A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que o ex-jogador de futebol Luis Antônio de Medeiros Senna, de 45 anos, usou o box do banheiro de casa para esquartejar o corpo da irmã, a designer gráfica Samura Sento Sé Braz, de 34 anos, após assassiná-la com 30 facadas. Nesta manhã, agentes da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) estiveram na residência, localizada no bairro Jardim Carioca, na Ilha do Governador e fizeram testes com luminol, produto que identifica a presença de sangue.
De acordo com a delegada Elen Souto, titular da DDPA, a substância reagiu em diversos pontos da suíte que era usada por Samura, inclusive dentro do box. O crime teria sido motivado por uma disputa pela herança deixada pela mãe adotiva de Luis e Samura, que morreu em agosto de 2014. No testamento, a casa onde ambos moravam foi deixada para Samura, o que deu início a brigas frequentes entre os irmãos.
— A gente acredita que o esquartejamento tenha ocorrido no box, porque fica mais fácil de abrir a água e limpar — diz a delegada.
Luis Antônio teve a prisão temporária decretada pelo Plantão Judiciário nesta terça-feira. A delegada Elen Souto, titular da DDPA, pediu a prisão do ex-jogador após descobrir que Luis Antônio fez um empréstimo de R$ 11 mil para fugir do Rio. O acusado é considerado foragido.
Agora, a polícia busca o carro Vectra, de cor preta, placa CIA 5484, que teria sido usado para a ocultação do cadáver. Partes do corpo de Samura foram encontradas nos dias 16 e 17 na Praia da Rosa. No primeiro dia, foi achado somente o tronco. No dia seguinte, os membros e a cabeça.
— Certamente, a pessoa que está guardando esse carro não sabe que ele foi usado como instrumento de um crime de ocultação de cadáver. Mas, a partir do momento em que o caso passa a ser amplamente divulgado, e a pessoa permanece com o carro, isso pode ser entendido como favorecimento real (crime que prevê de 1 a 6 meses de detenção, e multa) — diz a delegada.
Informações sobre o paradeiro do veículo podem ser passadas para o telefone de plantão da delegacia, 2202-0337, ou o Disque Denúncia: 2253-1177
Contradições no depoimento
De acordo com uma amiga de Samura que foi à delegacia, os irmãos brigavam com frequência e “as brigas se davam por divergência acerca da herança deixada pela genitora de ambos através de um testamento”. Ainda segundo o depoimento, “o imóvel em que Samura e Luis residiam foi colocado no nome de Samura, e Luis se recusava a deixar o imóvel alegando que ele tinha direito”. Outros depoimentos de parentes da vítima confirmam as brigas dos irmãos pela casa.
Samura não foi mais vista desde a noite do último dia 13. O desaparecimento só foi registrado na delegacia uma semana depois por amigos de Samura. Mesmo morando com a irmã, Luis não procurou a polícia para informar sobre o desaparecimento.
O ex-jogador — que teve passagens por equipes pequenas do Rio nos anos 1990 como Bangu e Portuguesa — foi ouvido na sede da especializada. O que chamou a atenção dos investigadores da DDPA foram seis cortes na sua mão esquerda que, segundo ele mesmo, foram feitos no mesmo dia do desaparecimento de sua irmã. Luis deu, em depoimento, duas versões diferentes para os cortes na mão: disse inicialmente que havia se machucado durante uma pelada que havia jogado na favela de Manguinhos; depois, afirmou que foi a um jogo do Flamengo no Maracanã e se envolveu numa briga de torcida. Luis foi submetido a exame de corpo de delito. Segundo o relatório da investigação, as lesões que sofreu não são compatíveis com os fatos descritos pelo ex-jogador.
Luis também afirmou não ter visto Samura na noite do desaparecimento e disse acreditar que “ela tenha viajado e não deu notícias não atendendo ao telefonema de ninguém”. Quando foi perguntado pelos investigadores sobre o motivo de ter demorado oito dias para tomar providências para localizar sua irmã, ele disse que “entendeu (o desaparecimento) como algo normal já que ela saía e não dava satisfação”.
A mulher de Luis, que mora na mesma casa que o ex-jogador e Samura, desmentiu o depoimento do marido em vários pontos. Ela afirmou que, no dia do desaparecimento, Luis foi levar ela e o filho a uma festa de aniversário de noite. Depois, ele teria voltado para casa. Disse que não era comum Luis ir ao Maracanã em dia de jogo do Flamengo e afirmou que não passou o sábado seguinte ao crime, dia em que o corpo foi encontrado, com o marido. Luis havia informado aos investigadores que passou o fim de semana com a mulher e com o filho.
A mulher também admitiu que Luis e Samura discutiam recorrentemente por conta da herança. Ela ainda afirmou que “chegou a cogitar se separar do marido por conta dos atritos entre Luis e Samura por estarem morando na casa que era dela, por direito, deixado pela mãe adotiva”.
O relatório da investigação, remetido à Justiça, conclui que Luis matou Samura após deixar a mulher e o filho na festa de aniversário. Segundo o documento, Samura ainda tentou se defender usando uma faca — o que justificaria as feridas na mão de Luis. Após o crime, Luis “provavelmente se valeu de seu veículo para o transporte dos despojos de Samura, razão pela qual desde sexta o carro não tem mais sido visto na casa do autor”. O carro, um Vectra preto, segue desaparecido. À esposa, o ex-jogador afirmou que o carro havia sido apreendido numa blitz. No entanto, após buscas feitas pela delegacia, a polícia concluiu que o carro não foi alvo de nenhuma abordagem.
No último dia 23, agentes da DDPA foram à casa de Luis para intimá-lo a prestar novo depoimento. Na ocasião, o ex-jogador fugiu pelos fundos do imóvel e não compareceu à delegacia. Nesta quarta-feira, agentes da DDPA farão buscas no imóvel onde Samura e Luis moravam.
FONTE: EXTRA
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