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Sem insumos, Butantan interrompe produção da Coronavac

Instituto entrega 1,1 milhão de doses ao Ministério da Saúde e anuncia paralisação por falta de matéria-prima. Insumos estão retidos na China, o que Doria atribui a constantes ataques de Bolsonaro ao país asiático.

O Instituto Butantan anunciou nesta sexta-feira (14/05) a entrega de 1,1 milhão de doses da Coronavac ao Ministério da Saúde, mas também a suspensão completa da produção do imunizante contra a covid-19 por falta de insumos. Com a paralisação de produção da Coronavac, o ritmo de vacinação no estado de São Paulo tende a diminuir.

“A boa notícia é que temos a entrega de mais de 1,1 milhão de doses da vacina. A má notícia é que a partir de hoje [sexta-feira] o Instituto Butantan não pode processar novas vacinas”, disse o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em coletiva de imprensa na sede do Butantan.

Desde janeiro, o instituto repassou 47,212 milhões de doses da Coronavac ao Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde. A entrega desta sexta-feira faz parte do segundo contrato selado com o ministério, que prevê o fornecimento de 54 milhões de doses até setembro – o que totalizaria 100 milhões de doses.

Novas entregas não estão previstas e dependem da chegada de novos insumos. O Butantan divulgou que um lote de 10 mil litros de insumos da Coronavac está retido na China à espera de liberação para envio ao Brasil – essa quantidade é suficiente para produzir 18 milhões de doses da vacina.

“Ação agressiva de Bolsonaro dificulta relação com a China”

Doria atribui os entraves na importação aos constantes ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro a Pequim. “O governo federal sistematicamente ataca a China, ataca o povo chinês, e ataca a vacina da China”, disse o governador paulista em entrevista à DW. “O que é surpreendente, diante do fato de que é essa vacina que está salvando milhões de brasileiros contra a covid-19.”

A Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Butantan, responsável pela etapa derradeira na cadeia de produção da vacina no Brasil, corresponde a cerca de 70% das vacinas contra a covid-19 aplicadas até agora no país, segundo dados do Ministério da Saúde.

Segundo Doria, a “ação agressiva” de Bolsonaro em relação a Pequim “dificulta as ações dos governos, assim como do governo de São Paulo, na relação diplomática com a China”.

No início deste mês, em mais um ataque contra o governo chinês, Bolsonaro sugeriu que a China teria se beneficiado economicamente com a pandemia e afirmou que o vírus causador da covid-19 pode ter sido criado em laboratório – uma tese refutada pela investigação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as possíveis origens do Sars-Cov-2.

O governo de São Paulo afirmou que tem mantido um diálogo estreito com o embaixador do Brasil na China para conseguir a liberação da exportação dos insumos.

Covas acredita em recuperação do cronograma

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que o montante de insumos retido na China corresponde ao necessário para a produção da quantidade de doses previstas para serem entregues ao Ministério da Saúde em maio e junho. Covas admitiu que haverá atrasos nas entregas, mas afirmou também que o cronograma poderá ser recuperado em junho, assim que os insumos chegarem ao Brasil.

Quando questionado sobre possíveis cláusulas contratuais que poderiam garantir a entrega das doses compradas, Covas apenas relatou que o primeiro contrato com a Sinovac, que envolvia 46 milhões de doses, acabou de ser cumprido com apenas 12 dias de atraso, e que o segundo, de 54 milhões de doses, acabara de começar.

“Nesse momento, o que se atrasa é a previsão. Quer dizer, nós tínhamos em maio a previsão de entregar 12 milhões de doses, e vamos entregar um pouco mais de 5 milhões. Em junho, temos a previsão de 6 milhões de doses. Se o IFA [Ingrediente Farmacêutico Ativo] chegar muito rapidamente, vamos cumprir, vamos recuperar o cronograma de maio e vamos cumprir o de junho”, disse Covas.

Fiocruz receberá insumos ainda neste mês

A China é fornecedora de insumos tanto para a produção da Coronavac, produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, como da vacina de Oxford-AstraZeneca, produzida no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A Fiocruz anunciou nesta sexta-feira que também precisará interromper a fabricação de sua vacina por alguns dias na próxima semana, por falta de insumos. A produção deverá ser retomada após a chegada de uma nova remessa de ingredientes em 22 de maio, além de um carregamento subsequente em 29 de maio.

O anúncio da Fiocruz animou Covas, que espera que seja autorizada a liberação do envio de lotes da Coronavac nos próximos dias. “Existe a notícia oficial da Fiocruz, que ela teve uma liberação para embarque no dia 22. É uma boa notícia. Quer dizer, se começou a liberar, então, é possível que a gente também tenha uma boa notícia”, disse Covas.

Pelo menos 15 estados já paralisaram a aplicação da primeira ou da segunda dose da Coronavac por falta de vacina. Em São Paulo, ainda há doses para os grupos anunciados, que incluem pessoas com comorbidades e deficiência permanente entre 45 e 49 anos de idade, até 21 de maio.

FONTE: DEUTCHE WELLE

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