Maduro reconhece derrota, e Capriles diz que país quer mudança. Coalizão MUD conquistou pelo menos 99 vagas no Parlamento
CARACAS — A oposição venezuelana derrotou o chavismo e conquistou a maioria do Legislativo nas eleições de domingo, pela primeira vez em 16 anos, num forte golpe contra o presidente Nicolás Maduro e a revolução bolivariana. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou na madrugada desta segunda-feira que a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) ganhou, pelo menos, 99 assentos contra 46 do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), de um total de 167 vagas. Com 96,03% das urnas apuradas, a oposição tem apenas uma maioria simples. Ainda há 22 posições a definir. A oposição precisa de mais duas vagas para obter 3/5 do Parlamento e 12 para obter 2/3 das posições no Legislativo.
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Maduro, de 53 anos, rapidamente reconheceu a derrota.
— Vendo esses resultados viemos com a nossa moral, nossa ética, reconhecer estes resultados adversos, aceitá-los e dizer à nossa Venezuela que triunfou a Constituição e democracia — disse Maduro em um discurso televisionado. — Venceu uma contra-revolução, que impôs seu cenário, sua guerra.
O secretário-executivo da coalizão opositora, Jesús Torrealba, declarou após a vitória que as eleição são o começo de um novo ciclo na política venezuelana e que há motivos para comemorar, segundo o “El Nacional”. Ele elogiou o trabalho das forças armadas no decorrer do dia eleitoral.
— A agenda dos cidadãos se impôs sobre um governo que não é democrático (…) Este é um projeto chamado Venezuela. A unidade Venezuela — defendeu — Não perseguiremos, nem condenaremos quem pensa diferentes de nós. A Constituição será uma bússola comum.
Principal líder da oposição, Henrique Capriles, ex-candidato à presidência e atual governador de Miranda, comemorou o resultado, antecipado por opositores, e alfinetou Maduro no Twitter. Ele afirmou que nesta segunda-feira os representantes vão falar à imprensa.
“Ganhamos Venezuela! Sempre dissemos, este era o caminho! Humildade, maturidade e serenidade! Que viva o Povo venezuelano!”, escreveu na rede social. “Nicolás definitivamente não entendeu o que aconteceu hoje em nossa Venezuela e o que nosso Povo disse com seu voto. O país quer Mudança”.
Maduro chamou os opositores para uma convivência. O presidente também apelou aos seus adversários para pôr fim à guerra econômica, ao se referir à crise refletida na escassez de alimentos e medicamentos, inflação alta e uma profunda desvalorização do bolívar.
Quando os resultados foram anunciados, fogos de artifício foram disparados em comemoração nos bairros pró-oposição de Caracas, enquanto simpatizantes do governo desmontaram festas planejadas para a celebração da vitória.
A rápida aceitação dos resultados amenizaram tensões no país, onde a última eleição presidencial em 2013, vencida por Maduro de forma apertada, foi bastante contestada e seguida por protestos antigoverno que resultaram em 43 mortes.
A derrota do governo foi outro golpe à esquerda da América Latina após a Argentina eleger Mauricio Macri, de centro-direita, nas eleições presidenciais do mês passado, derrotando o kirchnerismo.
REVOGAÇÃO DE CREDENCIAIS
A votação ocorria sem grandes contratempos, até a presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Tibisay Lucena, anunciar na tarde de domingo a revogação das credenciais dadas a vários dos observadores internacionais convocados pela oposição para acompanhar as eleições. O presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, pediu a expulsão de sete ex-presidentes da região. O CNE acusou-os de “ingerência em assuntos internos”.
Todas as pesquisas nas últimas semanas mostravam uma expressiva vantagem dos candidatos da MUD. Conquistando uma maioria simples, a oposição poderá investigar funcionários públicos e aprovar, por exemplo, o orçamento nacional e créditos adicionais, além de uma anistia para aqueles que consideram “presos políticos”.
Se conseguir uma maioria qualificada, teria o poder de censurar o vice-presidente e ministros, promulgar leis orgânicas, convocar uma Assembleia Constituinte e nomear ou destituir membros de outros Poderes, mas com autorização da mais alta corte do país, nas mãos do oficialismo.
Vencendo com ampla margem, haveria a possibilidade de convocar um referendo revogatório contra Maduro, constitucionalmente permitido a partir de abril de 2016, metade do seu mandato de seis anos.
O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) mantinha há 16 anos o controle da Assembleia Nacional, apoiando as políticas do falecido presidente Hugo Chávez e, a partir de 2013, as de seu herdeiro político, Maduro.
Fonte: oglobo
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