Celeste entra em campo enquanto trava uma árdua batalha contra o monopólio em seu futebol e encara uma Seleção Brasileira sedenta para carimbar o passaporte para a Copa
Um dos principais clássicos sul-americanos, líder e vice-líder das Eliminatórias para a Copa 2018, estádio lotado… Tradição! O Uruguai e Brasil desta quinta-feira, no Estádio Centenário, em Montevidéu, às 20h (horário de Brasília), ´é por si só um jogo especial. No entanto, outros tantos componentes elevam o duelo a patamares além das quatro linhas. Há muito mais do que três pontos em jogo nesta noite.
Mas batalha mais árdua vivem os uruguaios. Por trás da seleção que tentará fazer frente a Neymar, Firmino e Cia. em casa, acontece uma guerra de proporções pouco vistas no futebol. Há tempos, nossos vizinhos batem de frente com as autoridades futebolísticas de seu país pelo direito de ter mais direitos.
A briga é complexa. Um dos linhas de frente nem sequer estará em campo. É Diego Lugano, zagueiro do São Paulo e capitão da Celeste até a Copa de 2014. Respeitado por todos no homogêneo grupo de Oscar Tabarez, o defensor age para acabar com o monopólio que domina o futebol uruguaio há tempos, seja nos direitos de televisão e patrocínios para a seleção.
Um episódio sobre o fornecimento de material esportivo para a Celeste simboliza a luta. No ano passado, os próprios jogadores levaram à AUF (Associação uruguaia de futebol) uma proposta da Nike para substituir a Puma. A oferta da gigante norte-americana teria sido de cinco vezes maior do que a atual. No entanto, ainda assim, a entidade máxima do futebol não levou as conversas para frente e preferiu renovar com a Puma, de acordo com os atletas.
O motivo, para os líderes uruguaios, entre eles Suárez e Cavani, é claro: a AUF tem rabo preso com a Tanfield, empresa que intermedia os negócios da seleção há 18 anos. Esse grupo seria comandado por um empresário que também encontra suporte nos clubes, fator que dificulta a luta dos selecionáveis.
Nos últimos dias, os jogadores comemoram um avanço nas conversas com a AUF e a Puma. Diante de ameaças, empresa e entidade se mostraram mais flexíveis. Também pudera: uma das atitudes que o grupo pretendia tomar era de esconder os logos da Puma com esparadrapo no jogo desta noite contra o Brasil. Seria uma vergonha internacional para a empresa alemã, algo sem muitos precedentes na história do futebol.
Os jogadores já ameaçaram fazer greve e prometem lutar até o fim. No meio da briga, alguns deles precisam conviver com ameaças e grampos telefônicos. Reforçam a segurança pessoal e tomam cuidado quando estão em locais públicos, seja onde for. A torcida, com os bons resultados, apoia. Mas eles sabem que só com bons resultados poderão ter forças para seguir em frente.
– É uma briga incrível, sem comparação, porque nós lutamos para ter o melhor para todos. A AUF ganharia, os clubes ganhariam, as empresas ganhariam e os jogadores ganhariam. Seria melhor para todos, mas mesmo assim não anda. Incrível – afirma Lugano, com ar de revolta.
Uruguai e Brasil está longe de ser apenas um jogo de três pontos. Nunca é só futebol.
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