Cultura

A arte como ferramenta de proteção e preservação dos povos indígenas

Por meio do cinema, os indígenas estão tendo a oportunidade de recontar sua própria história e de mudar o estereótipo criado pela sociedade

Em meio à crise humanitária do povo Yanomami, percebe-se a importância dos registros e denúncias por parte das comunidades indígenas que vêm sofrendo com a dizimação de seu povo. E a arte, por meio da linguagem cinematográfica, é uma das ferramentas de aliança para preservação da cultura e também de pedido de socorro. Cada vez mais os povos indígenas estão contando a própria história com a elaboração de filmes e documentários.

Por meio do cinema, os indígenas estão tendo a oportunidade de recontar sua própria história e de mudar o estereótipo criado pela sociedade. Já que se trata de uma linguagem que promove discussão e reflexão aos que assistem. Nos últimos 15 anos, o audiovisual brasileiro tem dado espaço às expressões indígenas, como forma de demarcação das telas, termo muito usado por Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista e escritor.

Quando se fala em demarcar a tela, se trata de um diálogo com o audiovisual, pois a tela é a arte. E nos últimos anos vem sendo possível ver a presença de produções indígenas em bienais, mostras e festivais nacionais e internacionais. Dessa forma, as pautas são trazidas para o centro da discussão.

Os jovens indígenas estão assumindo as câmeras e ilhas de edições como mais uma flecha pela luta do dia a dia, pela afirmação da identidade e pelo seu lugar. O cinema indígena traz uma ferramenta de luta pela defesa do território.

Entre as importantes produções cinematográficas do Brasil vale citar o documentário “A última floresta”, que retrata o cotidiano da tribo Yanomami e a luta dos integrantes para preservar-la. Direção de Luiz Bolognesi, o filme ganhou o Prêmio Platino 2022 de melhor documentário.

“A Última Floresta” mistura documentário e ficção, denunciando garimpos ilegais e o desmatamento da floresta. O roteiro foi coassinado pelo xamã e ativista Davi Kopenawa Yanomami. Os atores foram os próprios indígenas.

No documentário, o xamã Davi Kopenawa Yanomani tenta manter vivos os espíritos da floresta e as tradições, enquanto a chegada de garimpeiros traz morte e doenças para uma comunidade, que fica localizada em um território Yanomani, isolado na Amazônia. Os jovens ficam encantados com os bens trazidos pelos brancos; e Ehuana, que vê seu marido desaparecer, tenta entender o que aconteceu em seus sonhos. A produção está disponível na Netflix.

Outra produção que retrata a realidade dos povos originários e que recebeu premiações divertidas é “A Febre”, de Maya Da-Rin. O filme retrata a história de Justino, que trabalha como vigia em porto de cargas, e desde a morte de sua esposa tem como companhia sua filha Vanessa, que é enfermeira no posto de saúde. Ao ser aceita para estudar medicina em Brasília, Vanessa deve se mudar em breve. Com a notícia da partida da filha e a distância de sua aldeia, de onde partiu há mais de 20 anos, Justino já não se sente tão bem.

O filme é praticamente todo falado em tukano, uma língua-franca falada entre os povos do Alto Rio Negro, na Amazônia.

A produção recebeu aproximadamente 30 prêmios e foi selecionada para ser exibida em mais de 60 festivais ao redor do mundo. Na sua estreia mundial, no Festival de Locarno, na Suíça, “A Febre” levou três prémios para casa: o Leopardo de Ouro de Melhor Ator, para Regis Myrupu, o prémio da crítica internacional FIPRESCI e o prémio “Ambiente é Qualidade de Vida” .

O longa-metragem “Eu nativo”, lançado em 2022, pela URP Filmes, faz uma reflexão sensível sobre os indígenas, que são retratados a partir de sua condição real de cidadãos brasileiros.

O documentário faz uma incursão nas aldeias indígenas, com o objetivo de mostrar como são os nativos, a partir de suas próprias narrativas, acerca das capturas pessoais e sentimentos sobre a condição em que vivem dentro de suas comunidades.

Os relatos abordam questões como o preconceito da sociedade em relação a eles, e como se sentiu, diante da ocorrência de que vem desde a idade escolar. Eles também questionam a presença de religiosos, investigadores e investigadores, que tentam modificar os trajes trazidos de seus pensamentos.

O diretor, Ulisses Rochas, diz que gosta de filmar pessoas. “Os personagens que me atraem são pessoas do cotidiano, que fazem parte de um mundo sem glamour. Foi muito gratificante estar próximo das etnias indígenas e poder mostrar sua relação com a terra e a natureza. A participação das etnias no filme foi com o intuito de que elas pudessem como são e como se sentiram mostrar, diante do descaso das autoridades de parte das sociedades urbanas. Foi muito importante descobrir as descendentes que todos temos, como seres humanos, e assim perceber o quanto somos iguais. O que muda são as tradições culturais.”, destaca.

FONTE: O LIBERAL.COM

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Gomes

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