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Usina cria sistema para manter curso natural dos troncos no Rio Madeira

Rio carrega milhares de troncos de árvores ao longo do leito.
Sistema transpõe troncos rio abaixo da barragem da usina em Porto Velho.

A Usina Hidrelétrica Santônio criou um sistema para manter o curso natural de troncos no Rio Madeira, em Porto Velho. Com uma barragem de concreto de cerca de dois quilômetros, a UHE tira proveito das caudalosas águas do rio para gerar energia. Como o rio tem característica de carregar milhares de troncos de árvores ao longo do leito, a usina implantou o sistema de manejo de troncos para impedir que esse material vegetal fique retido e tenha o curso natural interrompido.

A solução de engenharia tem a função de interceptar todo material orgânico e direcioná-lo para rio abaixo da barragem. O objetivo é garantir que a vida microbiológica presente nos troncos siga o curso natural até a foz do Rio Amazonas, preservando o ecossistema da região, além de proteger as estruturas de concreto da usina do impacto dos corpos flutuantes.

De acordo com a hidrelétrica, o Rio Madeira nasce na Bolívia e é formado pelo encontro dos Rios Beni e Mamoré. Com mais de três mil quilômetros de extensão, é o principal afluente do Rio Amazonas. Em época de cheia, o aumento do nível das águas inundam as margens e com sua força arrancam a vegetação existente e a trazem para dentro do leito.

Sistema foi implantado para garantir transposição dos troncos no Rio Madeira (Foto: Beethoven Delano/Arquivo Pessoal)
Sistema foi implantado para garantir transposição dos troncos (Foto: Beethoven Delano/Arquivo Pessoal)

Além de riquezas naturais, o Rio Madeira também possui um potencial energético e, por isso, foi escolhido para abrigar o Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, do qual a Hidrelétrica de Santo Antônio faz parte.

O gerente de obras da hidrelétrica, Welson Corrêa, explica que no início do projeto existia a necessidade de criar uma alternativa para proteger as casas de forças – estruturas de concreto que abrigam as unidades geradoras – do impacto dos troncos. Segundo ele, um estudo realizado pelo empreendimento detectou que, no período de cheia, cerca de sete mil troncos de árvores descem rio abaixo por dia.

Welson explica que a primeira alternativa cogitada foi retirar os troncos do rio e depositá-los em outro local. Entretanto, o método foi descartado, e a criação do sistema passou a ser motivada também por questões ambientais.

Sistema é formado por boias envoltas em estruturas metálicas ancoradas em pilares de concreto (Foto: Giseli Buscariollo/G1)

Para conceder a licença de operação da hidrelétrica, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais renováveis (Ibama) recomendou que os troncos e todo material orgânico não fosse retirado do rio e que seu curso natural fosse mantido. “Foi uma condicionante ambiental em ter que deixar esse sistema pronto para obter a licença de operação”, disse o gerente.

A solução encontrada pela equipe de engenharia foi a implantação do sistema de manejo de troncos. Segundo Welson, o sistema é único, concebido e testado primeiramente em um formato reduzido. “Foi estudado em modelo reduzido, que definiu a geometria e a posição dos blocos de ancoragem”, destacou.

A tecnologia compreende duas estruturas. A primeira chamada ‘Log Boom’ possui 5,8 quilômentros de extensão e é composta por boias envoltas em estruturas metálicas conectadas por um cabo de aço estendido de uma margem à outra do rio, ancoradas em blocos de concreto. Essas boias sustentam grades submersas a quatro metros de profundidade formando uma barreira interceptadora.

A função do sistema é direcionar todo material orgânico para o vertedouro de troncos, que é a segunda estrutura do sistema. Construído no leito do rio com concreto reforçado para resistir a impactos, o local tem apenas um vão e é exclusivo para passagem da madeira.

Vertedouro de troncos é estrutura exclusiva para a transposição do material orgânico (Foto: Giseli Buscariollo/G1)
Vertedouro de troncos é estrutura exclusiva para a transposição do material orgânico (Foto: Giseli Buscariollo/G1)

No processo de direcionamento dos troncos e galhos, alguns corpos flutuantes ficam encalhados nos cabos e são retirados com auxílio de equipamentos específicos e encaminhados ao vertedouro.

Troncos acumulados nas linhas também são removidos com o auxílio de equipamentos específicos (Foto: Giseli Buscariollo/G1)

Conforme o gerente de obras, existem ainda cerca de 8 a 10% dos troncos e galhos que não flutuam, mas passam por baixo do sistema de manejo e acabam se aglomerando na frente das casas de força. Esse material também é retirado com máquinas e direcionado para a transposição.

“Estamos chegando à performance ideal do sistema de manejo de troncos, que é garantir que os troncos não cheguem à tomada d’água e ao mesmo tempo permitir a vida desses troncos no ciclo hidrológico. (…)100% do que chega [até a barragem] segue a sua vida natural”, disse Welson.

Empreendimento
A Hidrelétrica Santo Antônio é a quarta geradora de energia hídrica do Brasil. Com obras iniciadas em 2008, o empreendimento é composto por quatro casas de força que abrigam 50 unidades geradoras, hoje, todas disponíveis para operação comercial com potência instalada de 3.580 Megawatts. Além de abastecer os estados de Rondônia e Acre, a usina gera energia para as regiões Sul e Sudeste.

Fonte: G1

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