A direção de arte é impecável, a trilha, deliciosa, e as cenas, sexy, glamorosas, divertidas e provocadoras
Obra de Ryan Murphy, o superprodutor e criador de séries como “O Povo Contra O.J. Simpson”, “Freud”, “Pose” e “Glee”, entre outras, “Hollywood” tem o seu DNA. A direção de arte é impecável, a trilha, deliciosa, e as cenas, sexy, glamorosas, divertidas e provocadoras.
Além disso, o casting tem três atores em seus melhores trabalhos.
O primeiro é Dylan McDermott, excelente como Ernie, o dono de um posto de gasolina que emprega meninos bonitos para encher os tanques e fazer programas. Ótimo desde a primeira cena, brilha quando encontra num bar um dos personagens centrais, Jack Castello, papel de David Corenswet, e decide recrutar o menino para trabalhar com ele. Mas, em vez de fazer logo uma proposta, decide começar a conversa com uma propaganda do tamanho de seu pênis.
Patti LuPone rouba todas as suas cenas como Avis, a mulher de um diretor de estúdio entediada e extremamente crítica que vira a primeira cliente de Jack e acaba tendo um papel central conforme a minissérie se desenrola.
Mas o mais surpreendente de todos é Jim Parsons, o übernerd de “The Big Bang Theory”, aqui na pele de Henry Willson, um agente de atores cruel, gay e manipulador, que usa seus talentos para bem mais do que ajudar os garotos na carreira. Uma das melhores cenas da série é aquela em que ele dança em casa para Rock Hudson, um de seus clientes, vestido como uma Isadora Duncan estilizada, rodeada de panos translúcidos. Você nunca o imaginará como Sheldon Cooper impunemente depois de ver isso.
Patti LuPone rouba todas as suas cenas como Avis, a mulher de um diretor de estúdio entediada e extremamente crítica que vira a primeira cliente de Jack no posto de gasolina e acaba se tornando uma das protagonistas conforme o desenrolar da minissérie.
O problema de “Hollywood” é também o grande trunfo da série – a mistura de realidade com ficção. E não é só porque você não tem como saber quais fatos são reais, quais são fake, mas sobretudo porque a trama central, de um grupo de jovens famintos pelo sucesso que se junta para fazer um filme dentro da série, é não só fictícia como completamente inverossímil.
O Rock Hudson da trama é abertamente gay e namora com um roteirista negro. Roteirista esse que emplaca seu primeiro filme num grande estúdio, nesse momento gerenciado por uma mulher, com um diretor meio asiático casado com uma atriz negra, que pega o papel principal.Na década de 1940. Em Hollywood. Fica parecendo que a mensagem é algo como “se as minorias e as mulheres da época fossem um pouco mais ambiciosas ou melhores pessoas, a indústria de cinema seria completamente diferente”.Se a conclusão da trama incomoda, apesar de entreter e deixar o espectador ligado até o último episódio com um novelão bem feito, as cenas talvez reais mais que intrigam.
Sabemos que Hudson não era abertamente gay, mas será que as festas do diretor George Cukor eram mesmo como mostra a série?Noel Coward gostava de dançar de rosto colado com garotões? Vivien Leigh achava que tinha mãos de homem? Anna May Wong era mesmo alcoólatra? E Hattie McDaniel, a primeira atriz negra a ganhar um Oscar, foi impedida de entrar na cerimônia?
Dá muito mais vontade de saber sobre o que acontece ao redor da trama principal do que com ela, e é impossível evitar um certo enfado com o curso certinho da história central.Dito isso, é quarentena, então se jogue na maratona.
HOLLYWOOD
Quando: disponível na Netflix a partir de 1º de maio
Direção: Ian Brennan e Ryan Murphy
Avaliação: bom
FONTE: FOLHAPRESS
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