Criança de cinco anos morreu durante ação da PM em comunidade
Testemunhas negam versão da Polícia Militar do RJ.
A Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense fará, nesta segunda-feira (4), uma reprodução simulada na comunidade da Lagoa, em Magé, onde o menino Matheus Santos Moraes, de 5 anos, foi morto durante uma ação da PM no fim da tarde de sábado (2). Para a Polícia Civil, há contradições que precisam ser esclarecidas.
“Será um momento bastante importante para o robustecimento do inquérito policial, tendo em vista que temos algumas contradições a serem sanadas. É preciso, no local, reposicionar todos os personagens no momento em que se deu o disparo que atingiu Matheus”, ressaltou o delegado titular da DHBF, Geniton Lages.
Segundo o delegado, a principal contradição é o fato das testemunhas afirmarem que havia traficantes no local, mas nenhum deles estava armado, já os policiais militares alegam que estavam patrulhando a região quando avistaram criminosos e se iniciou uma troca de tiros. “Segundo essas testemunhas, somente os policiais militares realizaram disparos. A reprodução simulada e a perícia complementar que será realizada hoje é importante nesse sentido, para reposicionar e saber, nessas contradições, onde está a verdade real dos fatos”
Ainda de acordo com Geniton, também está sendo apurado o fato dos policiais militares terem saído da comunidade e não terem ido diretamente à DHBF, mas para o batalhão. Homicídio proveniente de intervenção policial é de competência da Polícia Civil e a DHBF deveria ter sido imediatamente acionada.
“O fato ocorreu por volta das quatro e meia da tarde, só que a Divisão de Homicídios só foi acionada às vinte e três e quarenta e cinco minutos, exatamente. A informação que nós recebemos das PM é que os policiais que estavam na ocorrência foram para o batalhão e lá permaneceram aguardando, não se sabe exatamente o que, mas, lá estando, sabemos que foram ouvidos num inquérito penal militar”, afirmou o delegado, destacando que houve uma quebra de protocolo.
Cenário de destruição após protesto
Após a morte da criança, moradores da região atearam fogo em quatro ônibus na cidade e depredaram e saquearam lojas. Na manhã deste domingo (3), o cenário na cidade era de destruição. Muitas lojas, residências e até a delegacia da região ficaram sem luz, já que a rede elétrica foi atingida pelas chamas. Apenas os ônibus de outros municípios chegavam até a entrada da cidade. Na região da rodoviária, nenhum ônibus circulava pela manhã.
Em funçaõ da possibilidade de um novo protesto após o enterro da criança, a prefeitura de Magé recomendou que a população não saísse de casa. “Recomendo aos munícipes que fiquem em suas casas, não saiam às ruas até passar o período das 18 horas”, afirmou o secretário de Ordem Pública de Magé, Nelson Vinagre, acrescentando que o policiamento na cidade foi reforçado por homens da Polícia Militar e que a Guarda Municipal ficou de prontidão.
“Em face dessa informação do enterro [de Matheus] e de mais quebra-quebra, [da qual] não sabemos a veracidade, o prefeito da cidade e a comandante do 34º BPM já tomaram todas as providências cabíveis. Inclusive, eu já coloquei a Guarda Municipal de prontidão e estamos atuando preventivamente”, explicou o secretário na manhã de domingo.
Ainda de acordo com Nelson Vinagre, a cidade nunca havia passado por situação parecida. “Magé passou por uma situação jamais vista no município. Tivemos ônibus incendiados e vários comércios arrombados, saqueados, agência de banco quebrada, realmente um caos na cidade”, lamentou.
Também em função do medo de nova onda de violência, foi cancelada a missa na Igreja Matriz de Magé, marcada para as 18h30 deste domingo. Nas demais igrejas da cidade, as celebrações foram mantidas.
Corpo de criança foi enterrado
O corpo do menino Matheus foi velado no início da tarde de domingo na capela Nossa Senhora da Piedade, em Magé, e enterrado no cemitério da cidade no fim da tarde. Inconsolável, o pai é amparado por amigos na entrada do local. “Preferia que o tiro tivesse sido em mim e não nele”, disse André Moraes, pai de Matheus.
Segundo a mãe da criança, não houve confronto. “A polícia veio atirando. Quando eu fui pegar ele, ele já caiu. Eu sai, e disseram que esses policiais foram pegar as cápsulas de bala”, disse Patricia Moraes, emocionada, ao G1. “Como eu sou de família pobre e humilde, vai ficar por isso mesmo e meu filho não vai voltar”, disse a empregada doméstica.
A tia de Matheus diz que a criança foi baleada enquanto brincava na rua, por volta das 16h30. Ele estava jogando bolinha de gude quando os policiais chegaram ao local. Milene Alves, tia de Matheus, estava inconformada com a morte da criança. “Ele estava jogando bola de gude na porta de casa. Quando o pai dele deu por si, ele estava morto. Ele não viveu nada. A gente está abandonado”, disse ela, revoltada.
Fonte: G1
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