A região leste de Mato Grosso, que tem registrado os mais fortes crescimentos de plantio de soja no Estado líder em produção de grãos do Brasil, deverá ter novamente em 2017/18 uma grande safra, com potencial de superar a temporada passada, marcada por produtividades recordes, apesar de intensas chuvas agora na colheita.
A avaliação é da Agroconsult, consultoria que organiza o Rally da Safra, expedição técnica que rodou 7.500 quilômetros pela região leste na última semana, avaliando as produtividades da área que representa quase um quarto do total plantado em Mato Grosso.
A safra atual não foi perfeita como a do ano passado– houve atraso no plantio e períodos prolongados de nebulosidade, além de chuvas que preocupam os produtores neste momento de colheita. Mas ainda assim o crescimento da área plantada e lavouras com elevados rendimentos devem mais do que compensar algumas perdas e menores produtividades em outras plantações.
“Eu digo que é melhor (a safra). Tem esse problema de chuva na colheita agora, de fato é um problema, mas tem potencial para ser melhor do que o ano passado” afirmou o sócio-analista da Agroconsult, André Debastiani, em entrevista à Reuters.
A área plantada de soja no leste mato-grossense cresceu em média 15 por cento ao ano nos últimos dez anos, segundo dados da consultoria, índice muito superior às demais regiões do Estado, que cresceram entre 2 e 5 por cento ao ano, com as lavouras avançando sobre pastagens e não em novas áreas desflorestadas.
“Não existe desmatamento mais, é tudo em cima de pasto. Não se consegue liberação para desmatar, por mais que esteja dentro da lei…”, comentou Debastiani, sobre a dificuldade para se obter autorizações para aberturas de áreas em uma das regiões mais próximas ao Parque Indígena do Xingu.
Assim, o forte crescimento do plantio na região leste –em um Estado que representa 27 por cento de toda a safra do país, estimada preliminarmente pela Agroconsult em um recorde de 117,5 milhões de toneladas– ocorre muito pela proliferação de arrendamentos de terras pertencentes a pecuaristas que vinham desenvolvendo atividade sem muito investimento e viram uma oportunidade de arrendá-las para o cultivo de soja.
A região, que conta com condições logísticas ainda bastante deficitárias, também está atraindo produtores que já se posicionam diante de diversos projetos de rodovias e de uma ferrovia que poderiam no futuro reduzir custos de produção.
Debastiani, que esteve na região pela primeira vez há mais de 10 anos, admite que as condições de algumas estradas melhoraram nos últimos anos, o que também ajudou a viabilizar o crescimento das lavouras.
Atualmente, a nova fronteira agrícola do leste do Estado –com municípios como Querência, Gaúcha do Norte, Nova Xavantina, Ribeirão Cascalheira, entre outros– totaliza mais de 9 milhões de hectares, ficando atrás apenas da já tradicional região do Médio-Norte.
A participação da área plantada dessa região no Estado passou de 10 por cento para 22 por cento na última década, e hoje já é a segunda mais importante do Mato Grosso, tendo ultrapassado as regiões Oeste e Sudeste, segundo a Agroconsult.
Apesar das perspectivas positivas em geral, Debastiani ressaltou que nesta temporada a colheita na região leste está atrasada por chuvas, o que pode impactar o plantio da segunda safra de milho, que começa a ganhar importância na área, com cerca de 500 mil hectares plantados.
SEM EUFORIA
O especialista da Agroconsult também destacou que há casos de perdas por excesso de chuvas, mas que o tamanho do problema ainda é difícil de ser dimensionado, ainda mais porque as condições logísticas deficitárias da região acentuam as dificuldades, uma vez que muitas estradas ainda não contam com pavimentação.
“Tem produtor colhendo com excesso de umidade e algumas áreas perdidas, isso está acontecendo com vários produtores. E tem uma coisa que agrava a situação que é a questão logística, tem produtor que está o dia inteiro trabalhando para desatolar caminhão e a soja está passando do ponto de colheita”, afirmou Debastiani.
Ele lembrou que muitas lavouras com ótimas produtividades, de cerca de 80 sacas por hectare, compensam os problemas em outras áreas.
De forma geral, o analista estimou que a média de produtividade da região pode ficar em 54 sacas por hectare, um nível relativamente elevado, mas que numa área de fronteira agrícola, com custos logísticos mais altos e despesas com arrendamentos, pode não ser suficiente para que alguns produtores obtenham lucros necessários para viabilizar investimentos.
“Então, diria que o sentimento não é de euforia não”, destacou o analista, lembrando dos custos com arrendamentos na região e que uma área de soja nova demora até cinco anos para atingir o seu potencial produtivo.
O Rally da Safra, maior levantamento da safra de grãos do Brasil, está percorrendo lavouras das regiões produtoras do país desde janeiro. Ao final, os especialistas devem apresentar dados verificados a campo sobre as produtividades das plantações.
FONTE: REUTERS
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