“Imagina você estar em uma casa sem energia e escutar o barulho muito forte de uma turbina de caça passando no céu, por cima da sua cabeça. Você ouve as bombas estourando, ‘bum, bum, bum’, treme tudo, você tenta olhar, mas não sabe onde foi. Você só fica esperando a hora da morte. É essa a situação. Esperar a hora da morte.”
É a segunda vez que o profissional cobre o conflito. Em setembro de 2013, Chaim também esteve em Aleppo (leia o relato da viagem eveja fotos feitas por ele).
Nas duas ocasiões, o brasileiro ficou do lado da cidade controlado pela oposição ao governo do presidente Bashar al-Assad. Agora, ele diz que Aleppo está muito pior que antes. “A situação é desesperadora. Todos os minutos eu penso que vou morrer. Antes não era assim”, diz.
Chaim afirma ainda que presenciou bombeiros abrindo bombas cheias de gás clorino – um tipo de arma química. “Aquilo queima a pessoa por dentro. Vi várias vítimas dessa bomba nos hospitais.”
O brasileiro revela que os alvos são, em sua maioria, civis – muitos deles, mulheres e crianças. “Antigamente, se eu estivesse em uma casa de família, em um prédio residencial, me sentia mais seguro e pensava que eles não jogariam uma bomba ali em cima. Hoje é o lugar mais provável de ser atingido. O que estão dizendo aqui é que eles querem atingir as famílias dos militares que estão no front”, diz.
Dentro do front de guerra
Segundo Chaim, cerca de 70% de Aleppo é dominada por rebeldes, especialmente pelo FSA (Free Syrian Army, ou Exército Livre Sírio), o principal grupo de oposição ao governo. Ele diz que, na última semana, o governo intensificou os combates para aumentar o cerco à cidade e recuperar o domínio sobre a área.
(Foto: Gabriel Chaim/G1)
Com isso, acabou a comunicação entre os dois lados de Aleppo, e pessoas que antes moravam no lado controlado pela oposição e trabalhavam na área do regime não conseguem mais se deslocar entre os dois lugares.
Da outra vez em que esteve na região, o brasileiro ficou na sede de uma ONG local. Como o edifício foi destruído por bombas, ele agora está hospedado dentro de uma das bases do FSA na cidade.
Desde que chegou, no meio de abril, o fotógrafo vem acompanhando o dia a dia dos rebeldes, de profissionais como bombeiros e de famílias que continuam em Aleppo. Seu guia é um jovem soldado de 18 anos, um dos poucos que falam inglês.
destruídos por bombas (Foto: Gabriel Chaim/G1)
Chaim acompanhou alguns combates – a maioria, em apartamentos abandonados, ainda ocupados por objetos dos antigos moradores, como teclados de computador, roupas e brinquedos.
Em muitos desses prédios, os rebeldes improvisaram túneis quebrando as paredes dos cômodos, o que permite que se locomovam de uma ponta à outra sem precisar sair para a rua, onde ficariam expostos.
Já o lugar considerado o mais perigoso da cidade fica em um galpão em uma área industrial. Lá, os dois exércitos se enfrentavam a 2 metros de distância. Chaim esteve lá. “É rajada de metralhadora para todo lado. Toda hora tinha que correr de ‘snipers’ [atiradores de elite]. É você correndo e as balas passando, um negócio de doido”, lembra.
Ele também diz ter acompanhado um grupo de cinco mulheres soldados que combatem sozinhas em um dos fronts. A líder, que era professora antes da guerra, virou atiradora de elite após o início do conflito.
Outro momento marcante foi a ida até uma fábrica de bombas, onde os rebeldes fazem por US$ 300 morteiros que custariam US$ 3 mil no mercado internacional.
Coração acelerado
Como os bombardeios ocorrem principalmente à noite, a população evita sair na rua depois das 18 horas. Chaim, que nos primeiros dias em Aleppo não dormia nem 30 minutos por noite por causa da adrenalina de ouvir as bombas caindo, conta que hoje já consegue descansar mais. “A cada bomba que estoura, treme tudo. A gente dorme com o coração acelerado, mas dorme.”
O fotógrafo se alimenta principalmente de kebabs que compra em uma das poucas lojas abertas na cidade. Segundo ele, cerca de 30% dos comércios que não foram destruídos continuam funcionando. Os demais fecharam as portas.
O brasileiro também diz que os civis que ficaram em Aleppo só estão lá porque não têm dinheiro para fugir. “Todos os que estão aqui são pobres.”
Na opinião de Chaim, o futuro da Síria ainda é incerto, e a eleição presidencial no país não vai mudar nada, já que não haverá votação nas áreas controladas por rebeldes. “Todo mundo tem certeza de que o Assad vai ganhar. Só vai votar quem é a favor do governo”, afirma.
(Foto: Gabriel Chaim/G1)
O profissional revela que não foi fácil para sua mulher, que está grávida, aceitar outra viagem do marido à Síria. “Ela acha que estou doido. Está quase tendo o bebê antes da hora por conta disso”, brinca.
O fotógrafo ainda não sabe quando voltará ao Brasil. Ele revela que sempre fica afetado pelas tragédias que presencia, mas acabou fazendo disso uma rotina e tenta não se abalar demais para que isso não interfira no seu trabalho. “Ontem, por exemplo, fui a um prédio que tinha sido bombardeado minutos antes e achei pedaços de corpos pelos escombros. As histórias são sempre as piores, mas tem que ir em frente.”
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