Em setembro passado, Época revelou que um gerente da Petrobras desviou R$ 57,4 milhões de contratos de publicidade e patrocínio em 2008, segundo relatório interno da estatal. Geovane de Morais foi demitido por justa causa em agosto de 2013. Novos documentos mostram agora como a então gerente-executiva de Abastecimento da Petrobras, Venina Velosa da Fonseca, detectou o rombo milionário. Venina e Geovane eram subordinados ao ex-diretor Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava Jato no início deste ano por receber propina de empreiteiras.
Na semana passada, o jornal Valor Econômico revelou que Venina alertou diversas vezes a diretoria da Petrobras sobre esquemas de desvio de dinheiro. Entre 2009 e 2011, segundo o jornal, Venina enviou e-mails à presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, então diretora de Gás e Energia. Na terça-feira (16), a Petrobras divulgou nota na qual afirma que Foster só tomou conhecimento das suspeitas em mensagem enviada por Venina no dia 20 de novembro de 2014. “A presidente não foi informada sobre as referidas irregularidades antes.”
Os documentos obtidos por ÉPOCA revelam que, em 11 de dezembro de 2008, Venina relatou ao gabinete do então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, suspeitas de desvios em contratos de publicidade e patrocínio na gerência de Comunicação da diretoria de Abastecimento. Venina disse que Geovane, que exercia o cargo de gerente de comunicação, gastara R$ 140 milhões entre janeiro e novembro de 2008, valor muito acima do limite de despesa, fixada em R$ 30 milhões. O gabinete de Gabrielli criou uma comissão de investigação que, duas semanas depois, recomendou à diretoria de Abastecimento uma apuração mais detalhada.
No começo de 2009, em documento enviado a Paulo Roberto, Venina relatou que Geovane fez pagamentos milionários sem comprovação de que os serviços haviam sido realmente prestados. Conforme a reportagem do Valor Econômico, Paulo Roberto, ao ser informado das irregularidades, apontou para Venina uma foto do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e perguntou se ela queria “derrubar todo mundo”.
Em despacho escrito de próprio punho, Paulo Roberto mandou criar uma nova comissão interna para apurar as suspeitas. A investigação descobriu um rombo de R$ 57,4 milhões. Geovane obteve licença médica e se afastou da estatal. Ele continuou a receber salário integral de R$ 16,4 mil, com direito a participação nos lucros da empresa, até ser demitido em agosto de 2013. Paulo Roberto deixou a Petrobras em abril de 2012.
Uma semana após a demissão, Geovane entrou com uma ação trabalhista na 33ª Vara do Trabalho de Salvador, cidade onde mora. No processo judicial, Geovane afirma que recebia ordens para gastos de última hora dos “escalões superiores, a quem devia obediência”. “Nessas circunstâncias não há como barganhar preço e cumprir todas as formalidades”, disse. Sem mencionar nomes, Geovane citou a inauguração de uma refinaria. Ele precisou organizar a cerimônia em 24 horas porque “políticos importantes iriam participar para melhorar o ibope em campanhas ou índices de aprovação de seu governo”.
Na ação, Geovane tenta argumentar que não teria cometido falhas graves. Alega que apenas seguiu “procedimentos usuais na Petrobras com expressa anuência dos superiores imediatos”. Em sua defesa, afirma que seus chefes, se quisessem, poderiam ter bloqueado sua senha de acesso ao sistema de pagamento da estatal, evitando qualquer irregularidade.
Procurada por ÉPOCA, a Petrobras afirmou que sua investigação interna não detectou falhas dos superiores hierárquicos de Geovane. “A comissão interna de apuração identificou que a responsabilidade pelas irregularidades foi do ex-gerente”, disse a estatal. A Petrobras diz que decidiu demitir Geovane em abril de 2009, mas não conseguiu concretizar a demissão porque o ex-gerente estava de licença médica.
Fonte: ÉPOCA
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