O metabolismo de uma vaca de elevada produção de leite assemelha-se ao de um atleta de alta performance. Ambos ingerem e consomem quantidades elevadíssimas de alimentos e nutrientes.
No caso da vaca leiteira, surge um desafio ainda maior: manter a sanidade e a atividade reprodutiva a pleno vapor, uma vez que a produção de leite é resultante natural do ciclo reprodutivo e consequente processo de parto desses animais.
A exemplo dos atletas que estão em constante evolução, as vacas leiteiras também são desafiadas a produzir cada vez mais, como forma de melhorar sua eficiência alimentar, econômica e ambiental (pegada de carbono, dentre outras).
Para tanto, do ponto de vista alimentar e nutricional, utilizam-se de duas ferramentas básicas para aumentar a produção de leite: elevação da densidade nutricional e/ou incremento da ingestão de alimentos (matéria seca) das dietas.
Do ponto de vista prático, há enriquecimento contínuo na qualidade da dieta com busca simultânea pelo aumento do volume ingerido.
Dessa forma, como monitorar e ajustar essas variáveis, sustentando o aumento da produção de leite, a sanidade e, o que é mais importante, a reprodução das vacas leiteiras?
A chave pode estar no monitoramento do equilíbrio nutricional e metabólico desses animais. Toda vez que a vaca se encontra em desequilíbrio surgem as doenças metabólicas, tais como a cetose, o balanço energético negativo, a acidose e, ainda, a SARA (acidose subaguda ruminal).
Cada uma delas tem causa e características específicas. A cetose, por exemplo, está relacionada à mobilização de reservas corporais (para mantença, produção de leite etc.), que passam pelo fígado para produção de glicose e que produzem os chamados corpos cetônicos (presentes no sangue e no leite desses animais).
Já o balanço energético negativo está relacionado ao déficit de energia resultante da elevada demanda produtiva versus a insuficiente ingestão de alimentos, bastante comum no período inicial de lactação, especialmente no pico de produção de leite.
A acidose é a doença gerada pela elevada ingestão de concentrados e grãos na dieta, que levam ao decréscimo do pH pelo aumento da produção de ácido láctico no rúmen, com impactos negativos na produção, composição do leite, em especial na sanidade de cascos desses animais e, ainda, na reprodução.
Por fim, a SARA também é uma doença com quadro de acidose, porém advinda da ingestão de alimentos altíssima digestibilidade (forragens e/ou pastagens bem jovens e verdes, grão de trigo, cevada etc.), que levam à queda prolongada de pH e ao aumento da produção de ácidos graxos voláteis no rúmen.
Essas quatro doenças metabólicas têm duas características em comum: alteram a produção e a composição do leite produzido e têm efeitos negativos na sanidade e na reprodução dos animais.
O monitoramento da incidência dessas doenças nas vacas leiteiras pode ser feito por controle leiteiro e análise individual do leite das vacas em lactação. Além disso, há como correlacionar o equilíbrio nutricional com o desempenho reprodutivo desses animais.
Vale ressaltar que, nesse caso, o controle é pleno (100% do rebanho em lactação) e atualizado periodicamente – normalmente é feito a cada 30 dias, ou seja, mensalmente.
E é exatamente isso que o Programa Gerenciamento 360 (G-360) tem feito de maneira pioneira e inédita no Brasil, desde 2019, nas principais unidades produtoras.
Os resultados reais de vários rebanhos leiteiros acompanhados pelo programa no Brasil mostram situação surpreendente e preocupante, conforme pode ser visto abaixo.
Constatamos três fatos sobre a realidade do equilíbrio nutricional de rebanhos analisados no país: 1) elevada incidência de doenças metabólicas; 2) variação muito grande entre as fazendas; e 3) percentual muito baixo de vacas liberadas, ou seja, sem a incidência de uma ou mais doenças metabólicas.
Quando se analisou o desempenho reprodutivo nesses mesmos rebanhos, pôde-se constatar a estreita relação existente com o equilíbrio nutricional, como pode ser visto abaixo:
Para que haja sintonia fina entre a produção e a reprodução, é imprescindível que as vacas leiteiras estejam em equilíbrio nutricional.
Portanto, o monitoramento e a manutenção do equilíbrio nutricional dos animais são peças-chave para o bom desempenho reprodutivo e a manutenção da sanidade do rebanho.
Com isso, é possível compatibilizar a elevada produção de leite com vacas saudáveis, que se reproduzem normalmente, o que aumenta (e muito) a eficiência, a rentabilidade e sustentabilidade de todo o processo produtivo na fazenda.
* Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Especialização em Economia e Marketing (FGV/SP) e Gerente da Unidade de Bovinos da Auster Nutrição Animal
FONTE: ASSESSORIA TEXTO COMUNICAÇÃO
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