Cidades

Professor Readaptado: Quando a Sala de Aula se torna um campo de batalha -Por Joelson Chaves de Queiroz

Exaustão, doenças físicas e mentais, abandono da profissão. A realidade dos professores readaptados revela uma tragédia silenciosa no magistério brasileiro.

Ana, 52 anos, foi professora de língua portuguesa por mais de duas décadas em uma escola pública. Entre planejamentos, provas e gritos de alunos em salas lotadas, o que parecia ser vocação virou um martírio. Após um diagnóstico de transtorno de ansiedade severa e lesões na coluna, foi readaptada — ou seja, afastada da função em sala de aula por não ter mais condições físicas ou psicológicas de ensinar.

Hoje, ela realiza tarefas administrativas na escola. “É como ser esquecida. A gente perde a identidade como educador, a autoestima e as gratificações que vinham com a função em sala”, conta Ana.

Casos como o dela se multiplicam. O número de professores readaptados tem crescido nos últimos anos, impulsionado pela sobrecarga de trabalho, falta de valorização e ausência de políticas eficazes de prevenção à saúde do servidor público da educação.

A jornada estafante que adoece

O regime de trabalho de muitos docentes beira o insustentável: jornadas duplas ou triplas, tempo extra de trabalho em casa, salas superlotadas e pressões constantes por resultados. De acordo com dados do Censo Escolar e estudos de entidades como a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), mais de 40% dos professores da rede pública já relataram sintomas de depressão ou ansiedade.

Além do desgaste emocional, há o físico: problemas de coluna, voz, pressão arterial e distúrbios de sono são comuns. Muitos desses profissionais acabam readaptados, sem uma política clara de reinserção ou valorização.

Readaptação: solução temporária ou abandono definitivo?

O professor readaptado deixa de atuar em sala de aula, mas segue no ambiente escolar. No entanto, a nova função muitas vezes não é bem definida. “Ficamos à mercê da direção, sem um plano de carreira, sem reconhecimento e com medo do futuro”, afirma João Carlos, readaptado após desenvolver Síndrome de Burnout.

Ao se aposentar, o professor perde diversas gratificações que compõem o salário em atividade, o que reduz drasticamente a renda. Sem um plano de cargos e salários que contemple a readaptação e proteja o servidor, muitos enfrentam insegurança financeira.

O futuro da profissão em risco

A falta de perspectiva faz com que muitos desistam da carreira. Jovens que ingressam no magistério acabam se desmotivando ao observar colegas adoecidos e desvalorizados. “É uma tragédia silenciosa”, resume a pedagoga e pesquisadora Maria Lúcia Furtado, da UFRJ. “Estamos perdendo professores experientes, sem cuidar de quem fica e sem atrair novos talentos.”

O que pode ser feito

O SINPROF defende a criação de um Plano de Cargos e Salários específico para os professores, que garanta:

# Valorização salarial com manutenção de gratificações ao se aposentar;

# Redução da carga horária;

# Funções bem definidas e compatíveis com as capacidades de cada servidor;

# Apoio psicológico contínuo e programas de reabilitação e prevenção;

# Acompanhamento e reinserção de forma humanizada.

Enquanto isso não ocorre, histórias como a de Ana continuam sendo realidade para milhares de professores no país.

“Não sou mais a mesma, e a educação também não será se continuarmos tratando quem ensina como descartável.”

A LUTA CONTINUA.

PROFESSOR JOELSON CHAVES DE QUEIROZ  SECRETÁRIO GERAL DO SINPROF , SINDICATO DE PROFESSORES NO ESTADO DE RONDÔNIA.

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