Desde a queda da barragem de Brumadinho, os moradores de Porto Velho viraram alvo de Fake News, principalmente sobre um possível rompimento da Usina de Jirau. Do dia para noite, surgiram vídeos e fotos, além de mensagens via aplicativo que ‘alertavam’ para um possível rompimento da UHE Jirau.
O ‘tumulto’ na internet foi tanto que ensejou uma visita técnica da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros que atestaram que não existe infiltração nas dependências da Usina.
Mas onde tem fumaça, tem fogo, já diz o ditado popular. E o Rondoniaovivo fez uma pesquisa em arquivos abertos sobre algo que pudesse ligar o ‘sinal de alerta’ e que merece uma investigação mais profunda.
A Usina de Jirau foi construída em outro ponto do Rio Madeira, cerca de 10 quilômetros abaixo do local previsto. Na época, com a mudança de local, conseguiram reduzir o custo da obra, já que tiveram que remover menos material nas escavações do ‘alicerce’.
Acontece que com a mudança, ficaram mais perto também de outra Hidrelétrica, a SAE – Santo Antônio Energia. Quando os construtores de ‘Santo Antônio’ resolveram otimizar a produção de energia, pedindo o aumento da cota de seu reservatório, começou uma guerra envolvendo diversos órgãos, entre eles: Agência Nacional de Águas (ANA), ao Ibama, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Neste embate, veio à tona um grave problema. Com elevação da cota, a curva de remanso se aproximaria muito de Jirau e poderia provocar danos.
DESCOLAMENTO DO VERTEDOURO
Em entrevista à revista Valor Econômico, datada de 25 de outubro de 2011, o engenheiro presidente da Jirau, Vitor Paranhos fez alertas contundentes. Confira abaixo trecho da reportagem:
Paranhos reforça isso e diz que, “se for aprovado, o aumento do reservatório da usina vizinha compromete a barragem de Jirau, que fica antes de Santo Antônio, considerando-se o fluxo do rio Madeira, ou à jusante, no jargão técnico”. Segundo ele, são efeitos inaceitáveis sobre Jirau, que vão provocar danos estruturais que comprometem a operação da usina.
A tendência é do vertedouro (de Jirau) descolar. O aumento da cota do reservatório de Santo Antônio representa esforço adicional de 1,2 tonelada por m². São impactos estruturais. Não vamos aceitar esse tipo de risco”, afirma, ressaltando que se trata de investimento de R$ 13 bilhões, até o momento.
ALAGAÇÕES E CHEIAS
Em outra entrevista, desta vez para o Jornal O Globo, datada de 10/11/2012, Vitor Paranhos avisou sobre possíveis impactos que a capital e distritos poderiam sofrer com a elevação da cota do reservatório de Santo Antônio. Vale ressaltar que a entrevista foi quase premonitória, já que em 2014, a capital sentiu este efeito avisado por Paranhos.
Confira abaixo:
“A proposta de esvaziamento rápido do reservatório na época de cheia, previsto no pedido, criaria um tsunami na região. É um crime ambiental e social, podendo afundar balsas e atingir ribeirinhos e pescadores”, afirmou Victor Paranhos, diretor-presidente do consórcio responsável por Jirau.
A elevação da cota (profundidade do reservatório) de Santo Antônio reduziria a queda d’água em Jirau, que fica antes (de Santo Antônio) no curso do Rio Madeira. Essa elevação de cota pretendida implicaria, segundo os argumentos de Jirau, queda na sua geração de energia e um impacto socioambiental bastante significativo, com riscos de alagar, no período de chuvas, parte da cidade de Jaci-Paraná (RO), além da rodovia BR-364 e da Ferrovia Madeira-Mamoré, que têm pontes atravessando o rio.
Em outra entrevista, veio novo alerta sobre impactos na infraestrutura da Usina de Jirau. O título era “Santo Antônio desrespeita limite operacional e prejudica Jirau – Jornal da Energia 20/02/14”. Confira parte da entrevista:
A notificação, datada de 6 de fevereiro, foi endereçada ao presidente da Santo Antônio Energia, Eduardo de Melo Pinto, com cópia à Agência Nacional de Águas (ANA), ao Ibama, à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Segundo a ESBR, a altura máxima suportada por Jirau é de 74,8 metros em relação ao reservatório da usina de Santo Antônio.
“As estruturas da UHE Jirau foram projetadas considerando uma cota máxima do remanso do reservatório da UHE Santo Antônio de 74,8M a jusante do barramento da UHE Jirau”, detalha o documento. Esse nível de água garantiria o atendimento aos requisitos as normas técnicas brasileiras e aos critérios de projeto no que diz respeito à segurança e estabilidade de Jirau.
Paranhos reforça isso e diz que, “se for aprovado, o aumento do reservatório da usina vizinha compromete a barragem de Jirau, que fica antes de Santo Antônio, considerando-se o fluxo do rio Madeira, ou à jusante, no jargão técnico”. Segundo ele, são efeitos inaceitáveis sobre Jirau, que vão provocar danos estruturais que comprometem a operação da usina.
Resumindo, por diversas vezes, o presidente da Jirau Vitor Paranhos colocou em cheque a estabilidade da infraestrutura, caso a elevação da cota do reservatório de Santo Antônio fosse autorizado.
Mas os alertas de nada adiantaram, já que em abril de 2018, ignorando todos os sinais, os deputados estaduais aprovaram a elevação do reservatório.
A contra partida que foi oferecida contempla a compensação de R$ 30 milhões para Porto Velho e de cerca de R$ 1 milhão para cada um dos 51 municípios de Rondônia.
DÚVIDAS
Nesta guerra sobre elevação de cota, ficou a dúvida. Quem está mentindo? Jirau ou Santo Antônio? “Existe realmente perigo como ‘descolamento de Vertedouro” ou danos a infraestrutura de Jirau? Ou era tudo balela para tentar impedir aumento do reservatório de Santo Antônio.
O Rondoniaovivo enviou solicitação de entrevista sobre o tema. Até conseguiu uma autorização para visitar a UHE Jirau nesta terça-feira (26), mas após enviarmos os assuntos que seriam tratados a visita foi cancelada.
FONTE: RONDONIAOVIVO.COM
Add Comment