Ganhos com geração de emprego, renda e turismo compensam e ultrapassam os gastos com investimentos no setor, afirma Instituto Trata Brasil. Prazo de 20 anos é baseado no Plano Nacional de Saneamento Básico.
A universalização do saneamento básico traria ao país benefícios econômicos e sociais de mais de R$ 1,1 trilhão em 20 anos, segundo um estudo do Instituto Trata Brasil divulgado nesta quarta-feira (7). Isso quer dizer que os ganhos com a expansão dos serviços de água e esgoto no Brasil são maiores que os custos para investir no setor. Os setores mais beneficiados são os de saúde, educação, turismo, emprego e imobiliário.
Segundo os dados de 2016 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), apenas 51,9% dos brasileiros têm acesso à coleta de esgoto, o que significa que mais de 100 milhões de pessoas utilizam medidas alternativas para lidar com os dejetos – seja através de uma fossa, seja jogando o esgoto diretamente em rios. Quanto ao acesso a água, 35 milhões de brasileiros seguem sem conexão com o sistema.
Segundo o estudo, caso o saneamento fosse universalizado hoje, os custos de infraestrutura chegariam a R$ 241,3 bilhões. Considerando o aumento de despesas nas contas das famílias com os novos serviços de água e esgoto, o custo total chegaria a R$ 395,6 bilhões em 20 anos.
Com a universalização do saneamento, porém, o país teria uma série de benefícios nesses próximos anos que tornariam as contas positivas. Eles vão desde a redução dos custos com a saúde até a renda gerada pelo aumento de operação da cadeia produtiva do setor. Essa renda chegaria a R$ 1,5 trilhão. No final, o balanço positivo é de mais de R$ 1,1 trilhão para o país, aponta o estudo.
Investimento transversal
Segundo Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, os ganhos da universalização do saneamento são amplos por se tratar de um investimento transversal – ou seja, que envolve diversas áreas da sociedade.
Os maiores retornos viriam das próprias cadeias produtivas do saneamento: a renda gerada pelo investimento direto no setor (ampliando redes, construindo estações de tratamento, etc.) seria de R$ 301,9 bilhões, e a renda gerada pelo aumento de operação das empresas responsáveis pelo saneamento (contratando mais empregados, aumentando a compra de produtos químicos, etc.) chegaria a R$ 489,9 bilhões.
Saúde e produtividade
Existem, ainda, os efeitos indiretos do saneamento. Por exemplo, com a universalização, R$ 5,9 bilhões devem ser economizados em 20 anos com a melhora das condições de saúde dos brasileiros que hoje sofrem com doenças decorrentes da falta de saneamento. Esse valor considera principalmente despesas de internações no SUS.
De acordo com o estudo, em 2013, considerando apenas as internações por conta de doenças gastrointestinais infecciosas, foram 391 mil hospitalizações. Somente o SUS pagou R$125,5 milhões por estes serviços.
Além disso, o estudo aponta que, em média, as pessoas ficam longe do trabalho 3,3 dias por afastamento. Consequentemente, a universalização também traz ganhos de produtividade dos trabalhadores, pois as faltas diminuem.
Édison Carlos também faz um paralelo entre produtividade e educação, já que crianças que moram em casas sem acesso aos serviços básicos têm níveis de escolaridade piores que aquelas com acesso a saneamento. Um estudo do Trata Brasil publicado em outubro deste ano apontou que meninas sem acesso a banheiro apresentam 46 pontos a menos em média no Enem quando comparadas à média dos estudantes brasileiros.
De acordo com o atual estudo, como a escolaridade afeta positivamente a produtividade e a renda dos trabalhadores, uma escolaridade menor significa uma perda de produtividade e de remuneração do trabalho. Por isso, se for dado acesso aos serviços de coleta de esgoto e de água tratada a um estudante que hoje não tem esses serviços, espera-se uma redução de 3,6% em seu atraso escolar. Isso eleva a produtividade do trabalho das gerações futuras, com efeito sobre sua remuneração.
Valorização imobiliária e turística
Édison Carlos também destaca que os problemas decorrentes da falta de saneamento vão muito além de saúde e suas implicações nos níveis de educação e de produtividade. Um dos setores mais beneficiados com a universalização, por exemplo, seria o imobiliário. O ganho para os donos de imóveis que alugam ou que vivem em moradia própria poderia alcançar R$ 22,3 bilhões por ano. Isso porque a ligação de uma moradia às redes de distribuição de água e de coleta de esgoto permite elevar o valor do imóvel em quase 33%, aponta o estudo.
“Condomínios e bairros que têm proximidade com córregos são mais afetados. Com a universalização dos serviços, bem como com a despoluição do rio, você dá um salto muito alto no valor dos imóveis”, afirma Carlos.
Essa valorização também afeta o setor de turismo, que fica em alta com as condições ambientais favoráveis. De acordo com o estudo, os ganhos podem chegar a R$ 42,8 bilhões em 20 anos, resultando em renda maior para os trabalhadores do setor, maiores lucros para as empresas e mais impostos para os governos, principalmente de cidades que recebem tributos sobre os serviços e as atividades de turismo.
“O meio ambiente [mais cuidado] dá uma condição de vida melhor para as pessoas e também torna aquele bairro mais atrativo não só para quem quer comprar uma casa, mas também para um turista. Não há turismo em condição ambiental degradada”, diz Carlos.
Investimento lento
Mesmo com os diversos benefícios, o investimento no setor segue lento. De acordo com o estudo, considerando a inflação, serão necessários R$ 443,5 bilhões em 20 anos para que toda a população tenha acesso aos serviços de água e esgoto. Ou seja, o país precisaria de um investimento anual mínimo de R$ 22,2 bilhões. Em 2016, porém, foram investidos R$ 11,5 bilhões.
Carlos destaca o atual período político do país, com o novo governo de Jair Bolsonaro (PSL) tomando posse em janeiro de 2019. Além disso, o Congresso está discutindo uma medida provisória que muda o marco legal do saneamento básico.
“Estamos falando muito da nossa preocupação sobre o aumento do investimento. Nem o setor privado nem o público [de cidades e estados] estão conseguindo dar conta, então o governo federal tem um papel importante. O novo governo vai ser fundamental”, afirma Carlos.
FONTE: G1.COM
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