan provocou protestos que não se viam no Irã desde 2009, após a reeleição do então presidente Mahmoud Ahmadinejad, e dispararam o alarme em relação à intolerância dos radicais. A gravidade da situação, com quatro mulheres agredidas no último mês, segundo a polícia, e mais de uma dezena, segundo ativistas sociais, provocou uma enorme crítica social e protestos convocados nas redes sociais, apesar dos esforços do governo para reprimi-los.
“No sábado, na Praça Fatemi [em Teerã, onde fica a sede do Ministério do Interior], havia milhares de policiais, agentes de inteligência, homens à paisana e dezenas de caminhões para levar os detidos”, disse à agência EFE um ativista que pediu para não ser identificado. Segundo ele, os protestos contra o uso de ácido causaram muito medo nas autoridades. “Não se via este desdobramento de forças e este ambiente nas ruas desde 2009”, lembrou. O governo tomou medidas para diminuir a tensão: duras penas aos ataques, proibição de manifestação e controle exaustivo dos meios de comunicação – com a detenção de pelo menos um fotógrafo e vários internautas, além de controle dos conteúdos – para impedir que a ira se estendesse.
No sábado passado foram detidas 40 pessoas que participaram das convocações para a manifestação na capital, segundo sites de jornais locais. Segundo defensores dos direitos das mulheres, os ataques com ácido estão relacionados com as campanhas para “preservar a moral e afastar o vício” promovidas por fanáticos religiosos, intolerantes às mulheres que não usam véu, consomem bebidas alcoólicas ou usam maquiagem. Nas últimas semanas, o conservador Parlamento do país debate uma lei que tem como objetivo proteger quem se dedica a censurar na rua as mulheres que “não estão suficientemente bem cobertas”, algo que também causou descontentamento dos grupos de direitos civis.
Nos últimos meses, se multiplicaram os protestos dos mais extremistas exigindo do governo e da polícia que tomem medidas contra as mulheres que usam maquiagem excessiva, cabelo ou os antebraços levemente descobertos, ou até mesmo o corpo coberto, mas com uma roupa apertada que destaca suas formas. As autoridades se posicionaram firmemente contra os ataques e prometeram detenções e duras represálias, como o anúncio feito no último domingo pelo presidente do país, Hassan Rohani, de que haveria pena de morte para os que promovessem esses ataques. O porta-voz do Poder Judiciário, Gholam Hossein Mohseni Ezhei, reconheceu nesta semana que ninguém foi identificado ou detido pelos ataques, mas garantiu que se trata apenas de um indivíduo e que as agressões não foram orquestradas por uma organização.
“Eu não tenho provas concretas que demonstrem que o hijab [véu islâmico] está relacionado com os ataques, mas, em qualquer caso, o governo é responsável por proteger a vida e a segurança de todos os cidadãos, e isso é o que reivindicamos”, declarou a advogada e defensora dos direitos humanos Nasrin Sotoudeh, uma das detidas ao se manifestar no último sábado em Teerã. Os familiares das vítimas evitam comentar os casos devido às consequências que isso possa acarretar. “Ainda estamos em estado de choque. A única coisa que importa neste momento é a saúde da minha irmã, seus olhos e seu corpo”, disse Parviz Jourkesh, irmão de uma das agredidas, que sofreu queimaduras severas no rosto e perdeu totalmente a visão de um olho, ficando com apenas 70% de visão no outro.
Nas redes sociais as críticas aumentaram, com hashtags no Twitter como #AcidAttacks com a qual muitos, principalmente mulheres, condenam o extremismo e divulgam fotos das horríveis deformações de vítimas do ácido. Alguns chegam a comparar o regime iraniano à forma de agir dos jihadistas do Estado Islâmico (EI).
Fonte: VEJA
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