Esporte

Sede da CBF é alvo de investigação da CPI do Futebol por superfaturamento em obra

Valor real do imóvel é estimado em cerca de 30% abaixo do que foi gasto na construção

“A casa própria”. Foi assim que, em março de 2015, o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, explicou ao Estado de S.Paulo o maior legado que ele deixaria para o futebol brasileiro sob seu comando, que acabaria dias depois. A sede da CBF, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, foi inaugurada dias antes da Copa do Mundo de 2014 com a presença de políticos e dirigentes. Agora, porém, o local é alvo de investigações da CPI do Futebol no Senado, que apura um esquema de superfaturamento nas obras e compra do prédio e desvio de recursos da entidade. A CBF nega e diz que tudo foi auditado.

Em 27 de junho de 2012, pouco depois de assumir a presidência da CBF, Marin e seu vice, Marco Polo Del Nero, anunciaram que estavam comprando o prédio que hoje é sede da entidade. Pelo local, pagaram R$ 70 milhões. Mas, em um ano de obras, outros R$ 23 milhões também foram gastos. Agora, a suspeita apurada pela CPI é de que os valores foram superfaturados e o valor real do imóvel e suas obras poderia ser 30% a menos, segundo as primeiras avaliações.

Com cerca de 6 mil metros quadrados, o prédio foi em parte adquirido de intermediários. Fontes próximas à CPI confirmam que os contratos avaliados apontam para suspeitas de desvio de recursos. Em 2013, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo já apontava para a discrepância entre os valores pagos na aquisição e o que existia na mesma região e até dentro do mesmo terreno. Agora, a suspeita envolve também sua reforma, concluída em 2014 e que representa um terço do valor pago pelo prédio.

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O edifício na Barra da Tijuca seria adquirido três anos depois que a mesma CBF comprou por R$ 26 milhões um terreno no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio, para abrigar a sede da entidade. O plano em 2009 era que as obras estariam concluídas em 2012, em uma área de 8.650 metros quadrados, incluindo um museu, três campos de futebol e um hotel. Alegando que o terreno cederia, o projeto foi abandonado.

Os gastos com o novo local, portanto, foram defendidos na época pelo então presidente da CBF, hoje em prisão domiciliar em Nova York. No dia 4 de junho de 2014, Marin inaugurou a “casa própria”. O local passou a ser chamado de Edifício José Maria Marin, retirado em maio de 2015 quando o dirigente foi preso em Zurique.

Em seu balanço financeiro de 2013, a CBF já sai em defesa dos valores aplicados no prédio. “Registre-se que a CBF, antes de efetuar a aquisição do imóvel pela quantia de R$ 70.000.000,00 (setenta milhões), procedeu a sua avaliação técnica executada por três empresas independentes (Basimóvel, Bolsa de Imóveis do Rio,Empresa Brasileira de Avaliações e Lopes Consultoria Imobiliária), todas especializadas do mercado imobiliário, para apuração de seu justo valor”, indicou o documento da CBF.

“Portanto, a administração da CBF, ao adquirir o novo imóvel para sua sede, baseou-se em laudos que adotaram critérios tecnicamente reconhecidos para avaliações de imóveis, os quais demonstraram que o valor cobrado e pago era compatível e coerente com o valor corrente do mercado”, completou.

Segundo o Estado de S.Paulo apurou, a Basimóvel estimou que o prédio valeria R$ 75,5 milhões, contra um valor apontado para Bolsa de Imóveis de R$ 65 milhões. As auditorias contratadas pela CBF usaram documentos fornecidos pela CBF e, em uma delas, o levantamento admite que não investigou a autenticidade dos papéis, apostando na “boa fé” da instituição do futebol.

Criticado na época, Marin ainda defendia que o projeto seria uma fonte de renda para a CBF, com a inauguração de um museu erguido pela empresa espanhola Mediapro, com 1,5 mil metros quadrados. “Essas visitas trarão receitas”, disse.

No primeiro dia de sua abertura, em 1 de agosto de 2014, ele recebeu apenas 34 pessoas. Para poder ser bancado, ele precisaria de 4,5 milhões de visitantes. Em pouco mais de um ano, a CBF informou que o museu recebeu 50 mil pessoas.

RESPOSTA – Ao Estado de S.Paulo, a CBF apontou que “não recebe quaisquer verbas públicas, direta ou indiretamente, tratando-se de associação de direito privado, sustentada exclusivamente por recursos próprios”.

A entidade ainda garantiu que “não existe nenhuma margem para suspeita de superfaturamento da sede da CBF nem de sua reforma”. “A entidade pagou pelo imóvel valores compatíveis com os praticados no mercado imobiliário do Rio à época, em sintonia com os laudos de avaliação de empresas especializadas e em bases inferiores ao valor venal atribuído pela Prefeitura”, indicou.

Segundo a CBF, “os valores para a reforma da sede estão no balanço financeiro da CBF, aprovado pela Assembleia Geral”. “Todos os gastos da reforma foram auditados e aprovados sem ressalvas por empresa de auditoria independente”, indicou, sem dar os nomes das empresas nem quando ocorreu.

A CBF ainda explicou a escolha da MediaPro como parceiro para construir o museu. “Foi realizada uma concorrência disputada por três empresas. A vencedora, a MediaPro, é umas das instituições mais respeitadas no mundo em seu ramo de atividade, tendo desenvolvido os museus do Barcelona e do Real Madrid, referências neste tipo de instalação”, explicou. “O valor para a construção, ambientação e estruturação do projeto encontra-se também publicado no balanço da confederação”, completou.

Fonte: esportes.r7

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Gomes Oliveira

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