Regionais / Amazônia

Projeto que valoriza cadeias produtivas sustentáveis beneficia mais de 30 mil pessoas na Amazônia

Iniciativa atua desde 2015 na promoção do desenvolvimento econômico da região amazônica de modo sustentável

Contribuir para a conservação da biodiversidade e melhoria da qualidade de vida das populações indígenas e tradicionais da Amazônia brasileira. Esse é o objetivo do projeto Cadeias de Valor Sustentáveis, iniciativa fruto de um acordo de cooperação internacional entre a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e o governo brasileiro, que apenas em 2022 beneficiou socioeconomicamente mais de 30 mil pessoas na região amazônica. O projeto atua para solucionar os gargalos de quatro cadeias de valor de produtos extrativistas da sociobiodiversidade: castanha-da-amazônia, pirarucu, açaí e madeira de manejo comunitário.

A iniciativa atua desde 2015 para gerar benefícios socioeconômicos e aprimorar ferramentas para que as populações da Amazônia possam aumentar a governança sobre os recursos naturais em seus territórios, promovendo desta forma o desenvolvimento econômico da floresta, de modo sustentável. Em 2022, o projeto alcançou a marca de 2.407.141 hectares sob gestão aprimorada, capacitou 143 organizações de base comunitária e ajudou esses grupos a estabelecer 100 relações comerciais.

Segundo Pedro Constantino, consultor do Serviço Florestal dos Estados Unidos e coordenador do projeto Cadeias de Valor Sustentáveis, a iniciativa proporcionou o empoderamento de pessoas e organizações representativas dos povos tradicionais beneficiados. “Esse aumento de poder é resultado do crescimento de receita pela venda dos produtos, aumento da organização social, valorização e reconhecimento do trabalho, maior domínio de técnicas e processos, e maior capacidade de negociação, entre outros aspectos”, afirma.

A iniciativa atua em todos os elos das cadeias de valor: manejo, pré-beneficiamento, beneficiamento, comercialização e consumo. Em cada um desses elos, o projeto aplica estratégias, como capacitação para a gestão do território e dos recursos dentro das comunidades; incentivo à organização socioprodutiva e participação feminina; qualificação dos comunitários por meio de cursos de boas práticas e gestão; investimento na infraestrutura e logística para processamento,  armazenamento e transporte do produto; desenvolvimento de novos produtos e tecnologias; aprimoramento de políticas públicas; aplicação de preços justos na hora de comercializar os produtos; marketing dos produtos; entre outras.

O gerente de projeto da USAID,  Alex Araújo, destaca a importância da promoção do desenvolvimento sustentável aliado à qualidade de vida das populações amazônicas. “A USAID entende que o apoio a modelos econômicos que protejam a biodiversidade e apresentem alternativas sustentáveis para melhorar a qualidade de vida das populações locais é fundamental para o futuro da Amazônia”.

*A força da castanha-da-amazônia*

Dentro da cadeia produtiva da castanha-da-amazônia, um dos principais produtos do extrativismo na região amazônica, o Cadeias de Valor Sustentáveis realizou capacitações e intervenções diretas para arranjos produtivos e comerciais em áreas protegidas. O projeto implementou o curso Formar Castanha, através do qual foram trabalhados conteúdos, como as boas práticas de produção na floresta e na agroindústria, a  gestão administrativo-financeira de associações e cooperativas comunitárias atuantes na cadeia. Também foram estruturadas iniciativas produtivas com a qualificação de processos de compra, produção, escoamento e comercialização da castanha.

Os resultados se deram principalmente nas Reservas Extrativistas (Resex) do Rio Cautário e do Rio Ouro Preto, e nas terras indígenas (TI) Rio Branco e Igarapé Lourdes, no Estado de Rondônia. Entre eles, destaque para o benefício gerado à aproximadamente 700 castanheiros envolvidos no projeto ao longo de um ano. Em sete anos, a iniciativa liderada pelo Pacto da Águas apoiou a produção de aproximadamente 1,7 mil toneladas de castanha in natura coletadas de mais de 21 mil árvores de quase 150 castanhais nesses quatro territórios. A venda da produção, em média de todos os anos, por R$ 4,64 o quilo, gerou uma receita de quase R$ 8 milhões para os castanheiros.

A atuação do projeto junto ao poder público, setor privado e associações inspirou a formação de redes atuantes na cadeia da castanha, como a Rede da Floresta, o Observatório da Castanha e o Semear Castanha. O projeto Cadeias de Valor Sustentáveis também apoiou usinas de base comunitária de beneficiamento da castanha-da-amazônia no estado do Amazonas: a Cooperativa Mista Agroextrativista do Rio Unini (COOMARU) e a usina da Associação dos Agropecuários de Beruri (ASSOAB).

O papel das mulheres ganha destaque em todo o trabalho realizado pela ASSOAB, que gera emprego para 40 mulheres ao longo do ano. A associação tornou-se, em 2020, a primeira usina de castanha de base comunitária do Estado do Amazonas a ser licenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para exportação da castanha beneficiada. Com isso, ela é a única usina de base comunitária regulamentada para exportação no Brasil.

*Valorização do pirarucu*

Na cadeia produtiva do pirarucu, os esforços foram priorizados no desenvolvimento da atividade do manejo comunitário realizado em áreas protegidas e na elaboração e implementação de acordos de pesca, com a valorização da espécie e promoção da cadeia de valor de forma mais justa.

A partir de um amplo diagnóstico realizado em 2016, o projeto e parceiros traçaram estratégias para fortalecer os grupos manejadores, assegurar a sustentabilidade do manejo, modificar as relações comerciais entre manejadores e compradores, melhorar o preço pago pelo peixe ao manejador, aprimorar a qualidade do produto e buscar novos mercados.

Fruto deste esforço, numa lógica de qualificar discussões e estratégias voltadas para o manejo considerando a participação direta das populações manejadoras, formou-se, então, o Coletivo do Pirarucu, fórum composto por organizações de base comunitária que realizam o manejo do pirarucu e por organizações da sociedade civil de assessoria – com o apoio de órgãos do governo como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O Coletivo do Pirarucu representa 36% das áreas de manejo do pirarucu no Amazonas. A comercialização desse pescado resulta em aproximadamente 50% da receita gerada para as famílias extrativistas pelo manejo do pirarucu no estado.

“O Coletivo do Pirarucu proporcionou um espaço ímpar. A formação dessas redes capazes de olhar a cadeia como um todo e decidir como atuar estrategicamente é fundamental”, aponta Pedro Constantino.

Ao longo do projeto  Cadeias de Valor Sustentáveis também foi desenvolvida a marca coletiva Gosto da Amazônia para levar o pirarucu de manejo para novos mercados no Brasil. Em três anos de implementação da estratégia, o pirarucu passou a ser vendido para o mercado privado no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Recife e interior de Minas Gerais.

O investimento para aumentar a visibilidade do produto fora da Amazônia e a capacidade de remunerar melhor os manejadores fez com que os compradores tradicionais passassem a pagar melhor seus fornecedores. Essa mudança levou ao surgimento de outros arranjos comerciais, que passaram a divulgar os valores ambientais e sociais do manejo do pirarucu.

*Açaí fortalecido*

Dentro da cadeia do açaí, a estratégia do Cadeias de Valor Sustentáveis priorizou o investimento nas cadeias curtas do açaí, nas quais o consumo do produto final é realizado próximo às áreas de extrativismo. Assim, o projeto e seus parceiros atuaram dando assessoria para as comunidades no mapeamento do potencial produtivo dos açaizais; oficinas e capacitação em boas práticas para coletores em técnicas de escalada e segurança do trabalho; capacitação em boas práticas de beneficiamento para as famílias envolvidas nas atividades; e, também, para a gestão de empreendimentos comunitários para aqueles representantes que assumiram a liderança dos negócios.

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O projeto ainda apoiou a construção de agroindústrias, aquisição de equipamentos de proteção individual para a atividade de coleta do açaí, possibilitando melhores condições de segurança para o manejador.

Também promoveu a aquisição de equipamentos, quadriciclos e outros meios de transporte de forma a estruturar e otimizar aspectos logísticos do manejo dos açaizais.

As mulheres e os jovens maiores de 16 anos assumiram o protagonismo fundamental na gestão e na operação da agroindústria da Associação Doá Txatô, que gere a agroindústria da TI Rio Branco, em Rondônia. Recém-inaugurado e regularizado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o empreendimento desenvolveu a marca Do´açaí, e já fornece polpa para as lojas e mercados de Alta Floresta d’Oeste, em Rondônia, que compram antes mesmo de iniciar a coleta, dada a alta demanda pelo produto na cidade.

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Essas intervenções ocorreram principalmente em áreas de ocorrência do açaí-solteiro, dentro das Resex Cazumbá-Iracema (AC), Lago do Cuniã (RO), Lago do Capanã Grande (AM) e Ituxi (AM); e nas TI Rio Branco (RO) e Caititu (AM). As Resex Arióca Pruanã, Terra Grande-Pracuúba e Mapuá, no Pará, áreas de ocorrência do açaí-de-touceira, também receberam apoio.

*Madeira de manejo florestal comunitário*

O projeto Cadeias de Valor Sustentáveis atuou para transformar o cenário local na participação das comunidades e aumentar a governança dos manejadores e organizações que operam os planos de manejo florestal comunitário nas Resex. Em parceria com o Serviço Florestal Brasileiro, o projeto apoiou a execução dos planos de manejo florestal na Resex Verde para Sempre, no Pará. A comunidade que fazia o manejo madeireiro há mais tempo foi capaz de certificar e manter 70% de sua produção com o selo FSC, que garante ao comprador a origem da madeira de manejo ecologicamente adequado, socialmente justa e economicamente viável.

Dentro da Resex Verde para Sempre, a iniciativa ainda alcançou os seguintes resultados: fortalecimento organizacional e operacional de seis Planos de Manejo Florestal Sustentável e comunidades envolvidas; realização de contratos com sete empresas madeireiras diferentes, aumentando a capacidade de negociação das cooperativas e associações; aumento da produção de pouco mais de 8 mil m³ no primeiro ano de apoio para mais de 24 mil m³ em 2020; aumento, a partir do crescimento da produção, da receita dos empreendimentos comunitários de pouco mais de R$ 1 milhão para mais de R$ 7 milhões; aprimoramento das técnicas de manejo e organização social promovida pela articulação dos grupos de manejadores e manejadoras, o que resultou, também, no aumento dos preços médios pagos pelo metro cúbico de madeira, passando de cerca de R$ 160 para em média de R$ 285.

Um dos avanços obtidos, por meio dos esforços empreendidos para o fortalecimento do manejo florestal comunitário, foi a abertura do diálogo entre comunidades, governos e organizações parceiras para planejarem e decidirem, juntos, o que e como manejar.

“Acredito que o maior legado seja a perspectiva de que existem atividades extrativistas sustentáveis que podem garantir a conservação da Amazônia, o desenvolvimento, e o bem-estar social simultaneamente. E que essas iniciativas precisam ser conhecidas e valorizadas pela sociedade e governo, inclusive, por meio de subsídios e incentivos”, avalia o coordenador Pedro Constantino.

*Sobre o projeto*

O Cadeias de Valor Sustentáveis nasceu de um acordo de cooperação internacional entre a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e o governo brasileiro, e é apoiado, financiado e orientado por diversos atores, incluindo o Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB).

Além desses, oito organizações da sociedade civil atuam em parceria nas quatro cadeias selecionadas: Memorial Chico Mendes, Instituto Floresta Tropical, Operação Amazônia Nativa, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Pacto das Águas, Fundação Vitória Amazônica, Associação dos Agropecuários de Beruri e Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro.

FONTE: ASSESSORIA

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