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ARTIGO POÉTICO: Bianca- Por Alberto Ayala

Nem todas as esposas são boas. Nem todas as amantes são más. Todos nós cometemos erros e nos dedicamos ao julgamento por diversas vezes.

Eles dizem que estou louca e que a minha arte é uma desgraça. Que a minha voz é perdição. Que o meu olhar é terrível para os mais inocentes. Evitam me cumprimentar e quando saio nas revistas ou nos jornais, me descrevem como insana e absolutamente profana. Sei que fazem fofoca de mim. E reconheço que muitas vezes dei motivos para tal. Afinal, fui amante. Fui enganada e enganei também. E tenho que lidar com a fama de imoral. O peso que maltrata muitas mulheres na sociedade.

Prostituta? Sim. Eu fui. E me arrependi de acreditar nas falsas promesas daqueles homens tão elegantes e mentirosos. Eles não iriam se casar com uma mulher da vida. Não. Eu já sabia disso, mas continuei fazendo o papel da sedutora. A sedutora mais amargurada quando ninguém estava por perto. Chorava. Gemia de aflição. E fumava. Minha mãe dizia que não gostava de me ver fumando. Isso quando ela era viva e me tratava com amor. Depois que perdi a virgindade com um tio distante, fui expulsa de casa. Humilhada. Os familiares viraram as costas. Até os mais religiosos. Não houve misericórdia. Me deparei com a dura verdade da vida. Me vi sem apoio. Entregue ao horror existencial.

Amo escutar músicas românticas. E sim. Sou romântica e acredito no amor. Nas bênçãos do amor que nos fazem sorrir sem falsidade. Muitos me viram nua, dançando, sensualizando enquanto me beijava com outras mulheres. Não sou lésbica. Mas tudo aquilo que vivia no cabaret fazia parte do show. Tinha roteiro. Brincava com o poder do meu corpo sem medo do amanhã. Fiz sexo com mais de duzentos homens, mas nenhum deles era o que eu queria ao meu lado quando fosse acordar pelas manhãs. Não. Estranho dizer isso. Eram homens lindos, ricos e intelectuais. Mas a beleza não é tudo quando buscamos além da atração física.

Vento fraco. As janelas da minha mansão estão abertas. Acabei de tomar um chá quentinho com os deliciosos biscoitos que a dona Matilde preparou para mim com muito amor.

Ainda sou criticada. Julgada. Inúmeras mulheres me odeiam e já pedi perdão para todas. Não é fácil saber que vão te rotular como prostituta até os últimos segundos na Terra. Porém, hoje em dia, me sinto leve, inspirada e mais forte.

Sim. Eu errei. Mas aqueles homens sabiam o que estavam fazendo. E aquelas mulheres sabiam que os seus maridos cometiam adultério. Mais tarde, descobri que muitas delas também foram infiéis, assim como os respectivos companheiros. E eu não quis acusá-las para me sentir superior, vingada. Não.

Acho terrível buscar diminuir outra mulher.

AUTOR: ALBERTO AYALA –  FOLHA RONDONIENSE

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