Circulação de novo tipo do vírus pode acarretar em maior número de casos graves da doença, dando novas dimensões à epidemia já existente
A epidemia de um novo tipo de coronavírus, que afeta principalmente a China, preocupa brasileiros, inclusive o governo. Com razão. Mas há em território brasileiro uma ameaça muito mais direta do que o vírus chinês.
O virologista Maurício Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), afirma que, com as informações atuais, a dengue deve ser o maior problema que Brasil enfrentará neste ano.
Ele explica que a circulação de uma nova cepa do vírus, a dengue tipo 2, ao qual a população ainda não está imune, vai acarretar em uma epidemia nacional.
O infectologista Carlos Fortaleza, da SPI (Sociedade Paulista de Infectologia), acrescenta que uma vez adquirido um dos sorotipos de dengue, o paciente fica imune àquele tipo específico.
“Uma pessoa pode ter dengue quatro vezes, mas na segunda segunda vez, a tendência de ser dengue grave é maior”, afirma.
Como a população foi muito exposta ao vírus da dengue tipos 1 e 3 nos outros anos, os casos de dengue grave tendem a ser mais frequentes, na avaliação dos médicos.
Nogueira enfatiza que o coronavírus pode vir a ser um problema, mas que “enquanto temos transmissão sustentada apenas na China, nossa maior preocupação é a dengue. Mesmo que o coronavírus chegue no Brasil, até lá teremos uma epidemia de dengue”.
“Neste momento a sociedade civil não tem que fazer nada em relação ao coronavírus, se, eventualmente, tivermos a circulação do vírus no país, o que eu acho improvável, aí sim teremos recomendações: evitar aglomerações, fechamento de escola, de transporte público e etc. Agora o importante é se informar nas fontes oficiais”, afirma Fortaleza.
Nogueira enfatiza que a contenção da dengue é uma responsabilidade individual.
“O mosquito transmissor vive na nossa casa. Não podemos esperar que os órgãos públicos tomem conta das nossas casas.”
Segundo o último boletim do Ministério da Saúde, foram notificados 30.763 casos prováveis de dengue em 2020. São Paulo concentra 33,4% dos casos prováveis.
Até o momento, foram confirmados cinco óbitos por dengue por critério laboratorial, 27 permanecem em investigação.
“Comprar máscara agora é histeria coletiva. Nosso foco tem que ser dengue. Tem gente morrendo de dengue neste momento, e não temos nenhum caso confirmado de coronavírus aqui até agora”, afirma Nogueira.
A campanha de vacinação contra o sarampo continuará em 2020, segundo o último boletim do Ministério da Saúde sobre o assunto.
Os especialistas afirmam que o Brasil caminha para o controle da doença, mas ressaltam que houve no país uma epidemia importante de uma doença que já havia sido erradicada.
A infectologista Rosana Richtmann, médica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que a epidemia teve mais casos em São Paulo porque doença ainda existe em outros países e a cidade é porta de entrada de visitantes internacionais.
O virologista da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto destaca que para prevenir uma epidemia de sarampo, é necessário ter 95% das pessoas vacinadas e que, em uma população totalmente desprotegida, o r0 da doença pode chegar a 20. O r0 é a médica de quantas pessoas um único paciente infectado pode contaminar.
No período entre 22 de setembro e 14 de dezembro de 2019 foram confirmados 2.710 casos de sarampo, 11.056 ainda estão em investigação, de acordo com o Ministério da Saúde.
Os casos confirmados desse período representam 17% do total em 2019. No ano passado, foram confirmadas 15 mortes pela doença, 14 no estado de São Paulo e um em Pernambuco.
FONTE: R7.COM
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