Despesas com a estadia excedente das embarcações que aguardam a chegada dos caminhões gera prejuízo à cadeia de grãos, porém, problema ainda não impacta cotações da soja no mercado.
Fila de caminhões, falta de pavimentação, chuva e atoleiros compõem o cenário da rota de escoamento de grãos do Mato Grosso ao Arco Norte, a rodovia BR-163. Até a última semana, o prejuízo estimado pelo setor agrícola era de ao menos US$ 400 mil diários.
Cálculos da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) indicam que o valor das perdas refere-se a cada dia em que os portos ficam impedidos de embarcar mercadorias, por conta dos custos de elevação e demurrage (que é estadia excedente dos navios à espera da carga). Ainda há possibilidade de danos com descumprimento de contratos, riscos financeiros de armazenagem e até mesmo para a imagem do Brasil.
“Dois trechos da rodovia localizados no Pará, um de 52 quilômetros e outro de 37, não estão pavimentados. O segundo é formado por pontos de muita argila, onde os caminhões não conseguem andar quando chove”, explica o presidente da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Edeon Vaz Ferreira.
As chuvas reduziram a capacidade de tráfego de 800 para 100 caminhões por dia. Do dia 14 de fevereiro até a última sexta-feira (24) não chegaram caminhões nos terminais fluviais de Miritituba (PA), enquanto pelo menos dois mil veículos carregados de soja, milho e algodão estavam parados nos trechos.
De acordo com as associações, caminhoneiros levavam 14 dias para transportar a mercadoria em um percurso de mil quilômetros. Nesse período, teria sido possível fazer uma viagem de ida e volta para Santos (SP) ou Paranaguá (PR).
Na quinta-feira (23), a colheita da safra de soja chegou a 36% da área nacional, segundo levantamento da consultoria AgRural. O número representava avanço de dez pontos percentuais em uma semana, superava os 33% do ano passado e os 28% da média de cinco anos. Mato Grosso segue na dianteira, com 65%.
Impactos
“Ainda é difícil mensurar as perdas de produtividade e qualidade, mas a expectativa é de que não tenham impacto significativo sobre a produção total de Mato Grosso, já que a produtividade de outras regiões é bastante alta”, avalia a analista de mercado da AgRural, Daniele Siqueira.
A precificação também não chegou a ser afetada, pois, segundo o analista da consultoria AgResource localizada em Chicago, Tarso Veloso, os portos do Arco Norte devem embarcar sete milhões de toneladas de soja, de um total de 107 milhões de toneladas. “As compras não foram canceladas e a produção não foi perdida”, justifica o especialista.
Veloso lembra que é importante que o mercado se mantenha em alerta para a situação, mas, para ele, não havia expectativa de muita chuva no decorrer dessa semana.
Já o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antônio dos Santos, acredita que o alto índice pluviométrico, instalado na região Norte desde o início de fevereiro, deve se estender ao longo do mês de março. O Nordeste, que viveu uma de suas secas mais severas no início deste ano, tende a apresentar chuvas irregulares.
“Para o escoamento até os portos ainda será necessário ter muito cuidado. Vai haver muita chuva entre o Maranhão e o Pará em um período de embarque intenso”, enfatiza o especialista no clima.
Apesar da condição climática, a Abiove e a Anec responsabilizam o governo federal pela má situação das estradas. O asfaltamento dos 178 km da BR-163 são, sobretudo, dever do Ministério dos Transportes e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). “Os trabalhos do controle de tráfego e ordenamento são do Ministério da Justiça e da Polícia Rodoviária Federal. Cabe também ao Departamento de Engenharia do Exército dar o suporte necessário para obras emergenciais”, esclarecem as entidades.
Soluções
Questionado pela reportagem, o Dnit informou em nota que o governo federal desencadearia, ainda no Carnaval, ação para atendimento emergencial àqueles que se encontram parados nas filas, inclusive com distribuição de mantimentos, água e medicamentos.
As equipes do Dnit se somarão ao efetivo da Polícia Rodoviária Federal e do Exército com o objetivo de ordenar o trânsito e permitir a liberação do tráfego.
“As equipes de conservação não vêm podendo executar de forma plena seus trabalhos devido à ação dos caminhoneiros, que formam fila dupla e, antes mesmo da finalização dos serviços, avançam sobre os segmentos inconclusos”, critica o departamento.
Ferreira, da Câmara Setorial, acrescenta que as medidas emergenciais foram fruto de decisões tomadas pelo Dnit junto à Casa Civil.
Fonte: DCI
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