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Remdesivir desponta como maior esperança em combate contra ao Covid-19

Pesquisas sobre o uso da substância contra os efeitos da doença não são conclusivas, mas parecem promissoras — até o momento

Na busca internacional e sem precedentes para combater um vírus, há duas frentes. Uma é a produção de uma vacina eficiente e segura para imunizar boa parte da população mundial, o que transformaria o novo coronavírus num mal menor. A outra aposta dos cientistas e médicos é descobrir medicamentos que aplaquem os efeitos de quem já sofre o processo inflamatório acelerado provocado pela Covid-19. Embora sejam complementares, os dois esforços seguem caminhos diferentes. A pesquisa da vacina se beneficia do conhecimento acumulado, mas ela terá de ser criada. No caso dos medicamentos, a principal estratégia hoje é testar drogas já existentes.

Remdesivir, cloroquina, atazanavir, ritonavir, lopinavir… Por trás de cada remédio há uma tropa de cientistas tentando descobrir sua eficácia contra a Covid-19 — e seus efeitos colaterais. Criado originalmente para combater o surto de ebola na África entre 2013 e 2016, o remdesivir ganhou aos poucos os holofotes. Enquanto o mundo apostava as fichas na cloroquina, o remdesivir foi testado, com sucesso, no tratamento de 14 pacientes infectados em fevereiro no navio Diamond Princess, que saiu de uma quarentena na costa do Japão com mais de 700 passageiros e tripulantes contaminados.

O vazamento, no final desta semana, do resultado de um teste bem sucedido do medicamento provocou ânimo nos Estados Unidos. O site médico STAT News obteve um vídeo em que pesquisadores da Universidade de Chicago comentavam um ensaio clínico feito na instituição. Os cientistas deram o remédio a pacientes que apresentavam sintomas respiratórios graves e febre. Quase todos conseguiram deixar o hospital após menos de uma semana de tratamento. Em nota, a Giilead, famacêutica também envollvida na pesquisa, foi cautelosa: “A totalidade dos dados precisa ser analisada para tirar conclusões do experimento”. Já a Universidade de Chicago ponderou que “dados parciais de um estudo clínico em andamento são, por definição, incompletos, e nunca devem ser usados para tirar conclusões”.

Entre os pesquisadores debruçados sobre o antiviral produzido pela Gilead está André Kalil, professor da Universidade de Nebraska. Em entrevista ao jornal The New York Times, Kalil ponderou que não se sabe se o remdesivir chegará ao pulmão em uma concentração suficiente para tratar as lesões provocadas pela Covid-19. Tampouco são conhecidos seus efeitos colaterais.

Na semana passada, porém, um artigo publicado pela revista científica The New England Journal of Medicine também deu um alento. Um teste reunindo dados de 53 pacientes dos Estados Unidos, da Itália, do Japão e do Canadá mostrou que 68% apresentaram melhoras após o uso do remdesivir. Os próprios autores do experimento foram cuidadosos e reconheceram que serão necessários mais ensaios clínicos. “Apesar de não ser definitivo, acredito que esse é o medicamento mais promissor“, avaliou Roberto Pecoits-Filho, professor da Escola de Medicina da PUC-PR e investigador principal do centro de pesquisas Epicenter. Líder científico na Américas do George Institute for Global Health, sediado na Austrália, Pecoits-Filho conduz ensaios clínicos há 15 anos para medicamentos ligados a doenças como diabetes e hipertensão.

A insistência em testar remédios já disponíveis é explicada pelo fato de eles serem uma espécie de atalho. Todos os medicamentos, até chegarem aos pacientes, cumprem uma longa trajetória. Na fase pré-clínica, pesquisadores testam em computador a estrutura físico-química de moléculas e seu potencial de ação em relação a enfermidades. Os exames laboratoriais ocorrem na fase in vitro e, depois, na in vivo. Nesta, podem ser usados animais como roedores e macacos para averiguar a possível toxicidade das substâncias estudadas. Em seguida, vem o ser humano, em um levantamento dividido em três fases que, somadas, podem durar uma década. Na primeira etapa, os fármacos são testados apenas em pequenos grupos, de até 100 pessoas, todas saudáveis. O objetivo é conferir a dosagem ideal e os possíveis efeitos colaterais. Cerca de 70% dos potenciais medicamentos conseguem evoluir para o passo seguinte, que reúne um grupo maior de pacientes. Apenas 30% das drogas que atingem esse estágio evoluem para o terceiro passo, onde são mescladas pessoas saudáveis e doentes — um grupo receberá a droga estudada; o outro, placebo. No caso dos remédios já existentes, é possível pular diretamente para essa última fase.

A cloroquina, usada no tratamento de doenças como lúpus e malária e sempre citada pelo presidente Jair Bolsonaro, é a segunda droga na lista das com mais chances contra a Covid-19. Seus efeitos ainda estão sendo medidos em várias partes do mundo, inclusive no Brasil e, assim como no caso do remdesivir, não há nada definitivo. Há relatos de que o remédio poderia reduzir o tempo médio de permanência de pacientes graves em centros de tratamento intensivo, mas faltam dados comprovados sobre uma eventual redução da letalidade. Para Gustavo Mendes Lima Santos, gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o uso de drogas como o remdesivir e a cloroquina é promissor, mas precisa ser visto com ressalvas. “Conhecemos sua toxicidade, mas é fundamental termos uma estatística robusta. Estamos falando de testes que precisam envolver 400, até 1.000 pessoas, de diferentes idades, condições, estágios da doença”, disse.

Na corrida para adaptar um remédio existente ou chegar a um novo medicamento, alguns países estão mais à frente e outros no pelotão de trás. Constantemente vítimas de cortes orçamentários, as instituições de pesquisa brasileiras estão no grupo retardatário. “Temos capacidade científica, mas não infraestrutura”, disse Núbia Boechat, vice-diretora de Educação, Pesquisa e Inovação do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), da Fiocruz, voltado à produção de medicamentos. “Enfrentamos dificuldades para apresentar projetos, como o alto custo e a demora para conseguir a importação de insumos. Também é difícil manter estudantes de pós-graduação em nossas equipes, porque o pagamento das bolsas de estudos está sempre atrasado”, lamentou.

Um dos empecilhos para a produção de remédios por aqui é a lentidão para analisar o resultado das pesquisas. No Brasil, a proposta de novos medicamentos passa pelo crivo de dois órgãos do governo federal: a Anvisa, responsável por assuntos técnicos, e o Conselho Nacional de Saúde (Conep), que avalia a ética dos protocolos. Cada um tem seu ritmo, resultando em um processo mais moroso. A gestão ética nos Estados Unidos é descentralizada, ficando sob o guarda-chuva de estados e instituições locais. Ao governo federal cabe a regulação dos medicamentos, feita pela agência FDA (Administração de Drogas e Alimentos, em tradução livre).

Outro obstáculo à fabricação de remédios no Brasil é a dificuldade para recrutar voluntários para pesquisas clínicas. Nos Estados Unidos, os participantes saudáveis da primeira fase dos experimentos são remunerados. Dependendo da droga que está sendo desenvolvida, podem embolsar até US$ 2.500. No Brasil, essa prática ainda é proibida pela legislação. Com tudo isso somado, fica claro que dificilmente seremos protagonistas nos esforços internacionais contra o novo coronavírus.

FONTE: ÉPOCA

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