Anúncio na televisão estatal ocorreu após detecção de terremoto
SEUL — A Coreia do Norte disse ter realizado com êxito um teste de um dispositivo nuclear de hidrogênio miniaturizado às 10h desta quarta-feira (horário local), dois dias antes do aniversário do ditador norte-coreano, Kim Jong-un. Se confirmado, seria o primeiro teste nuclear com uma bomba de hidrogênio — que é mais poderosa do que uma arma atômica — e o quarto desde 2006. União Europeia (UE) e a Coreia do Sul não demoraram a reagir, classificando o ensaio nuclear de uma grave violação e provocação. Segundo fontes diplomáticas, o Conselho de Segurança da ONU realizará uma reunião de emergência nesta quarta-feira para discutir o caso. Rússia e China também condenaram a ação.
“Se confirmada, esta ação representaria uma grave violação da (Coreia do Norte de) das obrigações internacionais de não produzir ou testar armas nucleares, como determinado por várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, disse em um comunicado a chefe de política externa da UE, Federica Mogherini, acrescentando que também seria “uma ameaça para a paz e para a segurança da região Nordeste da Ásia”.
O anúncio da Coreia do Norte na TV estatal ocorreu após a detecção de um “terremoto artificial” de 5,1 graus de magnitude perto de onde se encontram as principais instalações nucleares do país. Edifícios na fronteira com a China tiveram que ser esvaziados por causa do tremor.
— Nos tornamos um estado nuclear que tem a bomba H — declarou a apresentadora na TV.
Especialistas internacionais dizem que ainda não há confirmação da realização do teste, mas o anúncio foi rapidamente criticado por líderes mundiais, com a Coreia do Sul considerando-o “uma grave provocação à nossa segurança nacional”. A França pediu uma “forte reação da comunidade internacional”, enquanto a Rússia reforçou a condenação da UE dizendo que o ensaio é uma “violação flagrante das resoluções da ONU” e apelou por “moderação” das partes envolvidas.
O teste nuclear é o quarto realizado pelo país mais isolado do mundo, que está sob sanções dos EUA e da ONU por seus programas nucleares e de mísseis. O governo norte-coreano declarou que tinha armas nucleares em 2003, e realizou testes em 2006, 2009 e 2013.
‘SUPER-BOMBA’
Ao contrário da bomba atômica, lançada sobre o Japão nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, a bomba de hidrogênio, ou a chamada “super-bomba”, pode ser muito mais poderosa — mil vezes ou mais, dizem especialistas.
Os primeiros três testes nucleares da Coreia do Norte foram com bombas atômicas de aproximadamente a mesma escala usada em Hiroshima e Nagasaki, que, juntas, mataram mais de 200 mil pessoas.
Falando sob a condição de anonimato, vários diplomatas disseram que a reunião do Conselho de Segurança foi marcada para as 11h (13h, pelo horário de Brasília) desta quarta-feira. Os diplomatas disseram que a reunião será provavelmente a portas fechadas.
“Os Estados Unidos e o Japão solicitaram consultas emergenciais ao Conselho de Segurança, com relação ao alegado teste nuclear da Coreia do Norte”, disse a porta-voz da missão dos EUA na ONU, Hagar Chemali, em comunicado. “Enquanto não podemos confirmar, neste momento, que um teste foi realizado, condenamos qualquer violação das resoluções do Conselho de Segurança e, novamente, pedimos à Coreia do Norte que se adeque a suas obrigações e compromissos internacionais”.
No mês passado, Kim Jong-un disse que Pyongyang tinha desenvolvido uma bomba de hidrogênio. A notícia foi recebida com ceticismo por muitos especialistas que duvidam da capacidade do país de fazer uma arma nuclear pequena o suficiente para caber em um míssil.
A Coreia do Norte, no entanto, garantiu em maio de 2015 que tinha a capacidade de miniaturizar armas nucleares, um desenvolvimento que lhe permite implantar armas nucleares em mísseis. Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos respondeu na época que acreditava que os norte-coreanos tinham essa capacidade.
David Albright, ex-inspetor de armas da ONU, afirmou à CNN no ano passado que Pyongyang já poderia ter de 10 a 15 armas nucleares, e que poderia aumentar esse montante em várias armas por ano.
Ele disse ainda que acreditava que Pyongyang tinha a capacidade de miniaturizar uma ogiva para os mísseis mais curtos, mas não ainda para mísseis balísticos intercontinentais capazes de atingir os Estados Unidos.
Fonte: oglobo
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