E, de repente, chega aqui, é essa burocracia toda, uma confusão, um disse me disse, são os atrasos. É uma pena. Eu me sinto envergonhado, porque é o meu país, o país que eu amo, e a gente não podia estar passando essa imagem para fora”
Ronaldo Nazário, 23 de maio de 2014
De repente, Ronaldo se envergonha. De repente, é essa burocracia toda, essa confusão. De repente, a gente não “podia” estar passando essa imagem para fora. O que teria acontecido, assim, tão de repente? De quem seria a culpa por tão repentino acontecido?
Em 30 de outubro de 2007, o Brasil foi escolhido pela Fifa como sede da Copa do Mundo de 2014. O governo brasileiro assumiu alguns compromissos e isenções para garantir a plena execução da organização da Copa da maneira que contratava com a Fifa. São as 11 Garantias Governamentais, posteriormente ratificadas por leis e decretos.
Agora, a duas semanas da Copa, Ronaldo constata que o plano falhou. Os estádios, bem, esses servirão para os jogos. Mais caros que o previsto, nem totalmente acabados, mas capazes de receber os jogos. Já as obras de mobilidade urbana, as reformas, modernizações e ampliações de portos e aeroportos, essas, em sua maioria, não saíram. Mais da metade do legado previsto não saiu. E isso poderá gerar problemas. Isso poderá fazer o país passar vergonha.
Ronaldo admite sua vergonha, mas se exime de culpa. Ele e o ente de que é membro, o COL (Comitê Organizador Local da Copa, ligado à CBF e à Fifa), nao são responsáveis pelas obras que não saíram. Os estádios estão aí, e não se faz Copa com hospitais. Junto com Ronaldo, outros também, a duas semanas da Copa, procuram se eximir de culpa e apontar culpados. Alguém para acumular em seus ombros os protestos difusos, os reclames e as frustrações coletivas.
É o Governo Federal brasileiro, inventor da ideia de trazer a Copa para o país, coordenador de todo o planejamento, dono da maioria dos recursos financeiros injetados no projeto, o candidato natural a laranja de todos os erros e malfeitos da Copa. São eles os responsáveis pelos atrasos, pela incompetência e pela gastança da Copa. É deles que Ronaldo se envergonha. Mas só deles?
Ainda em 2007, mesmo ano da escolha do Brasil como sede da Copa, o governo federal solicitou aos governos estaduais e municipais das cidades-sede que passassem a planejar as obras que julgavam essenciais em suas praças para sediar o evento internacional. Os projetos para as cidades-sede foram apresentados pelas prefeituras e governos estaduais à União dois anos depois, em setembro de 2009.
Eles foram analisados, aprovados e priorizados para receber financiamento federal, por meio do Programa Pró-Transporte, com recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e operacionalizado pela Caixa Econômica Federal.
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