Aulas de língua, resenhas de livros e trabalho na cadeia levaram defesa a pedir semiaberto
O ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) conseguiu reduzir em oito meses sua pena com cursos à distância, trabalho dentro da penitenciária e resenhas de livros. Somando a remissão da pena aos quase dois anos que Cunha já passou na cadeia, a defesa entende que o ex-deputado já cumpriu um sexto dos 14 anos e seis meses de prisão estabelecidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), a segunda instância da Lava-Jato e, por isso, e pediu a progressão para o regime semiaberto.
Para conseguir o abatimento da pena, o ex-presidente da Câmara fez cursos de espanhol, de mestre de obras e de agricultura. Para comprovar o feito, os advogados apresentaram diplomas do Instituto Universal Brasileiro, especializado em ensino profissionalizante à distância. Em seu site na internet, a entidade oferece um curso de 400 horas de “Mestre de Obras e Edificações” por R$ 246, que podem ser parcelados e cobrem o custo de apostilas e aulas online — cada 12h de curso conta um dia a menos na pena.
Cunha também se dedicou à leitura de livros da biblioteca do presídio, na maioria clássicos da literatura. Desta lista, o ex-deputado escolheu, por exemplo, romances como “O estrangeiro”, de Albert Camus; O Quarto Dourado, de Rebeca Kohn; além de obras de Moacyr Scliar, como “O exército de um homem só”, “A festa no Castelo” e “Mês de Cães Danados”. Após a leitura, o preso é obrigado a fazer uma resenha. Cada livro lido desconta dois dias na pena do sentenciado.
O ex-deputado também trabalhou na penitenciária na área de serviços de manutenção e na entrega de quentinhas aos presos da ala onde ficam os réus da Lava-Jato. Entre os companheiros da carceragem estão Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil; João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT; e o ex-deputado federal André Vargas.
Cunha está preso no Complexo Médico Penal, no Paraná, desde outubro de 2016. Ele responde pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas na ação que investiga a compra, pela Petrobras, de um campo de petróleo em Benin, na África. A negociação, segundo as investigações, rendeu propina de US$ 1,5 milhão para Cunha, embora a estatal não tenha encontrado óleo no campo.
Mesmo que a Justiça conceda a progressão de pena para o regime semiaberto, Cunha não será autorizado a deixar a cadeia ainda, já que ainda há dois mandados de prisão contra ele. O primeiro se refere às delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS. Nesse processo, Cunha é acusado de tentar obstruir a Justiça. O segundo mandado diz respeito à condenação a 24 anos e dez meses de prisão por desvios do Fundo de Investimento (FI) do FGTS.
Além dos estudos e do trabalho, Cunha continua estudando minuciosamente os processos em uma cela que não divide com outros presos. Embora colecione uma série de reveses na Justiça, pessoas próximas dizem que ele se mostra animado desde junho, quando recebeu um habeas corpus do ministro do STF Marco Aurélio Mello, referente à Operação Manus, deflagrada em junho de 2017 para investigar irregularidades na construção da Arena das Dunas, estádio da Copa do Mundo de 2014 em Natal.
FONTE: O GLOBO
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