Testemunhas acusam a equipe de ter posto pistola falsa na cena do crime
Quatro policiais militares foram presos acusados de ter executado a tiros cinco jovens — dois deles, menores de idade —, no sábado à noite, em um dos acessos ao Morro da Lagartixa, em Costa Barros. Três foram autuados em flagrante por homicídio doloso e fraude processual e um deles apenas por fraude.
As vítimas estavam num Palio branco e haviam passado o dia no Parque Madureira. Os jovens deixaram a comunidade para fazer um lanche e, quando retornaram, por volta de 22h, foram surpreendidos pelos PMs do 41º BPM (Irajá). Os policiais teriam feito mais de 50 disparos, que podem ser de pistolas e fuzis. Os agentes envolvidos, em depoimento à polícia, disseram que os ocupantes de uma moto que seguia ao lado do carro e o passageiro que estava no banco do carona do veículo dispararam contra a guarnição.
“Foi uma barbárie”, diz pai
As primeiras informações levantadas pela perícia contradizem a versão dos PMs, segundo a polícia, que no entanto não deu detalhes. Quatro testemunhas compareceram à 39ª DP (Pavuna), que investiga o caso, e relataram que os jovens foram baleados pelos PMs sem tê-los atacado.
A polícia apreendeu, próximo ao veículo, uma pistola falsa. Segundo testemunhas, o objeto teria sido colocado no local pelos próprios policiais, para incriminar as vítimas. O caso, que inicialmente foi registrado como auto de resistência, lembra o do jovem morto no Morro da Providência, no Centro, em setembro, onde um vídeo feito por morador mostrou PMs colocando uma arma na mão do rapaz, quando ele ainda agonizava.
Os policiais presos agora — Thiago Resende Viana Barbosa, Marcio Darcy Alves dos Santos, Antonio Carlos Gonçalves Filho (por homicídio doloso e fraude processual) e Fabio Pizza Oliveira da Silva (apenas por fraude processual) — foram levados para o Batalhão Especial Prisional, em Niterói, na tarde de ontem.
As vítimas eram amigos de infância. Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20 anos, dirigia o Palio que foi atacado. Também estavam no carro Wesley Castro Rodrigues, de 25 anos, Cleiton Corrêa de Souza, de 18, Carlos Eduardo da Silva de Souza, de 16, e Roberto de Souza Penha, de 16.
Um dos motivos para a reunião dos cinco era celebrar o emprego novo de Roberto. Ele havia acabado de receber o primeiro salário pelo trabalho num mercado de vendas por atacado na Avenida Brasil. O rapaz conciliava a atividade profissional com os estudos na Escola Estadual Professor Murilo Braga, em São João de Meriti.
— A mãe dele está em choque. Foi uma barbárie. Nunca vi tanto tiro na minha vida — contou o pai de Roberto, o soldador Jorge Roberto Penha, de 48 anos.
Muito abalada, a mãe de Wilton, Márcia Oliveira, não conseguia completar as frases sem chorar. Ela contou que o jovem era bom aluno e terminava um curso profissionalizante de administração e contabilidade. O filho mais novo, de 16 anos, estava na moto que seguia ao lado do Palio. Ele viu o irmão ser morto.
— A gente paga impostos e o salário desses PMs para eles matarem nosso filho — emocionou-se o pedreiro Julio César, pai de Wesley.
UMA FRAUDE GRAVADA EM VÍDEO
No dia 29 de setembro, cinco policiais militares foram flagrados alterando a cena de um crime no Morro da Providência. Imagens gravadas por um celular revelaram que PMs puseram uma arma na mão de Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos, que havia sido baleado, e fizeram disparos, provavelmente com o intuito de deixar marcas de pólvora que sugerissem a ocorrência de um confronto. Dois moradores assistiram à cena, e um deles registrou o flagrante em vídeo. O rapaz, que agonizava, morreu.
A gravação foi entregue à Associação de Moradores do Morro da Providência, que, por sua vez, a repassou à PM.
De acordo com o laudo de necrópsia, o jovem foi morto à queima-roupa. Os policiais envolvidos foram presos por fraude processual. No último dia 9, os PMs tiveram um pedido de liberdade, feito pela defesa deles, negado pela Justiça. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, classificou as cenas como “absurdas” e “intoleráveis”.
Fonte: oglobo
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