Treinadores estrangeiros que vieram nos últimos anos, como Osorio, Bauza e Paulo Bento, não conseguiram sucesso no país
Um dos efeitos do 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil na Copa de 2014 foi trazer à discussão a importância de treinadores estrangeiros no país. Desde então, alguns dos grandes clubes brasileiros foram buscar fora do mercado nacional nomes que pudessem trazer novidades táticas ao futebol pentacampeão mundial, mas o resultado não foi positivo.
Nos últimos três anos, passaram por aqui o colombiano Juan Carlos Osório, em 2015, o argentino Edgardo Bauza, em 2016, ambos no São Paulo, o português Paulo Bento, no Cruzeiro, em 2016, e o uruguaio Diego Aguirre, primeiro no Internacional (2015) e depois no Atlético-MG (2016). Nenhum deles obteve sucesso, e todos já deixaram o Brasil para continuar a carreira internacional.
O desafio de Reinaldo Rueda, novo técnico do Flamengo, é mudar esse estigma recente. Apesar da experiência internacional em seleções – Honduras (Copa de 2010) e Equador (Copa de 2014) -, o treinador colombiano dirige pela primeira vez um clube fora do seu país. E chega em um momento conturbado: em queda livre no Brasileiro, o Flamengo vem de três derrotas na competição. Quarta-feira, Rueda já estreia em clima de decisão, no jogo de ida contra o Botafogo pela semifinal da Copa do Brasil, no Nilton Santos.
– Só os resultados vão mostrar se vamos romper esse paradigma ou se o futebol brasileiro definitivamente não é para treinadores estrangeiros. Esperamos que isso acabe. Vamos assumir sabendo que temos metas imediatas e metas a médio prazo e vamos apostar no êxito.
Diretor-executivo de futebol rubro-negro, Rodrigo Caetano vê a necessidade de uma mudança de postura de dirigentes, torcida e imprensa em relação às cobranças para que Rueda consiga cumprir seu contrato, que vai até o fim de 2018.
– Que tenhamos respeito e tolerância com os bons profissionais, porque assim teremos um aprendizado maior. O Flamengo luta contra essa mudança contínua, e seu último exemplo fala por si. Zé Ricardo era o técnico de maior longevidade na Série A quando saiu, um técnico forjado no clube e que teve respaldo até o dia em que decidimos mudar – obervou Caetano.
Para Muricy, falta paciência dos dois lados
Comentarista do Sportv e ex-treinador, Muricy Ramalho acredita que o ideal seria que Rueda tivesse pelo menos até o fim do ano para se adaptar ao clube e ao futebol brasileiro, e só então, a partir de 2018, começasse a ser cobrado por resultados. Mas a realidade, de acordo com ele, é bem diferente.
– Os dirigentes vão falar que ele (Rueda) terá tempo para se adaptar, mas é tudo conversa fiada. Na hora, o que vai contar é se a bola entrou ou não, o que vai valer é o resultado. Ninguém vai querer saber se o trabalho do cara é bom ou não.
Ao analisar o histórico recente, Muricy também vê um problema nos treinadores que vêm de fora: após o primeiro insucesso, arrumam as malas e deixam o Brasil.
– Dos estrangeiros que passaram por aqui, quem deu mais certo foi o Aguirre, justamente porque já conhecia um pouco o futebol brasileiro, por ter jogado aqui – lembra o treinador quatro vezes campeão brasileiro por São Paulo (2006-07-08) e Fluminense (2010).
Como jogador, Diego Aguirre atuou no Brasil entre 1988 e 1991, com boa passagem pelo Internacional, e depois por São Paulo e Porguesa. Retornou ao Beira-Rio como treinador em 2015 e conquistou o Campeonato Gaúcho, mas deixou o Inter em agosto, após a eliminação na semifinal da Libertadores. Assumiu o comando do Atlético-MG em 2016. Ficou apenas cinco meses no cargo: pediu demissão após uma saída precoce na Libertadores, nas oitavas de final, e a perda do Campeonato Mineiro para o América-MG.
O Cruzeiro também experimentou em 2016 o trabalho de um técnico estrangeiro, o português Paulo Bento, que havia dirigido a seleção lusa no Mundial do Brasil. Foi demitido menos de três meses depois, com oito derrotas em 17 jogos, e o time na zona de rebaixamento do Brasileiro.
Time da Série A que mais apostou em técnicos estrangeiros nos últimos anos, o São Paulo viveu duas situações curiosas: foram os treinadores que deixaram o clube. Colombiano e ex-comandante do Nacional de Medellín, como Rueda, Juan Carlos Osorio chegou ao Morumbi no fim de maio de 2015 com contrato de dois anos. Quatro meses depos, aceitou o convite da Federação Mexicana para dirigir a seleção do país – o México lidera a fase final das Eliminatórias da Concacaf e está muito perto da vaga na Copa da Rússia.
Para 2016, o tricolor paulista apostou novamente na importação: trouxe o argentino Edgardo Bauza, técnico campeão da Libertadores de 2014 com o San Lorenzo. Outra decepção: em agosto, Patón Bauza trocou o São Paulo pela seleção argentina, onde ficou apenas nove meses – hoje, dirige a seleção dos Emirados Árabes Unidos.
Você sabia? Estrangeiros brilharam no passado
- No Vasco, o ex-atacante inglês Harry Welfare ficou dez anos no comando (1927-1937). É até hoje o treinador do clube que ficou mais tempo seguido no cargo, tendo conquistado três títulos cariocas no período (1929, 1934 e 1936).
- No Flamengo, o segundo treinador com mais jogos à frente do time (504) é o paraguaio Fleitas Solich, tricampeão carioca em 1953-54-55 e campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1961.
- O uruguaio Ondino Vieira marcou seu nome na história do Fluminense: ganhou três títulos cariocas (1938, 1940 e 1941) e um Rio-São Paulo (1940), e ainda hoje é o segundo treinador que mais dirigiu a equipe, com 297 jogos, 27 à frente de Abel Braga, o terceiro.
- O argentino José Poy, quatro vezes campeão paulista como jogador do São Paulo, é o terceiro que mais treinou o tricolor paulista, com 422 jogos em cinco passagens entre as décadas de 60 e 80, embora tenha ganho apenas um título como técnico, o Paulistão de 75. O quinto na lista de técnicos do São Paulo é outro gringo, o português Joreca, com 172 jogos entre 1943 e 1947 e três títulos paulistas ((1943, 1945 e 1946).
Fonte: Globoesporte
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