Integrantes da Força acreditam que, assim, será possível montar o quebra-cabeças que leve a um responsável pela contaminação em localidades e praias da região
A Marinha definiu uma estratégia para tentar solucionar o mistério da origem do petróleo que contamina o Nordeste brasileiro: a investigação foi fatiada em três frentes, com apurações sobre o tráfego de navios na altura da costa brasileira, o movimento das correntes marítimas e os aspectos químicos do óleo encontrado nas praias , com análises que incluem uma tentativa de precisar o tempo de permanência desse material na água. Integrantes da Força acreditam que, assim, será possível montar o quebra-cabeças que leve a um responsável pela contaminação de 200 localidades em todos os estados do Nordeste.
Em resposta a uma ação coordenada do Ministério Público Federal (MPF), que cobrou o imediato acionamento do Plano Nacional de Contingência em caso de tragédias como a que está em curso, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) informou à Justiça Federal em Sergipe que o plano já foi acionado, e que a Marinha foi designada para chefiá-lo. A Justiça concordou com o argumento do MMA, e avaliou que o plano de contingência está em andamento.
Fontes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) confirmaram ao GLOBO que o plano foi, de fato, acionado. Duas decisões da Justiça Federa l, em Pernambuco e em Alagoas, obrigam o governo federal a tomar providências para minimizar os danos ambientais da contaminação por petróleo, com a proteção de corais e manguezais.
O mais provável é que uma resposta sobre a procedência do petróleo venha da Marinha. Também investigam o episódio, com chances de detectar de onde partiu o óleo, a Polícia Federal (PF) e universidades federais. Os trabalhos mais adiantados, segundo quem acompanha a tragédia de perto, é o da PF no Rio Grande do Norte e o da Universidade Federal de Sergipe.
A Marinha já fez, há duas semanas, um afunilamento dos principais navios sobre os quais existe algum indício de ser a fonte emissora do petróleo. O universo atual levado em conta nas investigações está restrito a 30 embarcações, de dez países diferentes. Todos os países já foram contactados pela Marinha, que busca elementos como relatos recentes de avarias nos navios, trocas de petróleo em alto-mar e se algum porto foi comunicado sobre problemas nessas embarcações.
A frente de investigação que cuida do fluxo de navios está a cargo do Centro Integrado de Segurança Marítima. Já o Centro de Hidrografia da Marinha está concentrado na análise das correntes marítimas. O Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira cuida das análises químicas.
O que se sabe, até agora, é que o petróleo encontrado nas praias do Nordeste tem o DNA venezuelano. Um laudo sigiloso produzido pela Petrobras foi o primeiro a registrar essa informação, ainda no começo da contaminação, em setembro. Depois, estudos de universidades federais tiveram a mesma conclusão. Isto, no entanto, não aponta culpa de autoridades ou empresas da Venezuela. O instituto da Marinha tenta precisar a procedência do petróleo. Para isso, busca elementos que permitam dizer, por exemplo, quanto tempo esse óleo permaneceu na água.
Centro de investigação no Rio
Toda a investigação da Marinha está concentrada no Rio de Janeiro, onde um centro foi montado para cuidar do assunto. Em Brasília, após uma reunião com o presidente em exercício, Hamilton Mourão, o comandante da Marinha, Ilques Barbosa Junior, disse aos jornalistas que 30 embarcações de dez países estão no radar das investigações, além de navios irregulares, os chamados “dark ships”.
– O mais provável, a (maior) probabilidade é um “dark ship”. “Dark ship” ou um navio que teve um incidente e infelizmente não progrediu a informação como deveria – afirmou.
O comandante disse que a Marinha vai encontrar o responsável pelo derramamento de petróleo, nem que demore “200 anos”. Assim Barbosa Junior definiu um “dark ship”:
– “Dark ship” é um navio que tem seus dados concretos, seus dados informados, mas, em função de qualquer restrição de embarque que acontece, ele tem uma carga que não pode ser comercializada. Então, ele busca linhas de comunicação marítimas que não são tão frequentadas, ele não alimenta seu sistema de identificação, ele procura as sombras. Essa navegação às sombras produz essa dificuldade de detecção.
O fato de o vazamento não ter sido comunicado às autoridades já é “criminoso”, conforme o comandante da Marinha:
– Todo incidente de navegação, é obrigação por convenções internacionais que os comandantes informem. Isso não ocorreu. É um fato que sublinha uma tentativa de se esconder, através da dificuldade que existe de identificação de navios no mar.
FONTE: O GLOBO
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