Em meio a reportagens negativas, jornalistas analisam imagem da cidade a 1 mês da Rio 2016. Problemas podem ser esquecidos quando a pira olímpica for acesa.
Piadas grosseiras, críticas devastadoras e comentários mordazes. Quanto mais perto chega a Olimpíada, mais os problemas do Rio são expostos no exterior. Nas últimas semanas, a mídia internacional vem relatando a situação do país, do Estado e do Município com alarde. Violência, calamidade pública do Estado, vírus da zika, ausência de clima para os Jogos na cidade e obras ainda a serem finalizadas estão entre os problemas nos holofotes mundo afora.
A Olimpíada do Rio foi alvo das piadas do apresentador americano Stephen Colbert, que passou cinco minutos da abertura de seu programa, o Late Show, debochando dos Jogos. Inspirado na violência urbana, lançou um novo slogan: “Brasil, venha pelos esportes, e fique porque está morto”. O New York Times detalhou a crise econômica, citou o atraso na obra do metrô e projetou lucros bem inferiores aos gastos com a organização dos Jogos. Ainda mais duro (e grotesco) foi o estúdio asiático Tomo News. No mais recente vídeo, exibe atletas sendo assaltados no pódio e levando tiros na cabeça, além de reproduzir a queda da ciclovia Tim Maia, que matou duas pessoas em abril. São apenas três exemplos de uma chuva de críticas do olhar estrangeiro no Rio.
Em entrevista à TV americana CNN exibida nesta segunda-feira, o prefeito Eduardo Paes criticou o governo estadual pelo “péssimo trabalho na segurança” e se mostrou aliviado pela presença das Forças Armadas durante os Jogos. Sobre a zika, que tem causado a desistência de alguns atletas, o prefeito disse que é mais fácil ser contaminado na Flórida neste momento do que no inverno do Rio. Sobre a imagem da cidade, Paes relatou tragédias nos Estados Unidos, como o atentado a uma boate gay em Orlando e um jacaré que matou uma criança na Disney: “Problemas acontecem em todo lugar. Em uma cidade olímpica eles crescem”.
O GloboEsporte.com ouviu jornalistas que moram ou conhecem o Rio para avaliar como está a imagem do Rio no exterior. Eles lamentam que a cidade tenha perdido a chance de resolver os seus problemas, mas acreditam que durante os Jogos haverá um “alívio”, como aconteceu com a Copa do Mundo.
Jo Griffin, do Guardian, morou no Rio e costuma visitar a cidade com regularidade. Fez matérias sobre a gentrificação de áreas que receberam obras.
– Os Jogos do Rio foram uma oportunidade perdida para fazer o Rio mais justo e igual e melhorar a condição de vida de muitas pessoas na áreas mais pobres. Faltando um mês para os Jogos parece que o Rio está em crise por todo os lados – educação, saúde e a falência do projeto das UPPs. Amo o Rio e sua gente e espero que estes Jogos sejam uma virada para no futuro – mais responsabilidade, transparência e desenvolvimento olímpico.Para muitas pessoas que vivem fora do Brasil, o Rio segue com a imagem de sempre: empolgante e perigoso na mesma medida. Algumas pessoas duvidam que as obras olímpicas ficarão prontas. Notícias sobre a crise na educação dificilmente chegam a nós. Ouvimos mais sobre a violência com pouca explicação sobre o contexto – afirmou a jornalista.
John Branch, do New York Times, esteve no Rio algumas vezes para matérias especiais sobre os problemas e os preparativos da cidade para os Jogos:
– Em todas as Olimpíadas nós investigamos as cidades-sede e o país, para determinar o seu nível de preparação – construções, segurança, direitos humanos e outras coisas. Parece que o Rio tem mais problemas do que as cidades olímpicas anteriores – águas poluídas e zika, problemas nas obras e violência, tumulto político e caos econômico. De fora parece que tudo de ruim que poderia acontecer aconteceu. Aqui nos Estados Unidos o sentimento é que há tantos problemas pelo mundo, não apenas no Brasil, e questionamos por que colocamos tanto tempo, dinheiro e esforço em algo como as Olimpíadas. Mas em Olimpíadas anteriores a maioria destes problemas parecem ter sido esquecidos assim que a pira é acesa e os Jogos começam. O evento e a empolgação encobrem os grandes problemas. Acredito que durante os Jogos o Rio vai oferecer um alívio temporário para muitas pessoas que vão se empolgar com as competições e a boa atmosfera dentro das arenas, esquecendo por algum tempo todos os problemas de fora.
Arturo Lezcano é correspondente de veículos espanhóis no Brasil há cinco anos, como a rádio Cadena Cope e o jornal El Español. Ele acredita que a empolgação com os Jogos na cidade só virá muito perto do início da competição, como na Copa do Mundo.
– O que eu percebo a maior parte das coisas que o mundo vai ver por televisão está pronta. Ou os que vierem visitar ou assistir também não vão perceber os maiores problemas da cidade, especialmente a violência e a saúde. Não vejo muito clima ainda, mas com a Copa do Mundo aconteceu a mesma coisa. A imprensa internacional enviada perguntava aos correspondentes 15 dias antes como estava a atmosfera. Não tinha. Mas chegou o evento e a cidade mudou e se empolgou. Acho que agora pode acontecer a mesma coisa.
Procurada pelo GloboEsporte.com a Prefeitura disse que vai se pronunciar nesta terça-feira, durante coletiva que marca um mês para os Jogos, na Praça do Trem, no Engenhão.
Fonte: GloboEsporte
Add Comment