Cidades

Prefeito que proibiu livros didáticos com união gay em RO é processado

Thiago Flores havia anunciado supressão de conteúdo em Ariquemes.
Prefeito e sete vereadores podem perder os cargos, segundo o MPF.

O prefeito Thiago Flores e sete vereadores do mesmo município foram processados pelo Ministério Público Federal (MPF) e Ministério Público Estadual (MP-RO) por mandarem suprimir páginas de livros escolares com casamento homossexual, em Ariquemes (RO). Segundo a ação, o executivo e legislativo vão responder por improbidade administrativa. Se condenados, Flores e os vereadores podem ser afastados dos cargos e ainda podem ter que pagar multa de R$ 2 milhões por danos morais ao município, União e sociedade.

A assessoria do prefeito foi procurada pelo G1, mas não respondeu sobre o processo até o fechamento da reportagem. A ação é movida pelos Procuradores da República Reginaldo Trindade e Raphael Bevilaqua e pelas promotoras de Justiça Joice Gushy Mota Azevedo e Priscila Matzenbacher.

O motivo da ação civil pública contra o prefeito e vereadores, segundo os autores do processo, é pelo recolhimento de livros didáticos fornecidos pelo Ministério da Educação (MEC) com a intenção de arrancar ou censurar páginas que mostram diversidade familiar e de gênero.

Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (22), o procurador Reginaldo Trindade explicou que os réus praticaram improbidade administrativa, ato de censura ilegal e estimularam a homofobia, ignorando e afrontando os princípios constitucionais de construção de uma sociedade livre, justa e solidária, sem preconceito e discriminação.

Segundo a promotora Priscila Matzenbacher, os alunos são prejudicados pela falta do livro e a sociedade, como um todo, foi incitada a um levante de violência.

Livro vetado mostra foto de 1° casal gay a adotar criança no  Brasil (Foto: Rede Amazônica/ Reprodução)
Livro vetado mostra foto de 1° casal gay a adotar criança no Brasil (Foto: Rede Amazônica/ Reprodução)

Caso
Em janeiro deste ano, o prefeito Thiago Flores recebeu um requerimento parlamentar para recolhimento dos livros. Segundo o Ministério Público, sete vereadores usaram argumentos inverídicos e homofóbicos para embasar o pedido e Flores aproveitou para promover-se pessoalmente e explorar a discussão politicamente, criando para isso uma enquete virtual e popular na Internet.

Segundo o MPF, a enquete não esclarecia nem mostrava os conteúdos dos livros, tampouco apontava os motivos sobre a escolha deles pela escola e pelos professores. Os votantes internautas sequer conheciam exatamente o conteúdo dos livros.

Para o Ministério Público, a enquete “transformou-se em um debate superficial, agressivo, discriminatório e injurioso contra a comunidade LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros) estimulado pelo próprio poder público”. Com o resultado da enquete, o prefeito determinou o recolhimento dos livros.

Ação foi divulgada nesta quarta-feira, 22, durante coletiva à imprensa no MPF-RO (Foto: Toni Francis/G1)
Ação foi divulgada nesta quarta-feira, 22, durante coletiva à imprensa no MPF-RO (Foto: Toni Francis/G1)

O Ministério Público analisou os livros e constatou que “em nenhum momento os livros apresentam matéria tendenciosa ou incitadora de sexualidade precoce, homossexualismo ou mesmo apologia à homoafetividade, apenas apresenta diversidade familiar, demonstrando as diferentes formas de constituição das famílias e ressaltando sua importância para a formação dos indivíduos”.

Thiago Flores (Foto: Ana Claudia Ferreira/ G1)
Thiago Flores foi processado pelo MPF por causa de livros (Foto: Ana Claudia Ferreira/ G1)

Antes de ingressarem com a ação civil pública, MPF e MP-RO tentaram resolver a questão de forma extrajudicial, expedindo uma recomendação pela promotoria de defesa dos direitos humanos.

Ação
Todos os citados na ação vão ser julgados e podem ser condenados às penalidades da Lei de Improbidade Administrativa, que inclui a perda do cargo.

Eles também podem ser condenados a pagar indenização por danos morais sofridos pelo Município de Ariquemes, pela União e pela própria sociedade. O valor mínimo pedido de indenização é de R$ 2 milhões por terem causado prejuízos aos alunos e também à comunidade LGBTT.

Fonte: G1

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