Associações de imprensa destacam a importância da mídia tradicional como certificadora da informação
A maioria dos eleitores brasileiros pretende se informar sobre os candidatos em 2018 por meio de conteúdo jornalístico, segundo uma pesquisa do Ibope, feita em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada nesta quinta-feira. Os dados indicam que essa preferência foi apontada por 71% dos entrevistados mas, quando considerados os portais online dos veículos tradicionais, o percentual sobe para 84%. Para as principais associações de imprensa do Brasil, o resultado mostra a importância da mídia oficial como certificadora da informação, num contexto de proliferação das fake news.
Mesmo com a crescente oferta de notícias na internet, 38% dos entrevistados afirmaram que utilizam apenas os veículos tradicionais para buscar informação, seja na televisão, no rádio ou em jornais e revistas Já as redes sociais e blogs, utilizados por 26% dos eleitores, são fontes exclusivas de apenas 5% dos eleitores.
Dos que utilizam as redes sociais para se informar, mesmo que em conjunto com outros veículos, 25% confessam que raramente ou nunca verificam a veracidade das informações recebidas. Outros 46% sempre verificam e 29% verificam às vezes.
Para Cristiano Lobato, diretor geral da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), o resultado da pesquisa não surpreende pois segue uma tendência mundial em que as pessoas buscam informações confiáveis num momento de crescimento de oferta de notícias na internet.
— O resultado reflete todo esse ambiente de fake news. Nosso modelo não está exposto a algoritmos, que doutrina as chamadas bolhas e que pode gerar perda de conteudo relevante ou pontos de vista diferentes. Nosso objetivo é levar o fato real, seja agradável ou não, à sociedade. Hoje em dia, os veículos tradicionais não só apuram a notícia, mas certificam a informação — afirma Lobato.
Parceria com o TSE contra as fake news
No último dia 28 de junho, a Abert, ao lado da Associação Nacional do Jornalismo (ANJ) e da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), assinou um termo de cooperação junto ao TSE, para auxiliar no combate às fake news. Lobato destaca que, numa eleição com menos recursos como será o próximo pleito, em que os partidos dependem cada vez mais das redes sociais, e com o agravante do aumento dos boatos circulando na internet, a mídia tradicional será elemento muito relevante para a sociedade.
O diretor executivo da ANJ, Ricardo Pereira, diz que o resultado da pesquisa é “muito positivo e auspicioso” não só para os profissionais do meio, mas também para a sociedade.
— Isso mostra que os cidadãos estão preocupados com a qualidade da informação que chega a eles. A informação jornalística é resultado de um trabalho profissional, que tem método e busca a verdade. Nesse mundo de tanta desinformação, a mídia tradicional se torna um porto seguro para que a sociedade tenha uma visão crítica do mundo e fique apta a tomar suas decisões, como na hora do voto.
Na última semana, o Grupo Globo lançou o “Fato ou Fake”, em que os veículos vão checar informações suspeitas que circulem pela internet. Na mesma linha, durante as eleições, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) vai coordenar o projeto Comprova, uma coalizão de 24 empresas de mídia que terá como missão checar e desmentir o conteúdo enganoso que circula nas redes sociais e aplicativos de mensagens. Para Daniel Bramatti, presidente da Abraji, os dados da pesquisa do Ibope são encorajadores.
— Queremos que as pessoas valorizem o bom jornalismo, independentemente do veículo ou do formato. A imprensa tem um grande papel a cumprir nas próximas eleições, será uma oportunidade para demonstrar a relevância de um trabalho feito com profissionalismo e equilíbrio.
Desalento com a corrupção
As fontes de informação que não sejam através de veículos noticiosos são absoluta minoria na sociedade, segundo a pesquisa do Ibope. Os dados apontam as conversas com parentes e amigos (10%), reuniões na igreja (3%), na associação de moradores (3%) e em sindicatos/associações profissionais (2%). Apenas 6% dos eleitores disseram que vão se informar sobre os candidatos pela propaganda eleitoral e propaganda de partidos políticos.
O levantamento indica ainda que a alta insatisfação com a corrupção e o descrédito com a classe política fazem com que a parcela dos eleitores com intenção de votar em branco ou nulo e a de indecisos seja a mais alta das últimas cinco eleições. Além disso, 45% dos entrevistados dizem que estão pessimistas ou muito pessimistas com o próximo pleito.
Questionados de forma espontânea sobre o candidato que vai ganhar seu voto — sem apresentar uma lista de candidatos — 31% dos entrevistados disseram que vão votar em branco e 28% não souberam ou não quiseram responder à pergunta, o que indica indecisão. Quando apresentados a uma lista de candidatos, 59% apresentaram uma escolha, mas apenas 27% dizem que não vão mudar a opção por estarem convictos.
Jair Bolsonaro é o candidato com maior número de eleitores convictos de que não mudarão de voto, entre os quatro primeiros colocados na pesquisa, em cenário sem o ex-presidente Lula. Dos entrevistados que disseram que vão votar em Bolsonaro, 34% disseram que a decisão é definitiva e que não mudará de jeito nenhum. Os percentuais dos que estão convictos caem para 26% no caso de Ciro Gomes, 23% entre os eleitores de Geraldo Alckmin e 22% dos eleitores da Marina.
“O eleitor não encontrou aquele candidato que ele sonha. A decisão vai acontecer muito mais próxima da eleição que nas eleições anteriores. A gente percebe que a maioria dos eleitores não conhece os candidatos e suas propostas. Até entre os que já escolheram candidatos, ainda há alguma indecisão”, afirmou o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca.
A pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira – Eleições 2018 ouviu 2 mil pessoas entre os dias 21 e 24 de junho, em todo o país, e detalha informações por perfil do eleitor da pesquisa de intenção de votos divulgada em 28 de junho. Na ocasião, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva liderava com 33% das intenções de voto, seguido por Jair Bolsonaro (15%) e Marina Silva (7%). Sem Lula, os melhores colocados eram Bolsonaro (17%), Marina (13%), Ciro Gomes (8%) e Geraldo Alckmin (6%).
FONTE: O GLOBO
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