Em troca simultânea inédita, antigos comandantes deixaram os cargos na terça-feira, por rejeitarem uso político de Exército, Marinha e Aeronáutica.
O Ministério da Defesa anunciou nesta quarta-feira (31/03) os nomes dos três novos comandantes das Forças Armadas. É a primeira vez na história que os três comandantes são substituídos ao mesmo tempo sem que isso ocorra em meio a uma troca de governo.
Para o Exército, foi escolhido o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, atual chefe do Departamento-Geral de Pessoal (DGP) da corporação. Ele substitui o general Edson Pujol, que deixou o cargo na terça-feira, juntamente com os comandantes da Marinha e da Aeronáutica, por divergências com o governo.
Na Marinha, assume o almirante de esquadra Almir Garnier Santos, no lugar de Ilques Barbosa. Garnier deixará o comando da secretaria-geral do Ministério da Defesa.
Já o escolhido para comandar a Força Aérea Brasileira (FAB) é o tenente-brigadeiro Carlos Alberto Batista Júnior, atual comandante-geral de logística da corporação. Ele substitui Antônio Carlos Moretti Bermudez.
Recentemente, em entrevista ao jornal Correio Brasiliense, Paulo Sérgio apontou uma possível terceira onda de covid-19 no Brasil e a necessidade de um lockdown, em oposição às ideias do presidente Jair Bolsonaro, que é contra o isolamento social. Segundo interlocutores, a escolha seria uma forma de o governo diminuir a tensão após tentativas do governo de interferir nas Forças Armadas. Por outro lado, tanto Garnier quanto Baptista Junior têm perfil mais alinhado ao de Bolsonaro.
Ao anunciar os nomes, o novo ministro da Defesa, general Braga Netto, defendeu a democracia.
“A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira se mantêm fiéis a suas missões constitucionais de defender a pátria, garantir os poderes constitucionais e as liberdades democráticas. Nesse dia histórico, reforço que o maior patrimônio de uma nação é a garantia da democracia e a liberdade do seu povo”, disse.
Apesar da fala em prol da democracia, na terça-feira, Braga Netto, havia divulgado uma ordem do dia na qual defendia que se compreenda e se celebre o golpe militar de 1964, que instaurou uma ditadura de 21 anos no país. A publicação do texto foi a primeira manifestação pública do general, que assumiu a pasta após Fernando Azevedo e Silva deixar o governo, no dia anterior.
No breve anúncio desta quarta-feira, Braga Netto destacou, também, a participação das Forças Armadas no combate à pandemia de covid-19.
“Todo o governo federal e os poderes da República tem mobilizado seus esforços e energias para o enfrentamento dos impactos dessa epidemia. As Força Armadas são fatores de integração nacional e tem contribuindo diuturnamente nessa tarefa, com a operação covid-19, com inúmeras atividades, entre elas a de logística de transporte de EPIs e oxigênio, a evacuação de paciente de Manaus para todo país e a vacinação de povos indígenas em áreas remotas. Os militares não faltaram no passado e não faltarão sempre que o país precisar”, afirmou o ministro.
Divergências entre ex-comandantes e governo
Na terça-feira, Braga Nettohavia anunciado que substituiria os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. A decisão foi tomada na esteira da saída do ministro Fernando Azevedo e Silva da pasta da Defesa.
Na segunda-feira, os comandantes do Exército, Edson Pujol, da Marinha, Ilques Barbosa, e da Aeronáutica, Antônio Bermudez, já haviam se reunido e discutido a possibilidade de colocarem seus cargos à disposição, como um sinal de que não compactuariam com tentativas do presidente de usar as Forças Armadas em seu benefício.
A saída de Azevedo e Silva ocorreu em meio a uma minirreforma ministerial que envolveu trocas em seis pastas, mas foi a alteração mais rumorosa devido a movimentos frequentes de Bolsonaro para aprofundar a instrumentalização das Forças Armadas em benefício de seu projeto político. A saída do ministro provocou a maior crise na cúpula militar em décadas
Azevedo e Silva vinha resistindo a algumas dessas investidas do presidente, como pedidos para mobilizar o Exército para se contrapor aos governadores que declararam lockdown para reduzir a disseminação da covid-19. O ex-ministro também havia se recusado a demitir o comandante do Exército, Edson Pujol, que não agradava a Bolsonaro e em novembro de 2020 havia dito que “a política não pode entrar nos quartéis”.
Nos bastidores, vários militares de alta-patente fizeram chegar à imprensa que não queriam se envolver em alguma aventura golpista ou iniciativa que contrariasse a Constituição.
Antes de ser nomeado para a Defesa, Braga Neto era ministro da Casa Civil e tem a confiança de Bolsonaro. É atribuição do presidente definir os comandantes das Forças Armadas, em uma escolha que tradicionalmente segue uma lista elaborada por critério de antiguidade.
Desde o início da sua gestão, Bolsonaro tem se apoiado nos militares para preencher diversos cargos no governo. O presidente também faz elogios frequentes à atuação das Forças Armadas durante o regime militar e determinou a comemoração do golpe de 1964, que nesta quarta-feira faz 57 anos.
FONTE: DEUTCHE WELLE
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